Defender a soberania da Venezuela é defender a soberania da América Latina!
- Yuri Chamma
- há 3 dias
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A Rússia iniciou a retirada das famílias de seus diplomatas na Venezuela em meio à intensificação da ofensiva imperialista dos Estados Unidos contra o país sul-americano. A informação foi divulgada pela agência norte-americana Associated Press (AP), que cita fontes ligadas à inteligência europeia e observa uma movimentação atípica na embaixada russa em Caracas.
Segundo a reportagem, esposas e filhos de diplomatas russos começaram a deixar o país nos últimos dias, enquanto os funcionários permanecem em seus postos. A medida, embora apresentada de forma discreta, é amplamente interpretada como um sinal de agravamento da situação política e militar na região, impulsionada pela escalada de sanções, ameaças e bloqueios promovidos pelos Estados Unidos contra o governo venezuelano.
A Associated Press, ainda, relata que veículos com placas diplomáticas russas foram vistos saindo da embaixada em Caracas, em um contexto no qual autoridades russas estariam avaliando o cenário venezuelano de forma “sombria”. A retirada preventiva de familiares é um procedimento comum em momentos de instabilidade aguda ou risco de confronto aberto, especialmente em países sob cerco imperialista.
Embora Moscou figure como um dos principais aliados internacionais do governo de Maduro, o episódio revela também os limites objetivos dessa aliança dentro da lógica da disputa interimperialista. A retirada das famílias de diplomatas não significa ruptura com Caracas, mas indica que a Rússia não está disposta a assumir riscos diretos diante de uma possível escalada militar liderada pelos Estados Unidos em seu “quintal estratégico”. O chanceler venezuelano Yván Gil afirmou recentemente que o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, reiterou apoio político à Venezuela frente às agressões norte-americanas. No entanto, como demonstra a própria história recente, nenhuma potência imperialista atua movida pela solidariedade entre povos, mas sim por seus próprios interesses estratégicos, econômicos e militares.
Enquanto diplomatas evacuam seus familiares e governos calculam riscos, o principal alvo da ofensiva ianque continua sendo o povo venezuelano. O bloqueio econômico, as sanções e a ameaça constante de intervenção continuam sendo as mais cruéis armas de guerra, pois aprofundam a pobreza, dificultam o acesso a alimentos, medicamentos e energia. A retirada das famílias de diplomatas russos, noticiada pela AP, é mais um indicador de que a Venezuela segue sob forte pressão internacional. Mais do que um episódio diplomático, o fato expõe a natureza sempre agressiva do imperialismo estadunidense e a fragilidade das alianças entre Estados no interior do sistema imperialista mundial.
Esta movimentação ocorre paralelamente ao recrudescimento da agressão dos Estados Unidos contra a Venezuela. Washington ampliou recentemente operações militares no Caribe, intensificou o bloqueio econômico e passou a interceptar navios ligados ao setor petrolífero venezuelano, aprofundando uma política de asfixia econômica que já dura mais de uma década.
Essas medidas, apresentadas pela Casa Branca como “defesa da democracia”, cumprem na prática o papel clássico do imperialismo: estrangular economicamente países semicoloniais e coloniais, provocar instabilidade interna e abrir caminho para mudanças de regime alinhadas aos interesses do capital financeiro internacional. Para sustentar essa ofensiva, os Estados Unidos recorrem à criminalização política de “governos inimigos”, mobilizando a retórica do “combate ao narcotráfico” como instrumento da assim chamada “guerra híbrida”. Nesse sentido se insere a farsa do chamado “Cartel de los Soles”, uma acusação construída e difundida pelo DEA (Drug Enforcemente Administration) e por agências de inteligência norte-americanas, sem provas concretas, com o objetivo de associar o Estado venezuelano e o presidente venezuelano Nicolás Maduro ao crime organizado e legitimar sanções, bloqueios e ameaças de intervenção. Trata-se de um método conhecido, já aplicado contra o Panamá, a Colômbia, o México e diversos países da América Latina, no qual o narcotráfico funciona como pretexto ideológico para a ingerência imperialista.
A escalada recente não se limita à pressão diplomática e econômica. Nos últimos meses, forças militares dos Estados Unidos realizaram ataques e bombardeios ilegais contra embarcações pesqueiras venezuelanas em águas do Caribe, sob a justificativa de operações “antidrogas”. Essas ações, além de violarem o direito internacional, atingem diretamente trabalhadores do mar, camponeses e comunidades costeiras, aprofundando a guerra não declarada contra o povo venezuelano. O ataque a barcos de pesca evidencia o caráter real da ofensiva, que não se trata de combater crimes, mas de impor terror, desorganizar e pressionar a economia venezuelana e reforçar o cerco militar contra um país que se recusa a submeter-se integralmente aos ditames do imperialismo. A criminalização de pescadores pobres como “traficantes” reproduz a lógica colonial segundo a qual toda resistência é convertida em delito.
Diante dessa ofensiva, cresce na América Latina um sentimento anticolonial profundamente enraizado na memória histórica de golpes, bloqueios, invasões e ditaduras patrocinadas por Washington. Até elementos mais reacionários destas sociedades – com exceções, como o fascista Kast eleito no Chile – manifestam apoio à soberania venezuelana em abstrato ou, pelo menos, se retraem de omitir opiniões, permanecendo calados frente a ameaça imperialista. A Venezuela, no centro desse borbulhão, não aparece isolada, pois sua resistência é vista por amplos setores populares como parte de uma luta continental maior, contra a dominação imperialista e pela autodeterminação dos povos. Apesar do descaso da “comunidade internacional” para com a soberania venezuelana, do Caribe aos Andes, da Amazônia ao Cone Sul, a política de agressão dos Estados Unidos reforça a consciência de que o imperialismo permanece como o principal inimigo comum dos povos latino-americanos. A solidariedade à Venezuela, nesse sentido, ultrapassa governos e se expressa como sentimento de resistência histórica, alimentado pela experiência concreta de exploração, subserviência e violência colonial.
Sendo assim, reafirma-se uma lição fundamental: defender a soberania da Venezuela é defender a soberania da América Latina! A libertação dos povos oprimidos não virá da tutela de potências estrangeiras, mas da organização independente das massas, da luta anti-imperialista consequente e da ruptura com o sistema que produz bloqueios, guerras e subserviência.






