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Abjeto "humanismo" de genocidas

Quatorze mil crianças estão prestes a morrer de fome em Gaza. Foto: Reuters
Quatorze mil crianças estão prestes a morrer de fome em Gaza. Foto: Reuters

Dois diplomatas do Estado terrorista de Israel foram assassinados a tiros, na noite desta quarta-feira, 21, em Washington, após participarem de um ato contra o bloqueio econômico a seu governo em virtude do holocausto de Gaza. O suspeito, segundo testemunhas, teria gritado “Palestina Livre!”, ao ser detido por policiais perto do local do atentado. Instantaneamente, os dois maiores assassinos de nosso tempo, Trump (continuador de Biden nesta seara) e Benjamin Netanyahu – que já trucidou quase cem mil palestinos desde 7 de outubro de 2023 entre bombardeios, fuzilamentos, fome e doenças –, correram a se declarar consternados com a situação, que ambos classificaram como motivada por “antissemitismo”. Neste momento, 14 mil crianças palestinas, que não têm um rosto e um nome individualizados pela imprensa burguesa ocidental, ao contrário dos cidadãos israelenses, sofrem ameaça de morte iminente por desnutrição aguda, e segundo a ONU vinte e nove já perderam as vidas nas últimas horas por esta razão.


Com efeito, olhando todos os governantes que são agentes ou cúmplices do genocídio em Gaza lamentarem como abutres as mortes dos dois diplomatas (e há uma distinção objetiva entre um diplomata e um cidadão civil sem nenhuma relação com seu governo), é inevitável não nos lembrarmos da frase famosa atribuída a Charles Chaplin, segundo a qual um homem que mata outro é considerado assassino, mas o que mata milhões é herói. Chega a ser abjeto ver Donald Trump, associado com o crescimento dos movimentos fascistas, inclusive na sua vertente nazi, nos quatro cantos do mundo, declarar que “o ódio e o radicalismo não têm lugar nos Estados Unidos”, enquanto Netanyahu, o Sanguinário, tenta converter o algoz em vítima, disse que “estamos testemunhando o preço terrível do antissemitismo e da incitação desenfreada contra Israel”. Como se a indignação perante a solução final imposta ao povo palestino, que tem mobilizado inclusive uma parcela considerável dos próprios círculos intelectuais judaicos, também submetidos a sanções e perseguições na Europa e nos Estados Unidos, pudesse ser caracterizada de antissemitismo!


Na verdade, a cumplicidade dos governantes liberais com o genocídio palestino; a indignação que o castigo coletivo imposto a Gaza desperta, associada à admiração pela assombrosa resiliência de seu povo, não pode deixar de alimentar ações desesperadas de solidariedade à causa palestina, ainda que na forma do terrorismo de um lobo solitário. E se, via de regra, o marxismo é pela ação revolucionária de massas, e não por ações isoladas, ele também recusa condenações com base em preceitos morais e anistóricas. O contrário deste tipo de ação dramática é o rompimento absoluto com o Estado sionista e a denúncia das atrocidades perpetradas, insistimos, contra a população civil palestina, quando tanto durante como após o Dilúvio de Al-aqsa a imensa maioria dos alvos israelenses eram militares ou funcionários comprometidos com o seu governo, como no caso de Washignton inclusive. Não pode haver uma espécie de “humanismo seletivo”, isto seria tão somente o cinismo colonialista sistemático, como o do Rei Leopoldo II da Bélgica, considerado um monarca esclarecido, patrono das ciências e das artes, que organizou a colonização, pilhagem e genocídio hediondos dos povos africanos no século XIX. Na verdade, o humanismo liberal está cheio dessas dicotomias, nas quais, afinal, somos todos iguais, mas uns (a depender de sua nacionalidade, cor da pele e classe social) são mais iguais do que outros...


“Ah, mas eu sou contra um estado de coisas em que qualquer pessoa tenha que morrer”, poderia nos dizer uma pessoa bem intencionada, ao que nós responderíamos: “De acordo! Neste caso, meu amigo, participe decididamente da luta contra o imperialismo, a razão não só principal como imediata de todas as guerras. Sem isso, você será ou um ingênuo ou um hipócrita burguês”. Até que exista uma Palestina livre e soberana não pode haver sono tranquilo na face da Terra, seja por dignidade –os que se engajam na luta contra o maior extermínio étnico do século –, seja por medo.

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