Imperialismo, Ultraimperialismo e a ascensão chinesa
- Redação
- 6 de mai.
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Tradução de "Imperialism, Ultra-imperialism and the Rise of China" de Fred Engst, disponível no portal bannedthought.net e publicado originalmente em agosto de 2017.
A crise financeira global que varreu 2008 marcou a ruptura da bolha de "expansão" e a crise da economia capitalista mundial. A ruptura desta bolha é o resultado do sistema imperialista global, liderado pelos imperialistas dos EUA, tentando superar a crise fundamental de superprodução dentro do sistema capitalista. Além de inundar ainda mais seu mercado com dinheiro fácil através da chamada política de "Afrouxamento Quantitativo", em outras palavras, além de expandir ainda mais a bolha financeira, ou exportar a crise, os imperialistas dos EUA não têm outra panaceia.
Nos últimos oito anos ou mais, apesar do remédio mais forte já injetado na economia capitalista, com taxas de juros próximas de zero e quase a duplicação dos déficits governamentais (de 60% para mais de 100% do PIB nos Estados Unidos, por exemplo), as economias desenvolvidas têm definhado no deserto sem qualquer recuperação convincente. Por quais outros meios os capitalistas do mundo podem lidar com a próxima crise econômica inevitável que se avizinha no horizonte?
Desde a crise de 2008, o equilíbrio de poder no mundo também experimentou uma mudança significativa. As opiniões sobre a essência dessa mudança variam significativamente, tanto ao redor do mundo quanto dentro da China.
Por exemplo, nos últimos anos, a recuperação em grande escala de ilhas pela China no Mar do Sul do país é um ato legítimo de autodefesa para restaurar sua própria soberania, ou é um ato de intimidação e ostentação contra seus países vizinhos, enquanto se prepara para a hegemonia imperialista mundial? O impulso pela propriedade mista das empresas atualmente estatais é para avançar na campanha de privatização, tornando a China um alvo mais fácil para as corporações multinacionais ocidentais pisotearem, invadirem e ocuparem, ou é para fortalecer a alavancagem do Conglomerado de Capital Estatal, dando-lhe mais controle sobre um capital maior, para competir melhor no mundo com as potências ocidentais por mercados e recursos?
A recente maré alta de "provocação" pelos trabalhadores ou greves em toda a China é resultado de manipulação por forças estrangeiras hostis, ou é uma manifestação da intensificação da luta de classes doméstica?
A "China Sonhadora" acelera sua própria colonização, ou é um "desejo" imperialista?
Além de alguns poucos nacionalistas "de esquerda" alarmistas que diariamente clamam que "um lobo está vindo", gritando que a China está sendo colonizada, a ascensão da China tornou-se um consenso dificilmente contestado tanto no país quanto no exterior. Até o governo filipino, que sempre seguiu a linha dos imperialistas dos EUA, viu uma mudança no equilíbrio de poder no mundo e aproveitou a rivalidade sino americana para esculpir mais oportunidades de desenvolvimento econômico para seu próprio país.
O estabelecimento do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII), a estratégia do "Cinturão e Rota", ou melhor, "Iniciativa do Cinturão e Rota", desafiam claramente o sistema imperialista mundial existente. Aqueles que vinham soando o alarme sobre a colonização da China tiveram que mudar sua narrativa.
A ascensão da China se tornará uma grande potência marchando em direção ao imperialismo?
Ferrenhos direitistas ou desavergonhadamente se entusiasmam com a ascensão da China em sua declaração: "Fico aliviado ao ver meu país agindo como um gângster", ou expressam preocupações sobre os desafios que a China colocará ao atual sistema imperialista mundial. Aqueles que se dizem "de esquerda" estão igualmente divididos sobre essa questão. Então, qual é a grande questão sobre a ascensão da China?
A grande questão aqui envolve a própria natureza da sociedade chinesa atual, envolve as posições, princípios e políticas que a classe operária chinesa, juntamente com o proletariado mundial, deve adotar diante dos conflitos entre a China e o sistema imperialista global liderado pelos EUA. Essa é uma grande questão!
Para compreender corretamente a situação atual, precisamos responder às seguintes perguntas:
O que é imperialismo?
A visão de Lênin de que "o imperialismo é a fase monopolista do capitalismo" permanece válida? Em outras palavras, a nova característica do imperialismo, isto é, a globalização do capitalismo, torna a teoria de Lênin obsoleta?
Se a declaração de Lênin de que "o imperialismo é o estágio mais alto do capitalismo" está correta, então, o imperialismo na forma de capitalismo monopolista de Estado é um último suspiro enquanto o capitalismo está em seu leito de morte?
O crescente Conglomerado de Capital Estatal na China é uma força socialista lutando contra a hegemonia, ou a espinha dorsal de uma potência hegemônica?
Sobre o futuro da confrontação sino-americana, há compreensões a serem adquiridas a partir do que foi a corrida armamentista, as guerras por procuração e a luta por esferas de influência entre a União Soviética e os Estados Unidos durante a Guerra Fria?
Para abordar essas questões, devemos não apenas esclarecer alguns dos fatos básicos do atual capitalismo mundial, porém também ter um forte entendimento da base teórica para analisar esses fatos. Isto se dá pois estamos na era da informação. Todo dia, a todo momento, somos bombardeados com uma quantidade massiva delas. Se nós não quisermos ser afogados por este mar de informação, devemos ter um entendimento claro da base teórica para analisar aquela informação.
Para encaminhas a este fim, iremos primeiro classificar alguns fatos básicos sobre o mundo capitalista dos dias atuais e analisar as contradições fundamentais da era imperialista. Iremos então explorar a base teórica necessária para analisar estes fatos e contradições. Isso irá estabelecer a fundação para a nossa análise final dos conflitos entre o crescente capitalismo chinês e o atual sistema imperialista liderado pelos EUA.
1. Uma rápida posição quanto os monopólios de capital global
Já que os Global 500 representam os mais poderosos monopólios do mundo, é um ponto bom para o início de nossa análise.
1ª figura

Da distribuição dos Global 500, podemos ver que a força dos monopólios capitalistas ao redor do mundo está principalmente concentrado em três centros. Os EUA são os maiores, seguidos por Alemanha, Grã-Bretanha, França, e outros velhos países imperialistas da europa central, e o terceiro centro, na Ásia, liderado pela China e Japão. Análises mais profundas de dados dos Global 500 revelam várias características importantes do monopólio de poder ao redor do mundo.
Tabela 1: Divisão de Lucro, vendas, e ações (ápice da coluna em negrito) em meio aos países/regiões dos Global 500

Com base na Tabela 1, as multinacionais sediadas nos EUA representaram cerca de 24% do total de ativos do Global 500 em 2016; Alemanha, Grã-Bretanha, França e outros países da Europa Ocidental representaram 32%; China (incluindo uma pequena proporção de Hong Kong e Taiwan) representou 23%; o Japão representou apenas 12%. O total restante representou apenas 9%. Claro, esta divisão de ativos não reflete o impacto do capital de um país no globo. A vasta maioria dos ativos da China está dentro de seu próprio país, enquanto muitos dos ativos de outros antigos imperialistas estão em países estrangeiros.
Dividindo os Global 500 por finanças, manufatura e serviços, como na Tabela 2, podemos ver que, além dos lucros (retirados por seu próprio setor financeiro), as indústrias chinesas estão liderando entre os setores de manufatura em todos os outros indicadores.
Além dos dados do Global 500, a ascensão da China, em termos de outros indicadores, também é surpreendente. A produção de aço da China, a geração de energia, a produção de automóveis, a extensão da ferrovia de alta velocidade, os pedidos de patentes, o número de ensino superior e assim por diante, estão todos no topo do mundo (exceto em termos per capita, devido à grande população que possui).
Tabela 2: Divisão de Lucro, vendas, e ações (ápice da coluna em negrito) em meio aos países/regiões dos Global 500 em 2016

Em termos de armamentos, superando Grã-Bretanha e França, a China é o terceiro maior exportador de armas do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Rússia. Em contraste, a Índia é um país que tenta ser uma potência expansionista regional comprando seus armamentos.
2. Ferramentas que os imperialistas usam para saquear ao redor do globo
Similar à relação dentro de um país onde a classe capitalista oprime e explora a classe operária, a relação entre os imperialistas e outras nações no mundo é uma relação de hegemonia e exploração dos primeiros sobre os últimos. No entanto, a opressão e exploração da classe capitalista sobre a classe operária são através do controle dos primeiros sobre os meios de produção (tais como fábricas e empresas). Isso permite aos capitalistas extrair mais-valia, ou seja, a diferença entre o valor criado por uma unidade de força de trabalho durante um determinado tempo (por exemplo, um ano) e o valor dessa unidade de força de trabalho durante um determinado tempo (por exemplo, um ano), mais ou menos através do princípio da troca equivalente.¹
Em contraste, a relação entre as potências imperialistas e aqueles que foram dominados e explorados pelo sistema imperialista é bastante diferente. A exploração aqui não é realizada principalmente através do princípio da troca equivalente. Caso contrário, não haveria imperialismo.
Uma vez abolido o antigo sistema colonial, através de quais canais os imperialistas globais continuam seu sistema de dominação, saque e exploração? As seguintes categorias parecem resumi-lo: Império do dólar ou renda, pilhagem financeira ou peonagem por dívida, monopólios tecnológicos e de recursos. Todos os quais representam roubo ou troca vastamente desigual.
A. O império do dólar desfruta da maior taxa de lucro, pois seu custo é quase zero. Apenas imprimindo dinheiro, os imperialistas dos EUA podem diretamente saquear riqueza e recursos de todos os outros países. No entanto, o lucro advindo disso é limitado, pois os EUA não podem depender para sempre da impressão de dinheiro para sobreviver.
B. A taxa de lucro advinda da pilhagem financeira, obtida por instituições como os bancos de investimento de Wall Street e instituições globais como o FMI e o Banco Mundial, não é tão alta quanto a do império do dólar. No entanto, é uma forma de usura ou servidão por dívida. Com a alta taxa de juros que só pode ser chamada de extorsão, países da Ásia, África e América Latina são forçados a utilizar a maior parte de suas exportações para pagar suas dívidas, ou para obter novos empréstimos para pagar os antigos. O lucro bruto através deste canal é muito grande. Não há troca de valor equivalente, apenas saque direto.
C. As corporações transnacionais podem obter lucros excessivos através de monopólios sobre recursos naturais, tais como minério de ferro, petróleo (ou através do controle sobre países produtores de petróleo, como a Arábia Saudita). No entanto, os ganhos monetários através de trocas desiguais deste estilo colonial antigo de monopólios sobre recursos são de certa forma limitados.
D. Aqui, o saque da riqueza é realizado diretamente através da troca desigual, além da extração regular de mais-valia. A teoria do valor-trabalho reconhece que uma mercadoria pode ter apenas um valor, e não que o produtor ineficiente tenha um valor maior para seu produto. No entanto, a troca de diferentes bens, especialmente entre diferentes países, é mais complicada. Países desenvolvidos utilizam seus produtos "intensivos em capital" ou de alta tecnologia para trocar por produtos "intensivos em trabalho" de países menos desenvolvidos. A troca aqui não é de valor equivalente. Ou seja, os países desenvolvidos conseguem obter produtos de outros países, que contêm uma maior quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário, com seus próprios produtos, que contêm uma quantidade menor de tempo de trabalho socialmente necessário. Esta é a principal forma de transferência de mais-valia no comércio internacional.² Por exemplo, anos atrás, para comprar um Airbus 380, a China teve que vender centenas de milhões de pares de calças em troca. Da mesma forma, os produtos agrícolas dos EUA são os chamados produtos "intensivos em capital". A produção de um ano de um agricultor americano comum, como mil toneladas de milho, se for exportada para o México, de uma só vez, fará dezenas ou centenas de agricultores locais falirem, forçando-os a trabalhar na zona de processamento para exportação, produzindo têxteis, eletrônicos e outros produtos vendidos de volta, a preços baixos, para os Estados Unidos. Assim, o trabalho de um ano de um trabalhador agrícola americano pode ser trocado por produtos de dezenas ou centenas de trabalhadores mexicanos durante um ano. Em contraste, a troca de produtos entre países desenvolvidos é mais uma troca de valor equivalente. Porque ambos os lados possuem suas próprias vantagens tecnológicas e especializações, de modo que a troca de produtos tem poucas diferenças em seu tempo de trabalho incorporado.
Este último canal de troca desigual merece um esclarecimento adicional, pois há um grande equívoco sobre seu efeito na classe operária dos países desenvolvidos. Com base no marxismo, essa troca desigual reduz enormemente o custo da mão de obra nos países desenvolvidos, permitindo que os capitalistas ali mantenham a lucratividade compensando a inevitável queda da taxa de lucro devido ao aumento da composição orgânica do capital.³ Contraste esta análise com a alegação: "De fato, o 'New Deal' pós-1945 permitiu que as classes operárias ocidentais recebessem uma parte da mais-valia mundial em troca de sua cooperação política com o sistema capitalista."⁴ Se essa alegação fosse verdadeira, não haveria base material para que a classe operária do mundo se unisse. O fato é que os salários reais da classe operária nos países desenvolvidos têm estado em declínio constante à medida que o mundo capitalista se globaliza cada vez mais. A média salarial da classe operária em qualquer país, desenvolvido ou não, é mais ou menos o custo de reprodução da força de trabalho naquele país, ou seja, o custo de criar os jovens, educar a juventude, alimentar os trabalhadores e cuidar dos idosos, independentemente de quão grandes seja as diferenças entre os países.
Sem o controle monopolista da ciência e tecnologia pelos países desenvolvidos, os países menos desenvolvidos teriam sido capazes de dominar rapidamente qualquer nova tecnologia (pois a imitação é muito mais rápida que a inovação) e pular etapas em seu processo de desenvolvimento, como a ajuda soviética fez com a China.⁵ A troca de bens entre eles tenderia a ser uma troca de valores equivalentes. Esta é a razão pela qual os imperialistas se esforçam tanto para impedir que os países menos desenvolvidos dominem qualquer nova tecnologia.
De todos os canais pelos quais os imperialistas saqueiam a riqueza e os recursos do mundo, o mais fundamental é através do seu controle sobre as tecnologias. Em contraste, os monopólios de recursos são o estilo colonial de transferência de riqueza. Os dois juntos deram origem à pilhagem financeira e, em última instância, ao império do dólar.
Quando outros países são forçados a usar Dólares, Euros, Libras Esterlinas ou Ienes japoneses como moedas de reserva para o comércio internacional, as potências imperialistas estão, de fato, permitindo a si mesmas tomar os recursos ou riquezas de outros países simplesmente imprimindo dinheiro. Aqueles outros no campo imperialista, como o Canadá ou a Austrália, embora não possam saquear muito por meio da impressão de dinheiro, ainda assim conseguem saquear ao redor do mundo por meio de sua parte da hegemonia em finanças, recursos e tecnologias.
Com base na análise acima, em termos desses canais, qual é a situação da China, comparada a outros países em desenvolvimento, como Coreia do Sul, Índia, Brasil e outros?
A. Até agora, a China não conseguiu colher muitos privilégios associados ao status de moeda de reserva no FMI, além de algumas pequenas regiões no Sudeste Asiático que aceitam o Renminbi como moeda local. No entanto, a China está se esforçando muito para fazer de sua própria moeda uma moeda internacionalmente aceita, para desfrutar do privilégio de moeda de reserva semelhante ao Euro ou ao Iene. A Coreia do Sul, a Índia ou o Brasil não têm perspectiva nesse sentido.
B. A China não possui muito poder financeiro, pelo menos por enquanto. Como é um recém-chegado no cenário, seu verdadeiro caráter ainda precisa ser totalmente exposto; poucos países da Ásia ou da África estão realmente sendo capturados. No entanto, o estabelecimento do BAII [Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura - Redação] lançou uma base sólida para o desenvolvimento do poder financeiro da China. Informações sobre a Coreia do Sul, Índia ou Brasil ainda precisam ser coletadas para fazer julgamentos definitivos por agora, além do fato de que suas perspectivas não se comparam às da China.
C. Até agora, a China tem sido uma "vítima" dos monopólios de recursos do Ocidente. Ao comprar variedades de recursos estratégicos em todo o mundo, a China está tentando mudar o status quo e ganhar mais controle sobre eles. Em contraste, parece que a Coreia do Sul é pobre em recursos, enquanto os recursos da Índia e do Brasil tendem a ser controlados por corporações multinacionais estrangeiras. Sem investigação adicional, nenhuma conclusão definitiva pode ser feita sobre esses países neste momento.
D. A China está no processo de romper os monopólios tecnológicos do Ocidente. Embora ainda não tenha conseguido negociar com países desenvolvidos com base na troca de valores equivalentes, pois seu poder de mercado e as tecnologias incorporadas não são tão altos quanto os dos países mais desenvolvidos, essa situação está mudando rapidamente. As exportações chinesas em expansão em equipamentos industriais e maquinários têm sido bastante lucrativas, como em equipamentos ferroviários de alta velocidade e exportações de armamentos. As trocas comerciais de mercadorias entre a China e os países desenvolvidos estão se tornando mais uma troca de valor equivalente, enquanto aquelas com países asiáticos, africanos ou latino-americanos tendem a ser mais uma troca desigual em favor da China. A Coreia do Sul também desfruta de alguns dos lucros da troca desigual, mas não tanto a Índia ou o Brasil. Detalhes dessas áreas ainda precisam de mais estudo, no entanto.
Assim, em relação à Coreia do Sul, Índia ou Brasil, a China está prestes a se tornar um país imperialista; pelo menos ela está passando por um processo de mudança quantitativa para mudança qualitativa. 3. Conflitos e crises do mundo imperialista
Para entender o imperialismo, precisamos entender suas dinâmicas internas e contradições. Os seguintes são alguns dos conflitos mais básicos dentro do capitalismo. O conflito entre trabalho e capital vem em primeiro lugar. Em seguida, a clássica crise de superprodução do capitalismo. Essa crise não apenas impulsiona o capitalismo em direção ao imperialismo, mas também intensifica as rivalidades entre as potências imperialistas. O terceiro é o conflito entre os países em desenvolvimento e os países imperialistas em todo o mundo. Isso e o antagonismo entre a classe operária e os capitalistas dentro de cada país também podem ser melhor entendidos pela crise de superprodução dentro do capitalismo.
O conflito entre trabalho e capital. Este é o mais básico e agudo dos conflitos em uma sociedade capitalista. Isso se manifesta pelo fato de que todos os países do mundo usaram os meios opressores do Estado (tribunais, polícia e o exército) para defender o capitalismo, para oprimir qualquer resistência à propriedade privada dos meios de produção por seu próprio povo. Na era imperialista, a opressão de classe doméstica e o imperialismo ao redor do mundo são inseparáveis. Por um lado, os imperialistas devem exportar a crise para amenizar o antagonismo de classe doméstica; por outro lado, os imperialistas devem suprimir a classe operária ao redor do mundo para defender os lucros de seus investimentos estrangeiros, e ao mesmo tempo, usar importações baratas para suprimir a resistência da classe operária doméstica. Como o conflito entre trabalho e capital é bem compreendido entre a esquerda, não vamos elaborar mais sobre isso.
A base econômica do imperialismo: escalada do poder monopolista e a crise de superprodução. "A crise econômica tradicional na forma de superprodução não é mais uma grande ameaça à economia capitalista, e o grau de dano foi significativamente reduzido", declara um teórico do sistema mundial, que também afirma ser um marxista-leninista-maoista sob o pseudônimo de Voyage One no círculo progressivo de língua chinesa. Para ele, "energia, recursos e questões ambientais são as maiores restrições ao crescimento futuro do capitalismo."⁶
No entanto, os fatos históricos têm mostrado repetidamente que a causa raiz da crise econômica capitalista é a crise de superprodução, e não outros fatores, como a crise de recursos ou a crise ecológica e assim por diante.
Isso ocorre porque a produção sob o capitalismo é para lucro. Isso só pode ocorrer quando a produção agregada da produção socializada é maior do que o consumo total da classe operária. Ou seja, apenas quando há um superávit agregado, pode o superávit ser transformado em lucro geral para os capitalistas. Aqui podemos desconsiderar o consumo de luxo dos capitalistas, a depreciação de capital e a parte do superávit que é usada para a manutenção das máquinas do Estado capitalista, e assim por diante, pois esses podem ser vistos como um desconto da produção total. Em outras palavras, os produtos produzidos por todos os trabalhadores somados devem ser maiores do que os produtos comprados por todos os trabalhadores, para que haja algum superávit sobrando para os capitalistas. Quanto maior a diferença entre a produção agregada dos trabalhadores e o consumo agregado dos trabalhadores, maior é o superávit agregado. É assim que a economia cresce.
Embora o valor seja criado através da produção, ele só pode ser realizado através da troca. Assim, esses produtos excedentes só podem ser transformados em lucros quando os capitalistas podem vender esses produtos para outros capitalistas que os compram como investimento para expansão da produção. Esta é a condição necessária para a conversão de produtos excedentes em lucros, ou seja, acumulação de capital. Caso contrário, esses produtos excedentes não vendidos se tornam uma pilha de bens superproduzidos. A expansão da produção, no entanto, fará com que a crise futura de superprodução seja ainda mais grave. Uma vez que uma multitude de capitalistas perde a confiança na futura conversão de produtos excedentes em lucros, ou seja, perde a confiança na bolha de expansão da capacidade produtiva, a crise econômica se tornará inevitável. Esta é a crise de superprodução.
Muitos pensavam que a crise econômica era causada pela falta de consumo das pessoas. Não é verdade. O subconsumo sempre foi um fato da vida para a esmagadora maioria da humanidade ao longo da história. A crise de superprodução é um fenômeno único do capitalismo. A crise cíclica econômica do capitalismo não é causada pela queda no consumo. Ela é, na verdade, causada pelo crescimento da produção que ultrapassa o crescimento do consumo. Além disso, os produtos excedentes iniciais muitas vezes não são bens de consumo, mas sim produtos intermediários de investimento. Assim, à primeira vista, o subconsumo e a superprodução são duas faces da mesma moeda, mas não são. A superprodução é absoluta, e o subconsumo é relativo. A superprodução é a causa, e o subconsumo é o efeito. Isso pode ser visto muito claramente em um ciclo de negócios: a produção excessiva primeiro causa um estoque de produtos quando a perspectiva de expansão futura esfria, o que leva a uma queda nos lucros, resultando em um aumento no desemprego, o que mais tarde causa uma queda no consumo.
Se o capitalismo pudesse planejar o crescimento da produção e do consumo de forma proporcional simultaneamente, seria possível evitar a crise de superprodução (como no caso da economia planejada da União Soviética após a chegada de Khrushchev ao poder e antes de sua desintegração). O capitalismo em geral, no entanto, não é caracterizado por um monopólio monolítico de um capitalismo estatal único (a desintegração da União Soviética mostra que um capitalismo monopolista estatal único é uma forma instável de capitalismo). A menos que uma necessidade especial surja (como durante os tempos de guerra), os capitalistas geralmente não coordenam sua produção automaticamente. A expansão da produção de uma empresa capitalista individual geralmente não causa diretamente que seu produto seja superproduzido. Pelo contrário, aqueles capitalistas que empregam novas tecnologias ou técnicas para engajar em uma expansão em grande escala de seu processo produtivo tendem a reduzir seu custo unitário e o preço. Isso fará com que aqueles capitalistas que ficam para trás na expansão de seu processo produtivo se tornem menos competitivos, fazendo com que seus produtos se tornem excessivamente produzidos, talvez até forçados a sair completamente do mercado. Esse é o resultado da competição entre empresas capitalistas. A superprodução em uma única indústria é, assim, um meio pelo qual os capitalistas competem entre si.
Esse comportamento "racional" de um capitalista individual dentro de uma indústria, no nível micro, se torna um comportamento "irracional" do capitalismo como um todo, no nível macro. Para sobreviver, cada capitalista individual está desesperadamente expandindo sua escala de produção, resultando na rápida expansão da capacidade produtiva geral do capitalismo. No entanto, essa expansão geral só pode aumentar o superávit geral dos capitalistas, se seu crescimento for maior do que o crescimento do consumo pela classe operária. Uma vez que o superávit geral não possa ser convertido em expansão de investimentos, a crise de superprodução irá eclodir. Essa é a contradição fundamental entre a produção socializada e a anarquia da produção sob o capitalismo, ou seja, a causa raiz da crise capitalista.
Aliviar a crise de superprodução requer ou algumas tecnologias inovadoras ou enormes novos mercados. A invenção de uma nova tecnologia pode forçar a aposentadoria de uma quantidade massiva de investimento de capital fixo original, permitindo aliviar o excesso de capacidade de produção (como a TV que quase eliminou os cinemas, os celulares que quase eliminaram as linhas fixas, as câmeras digitais que basicamente eliminaram as câmeras de filme, ou os automóveis e aviões nos Estados Unidos que basicamente eliminaram os serviços ferroviários de passageiros, etc.). O desenvolvimento de um novo mercado também pode absorver a capacidade excessiva (como a descoberta de um "novo continente", ou seja, puxando a China para o sistema capitalista mundial).
Caso contrário, para salvar o capitalismo, o excesso de capital deve ser destruído! Desastres naturais obliteram a capacidade produtiva diretamente para aliviar seu excesso. Guerras foram outro canal para destruir a capacidade excessiva (após a Segunda Guerra Mundial, Japão e Alemanha estavam em ruínas). Após a destruição de capacidade excessiva por guerras ou desastres naturais, o mercado e a produção podem recuperar o equilíbrio, criando um ambiente fresco para novos investimentos.
Sem novos mercados, novas tecnologias, desastres naturais ou guerras, então a capacidade excessiva só pode ser destruída por meio de uma crise econômica profunda. Os capitalistas mais fracos são forçados à falência durante uma crise, e assim, destruindo uma grande quantidade de capital excedente, permitindo que a capacidade e o mercado recuperem o equilíbrio.
Diferente dos impérios feudais que eram movidos pela simples ganância, o surgimento do imperialismo moderno foi originalmente impulsionado pela necessidade de aliviar a superprodução doméstica. Os reinos feudais autossuficientes podiam sobreviver bem sem expandir, mas os imperialistas modernos devem ou expandir ou morrer. Ao abrir forçadamente os mercados das colônias, os imperialistas foram capazes de despejar seus produtos e saquear novos recursos, aliviando assim o excesso de produção doméstica. O imperialismo é, portanto, o resultado inevitável do desenvolvimento capitalista. Somente na fase posterior do desenvolvimento o imperialismo foi transformado da exportação de produtos para a exportação de capital.
No início, manipulando a política e as economias (ou mercados) de outros países, o neocolonialismo dos EUA foi capaz de despejar seus produtos excedentes, criar novas oportunidades de investimento e exportar sua própria crise doméstica de superprodução.
A globalização do capitalismo levou ao desenvolvimento adicional dos mercados, e temporariamente aliviou a crise de superprodução no país imperialista de origem. Por exemplo, a crise capitalista global, que começou em meados da década de 1970, representada pela crise do petróleo, não mostrou sinais óbvios de alívio mesmo durante a metade da década de 1980, até a adesão da China ao sistema capitalista mundial, o que a adiou até 2008. O resultado, no entanto, são problemas intermináveis de crise de superprodução ao redor do globo!
Se não houver novas tecnologias significativas no futuro próximo para abrir novos campos para investimentos ou para forçar a aposentadoria de uma grande quantidade de capital antigo, a capacidade excedente do mundo só pode ser destruída por meio de uma crise econômica mais profunda, para restaurar o equilíbrio entre capacidade de produção e mercado.
No entanto, os capitalistas de todos os países querem destruir a capacidade produtiva dos capitalistas concorrentes de outros países, para aliviar sua própria capacidade excedente. Os conflitos entre capitalistas serão cada vez mais intensos. As guerras são a expressão concentrada da crise capitalista na era imperialista. Essa é a razão fundamental pela qual o imperialismo significa guerra.
3) Conflitos entre os imperialistas
O principal hoje é a rivalidade entre as potências ocidentais lideradas pelos imperialistas dos EUA e a Rússia, conforme demonstrado pela crise ucraniana de 2014 e a crise síria em andamento hoje. À medida que a Rússia envia seu único porta-aviões para o Oriente Médio, para proteger sua única base militar lá, a disputa entre os dois campos está em ascensão. A rivalidade entre os imperialistas dos EUA e a União Europeia também está em ascensão. O estabelecimento da Zona do Euro e a joint venture da Airbus foram exemplos dos conflitos entre a UE e os imperialistas dos EUA. A crise da dívida soberana da UE também expôs as contradições dentro da UE. Ao mesmo tempo, os imperialistas dos EUA usaram as contradições dentro da UE para intensificar a crise da dívida soberana, enfraquecendo o desafio da UE aos EUA. Embora o Brexit seja uma manifestação da crise, a UE sem o Reino Unido pode ser mais desafiadora para os EUA. Isso pode ser a razão pela qual o imperialismo dos EUA se opôs à saída da Grã-Bretanha da UE. Há também o choque entre os Estados Unidos e o Japão. Como os EUA controlam rigidamente seu exército, o Japão não conseguiu se tornar um país normal. Por exemplo, durante a crise financeira asiática de 1997, os EUA foram capazes de forçar o Japão a aceitar o programa do FMI, o que levou a grandes perdas em seus investimentos no Sudeste Asiático.
4) Competições hegemônicas podem fornecer novas oportunidades para nações oprimidas
Além dos conflitos de classe e dos conflitos entre imperialistas, existem também os conflitos entre os chamados países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, ou seja, os conflitos “Norte - Sul”. Esses são, em essência, as contradições entre o imperialismo e as nações e povos oprimidos. A unidade dos opostos é um princípio universal. O surgimento ou a ascensão de uma nova potência imperialista pode, de fato, desempenhar um papel em quebrar o controle monopolista do sistema imperialista existente. Ela dá aos países do terceiro mundo mais uma chance de jogar uns contra os outros, como foi o caso da rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética pela hegemonia mundial durante a Guerra Fria. A recente tentativa do governo filipino de usar a ascensão da China como alavanca para aliviar o controle dos imperialistas dos EUA é outro exemplo. A implosão da União Soviética foi uma grande perda para a maioria dos países do terceiro mundo, criando mais de 25 anos de abuso sem contestação pelos Estados Unidos, para fazer o que quisessem, promovendo a ordem neoliberal mundial desenfreada. Nesse sentido, desde que outros países do terceiro mundo possam entender claramente a natureza de um país imperialista emergente, podem explorar efetivamente as contradições entre os imperialistas, a ascensão da China pode ajudar os povos de outros países do terceiro mundo a afrouxar o controle da dominação imperialista existente. No entanto, a premissa dessa conclusão se baseia em uma compreensão clara do imperialismo. Caso contrário, sem uma postura independente ao lidar com as rivalidades entre as potências imperialistas, a situação é perigosa. Tomar partido de um contra o outro não libertará a pessoa no final. Olhando para trás, há cem anos, quando os imperialistas dos EUA foram capazes de romper com o Império Britânico, “onde o sol nunca se punha”, no começo, eles também “venceram temporariamente o povo”. O fato de as pessoas na Ásia ou na África terem uma visão favorável dos investimentos chineses não oferece nenhuma prova, como alegado por alguns, de que o investimento chinês é diferente do imperialismo de estilo antigo.
5) Crise ecológica e esgotamento de recursos
Embora o aquecimento global e a crise ecológica tenham dominado as manchetes, os marxistas-leninistas-maoístas devem vê-los dialeticamente. Embora provoque a resistência dos povos do mundo ao modo de produção capitalista, intensifique as contradições inerentes ao capitalismo, particularmente as rivalidades entre os imperialistas pelo controle desses recursos limitados, também proporciona novas oportunidades de investimento, o que tende a prolongar o capitalismo. Comparado com os conflitos irreconciliáveis que listamos acima, o capitalismo provavelmente superará cada crise ecológica particular.
Por exemplo, historicamente, as revoltas camponesas na antiga China eram frequentemente associadas a desastres naturais. No entanto, a ameaça ao capitalismo da fome de batata irlandesa do século XIX ou da peste parece não ser tão séria. A crise ecológica por si só não causa necessariamente uma crise do capitalismo. Isso ocorre porque o esgotamento de recursos em si parece ser um conflito entre o homem e a natureza, não um conflito entre seres humanos, e, portanto, não ameaça diretamente o capitalismo.
Por causa disso, o terremoto no Japão, há alguns anos, por exemplo, não aumentou as demandas do povo japonês por socialismo.
O esgotamento de recursos, claro, ameaçará a sobrevivência daqueles capitalistas particulares que tinham um monopólio sobre eles, mas seus concorrentes são beneficiados disfarçadamente. A escassez de borracha natural promoveu o desenvolvimento de elastômeros, o esgotamento dos recursos petrolíferos promove o uso da luz solar, e assim por diante. Portanto, o esgotamento de recursos não ameaça necessariamente o capitalismo, mas pode promover inovações tecnológicas, criando novas oportunidades de investimento. O boom do fracking hidráulico iniciado em 2008 aumentou consideravelmente a produção de petróleo de xisto nos Estados Unidos, por exemplo. A expansão precoce e louca da China na energia eólica, fotovoltaica e outras indústrias que levou à atual crise grave de superprodução são precisamente causadas pelo "atraso intempestivo" da crise ecológica. Como citado pela The Economist há mais de uma década: "A Idade da Pedra não acabou pela falta de pedra, e a Idade do Petróleo acabará muito antes de o mundo ficar sem petróleo."
Assim, o capitalismo em si não é ameaçado pela escassez de recursos, mas sim pela superprodução. As crises ecológicas têm mais chance de salvar do que enterrar o capitalismo, a menos que as rivalidades entre os imperialistas derrubem o capitalismo. Atualmente, por exemplo, o governo chinês está aproveitando a crise ecológica como uma oportunidade para fechar forçosamente muitas empresas de alto consumo de energia e alta poluição, a fim de aliviar a crise de superprodução nas indústrias afetadas.
4. Leninismo vs. revisionismo no tratamento do imperialismo
Dado esses conflitos e crises dentro do mundo imperialista, os revolucionários e progressistas se deparam com a questão de como entender e resistir ao imperialismo.
1) Novas características do imperialismo global liderado pelos EUA
Após a Segunda Guerra Mundial, especialmente após o colapso da União Soviética, a prática do imperialismo mudou. O sistema imperialista neocolonial, liderado pelos imperialistas dos EUA, substituiu o antigo colonialismo da era anterior, onde o mundo estava dividido com base na força de cada imperialista. Enfrentados com essa nova situação, se Lenin estivesse vivo hoje, ele não aplicaria sua definição de um século atrás para analisar o sistema imperialista globalizado de hoje de maneira imutável.
A seguir, estão várias práticas diferentes de imperialismo após o nascimento do capitalismo:
A. O imperialismo inicial originou-se da competição livre, o que levou a monopólios ou oligarquias industriais, e isso levou ao surgimento da hegemonia financeira. Lenin analisou essa forma de imperialismo há um século.
B. O neocolonialismo pós-Segunda Guerra Mundial é a escalada dos poderes monopolistas, ou seja, a evolução de monopólios dentro de um país e suas colônias para uma dominação de superpotência mundial pelos monopólios nucleares dos EUA.
C. O capitalismo monopolista de Estado é um poder monopolista altamente integrado do capital junto com o poder do estado. Isso serve para mitigar as antagonismos de classe internos, por um lado, como o "New Deal" nos Estados Unidos, ou o "estado de bem-estar" na Europa, e, por outro lado, para regular as condutas entre vários monopólios ao redor do mundo por meio de instituições internacionais, como o FMI ou o Banco Mundial. Estas são características novas e importantes do período neocolonialista.
D. A globalização da produção e a dominação do capital financeiro sobre o capital industrial exemplificados pelo Império do Dólar são outras características que precisam de atenção especial.
E. A forma mais alta do capitalismo de Estado é aquela que combina diretamente o poder do Estado, juntamente com o partido político dominante de um país, seu exército, seu capital industrial e financeiro como um todo, sob um comando unificado. Este é o auge do capitalismo de Estado. Dado essas novas características, existem pelo menos duas estruturas teóricas para analisar o imperialismo contemporâneo entre a esquerda e os progressistas. Os dois métodos irão produzir linhas, políticas e abordagens opostas.A teoria de Lenin sobre o imperialismo usa a ascensão do capitalismo monopolista como a força motriz que gera o imperialismo. Uma vez que a lei básica ou lógica da acumulação capitalista é expandir ou falir, essa acumulação incessante de capital leva inevitavelmente ao capitalismo monopolista, independentemente de quão "livre" a competição comece. Lutar pela hegemonia é o próprio DNA do capitalismo monopolista. É a alavancagem, o poder ou a coalizão de capitalistas que tal grupo capitalista monopolista pode reunir que molda o mundo.Cem anos de história provam que Lenin estava certo sobre a natureza do imperialismo e das guerras. Isso porque Lenin compreendeu a lei fundamental do movimento do capitalismo. Assim, para entender o imperialismo, a unidade de análise deveria estar na célula funcional mais básica do capitalismo, ou seja, um grupo capitalista, como uma firma, uma empresa, um conglomerado, uma multinacional, um sindicato, um truste, um cartel ou um consórcio, etc., ou seja, uma unidade funcional de capital monopolista. Se alguém for cego ao poder do capital monopolista, não pode esperar entender o imperialismo!
2) Ressurreição do ultra-imperialismo
Alternativa à análise de Lenin é uma versão moderna do ultra-imperialismo de Kautsky, que ignora a quantidade de poder econômico, político e, por fim, militar que cada capitalista monopolista é capaz de exercer ao dividir o mundo em "centro", "semi-periferia" e "periferia".Há aqueles que veem que os conflitos entre potências mundiais e imperialistas podem ser reconciliados pelas organizações globais, como o FMI, o Banco Mundial, a OMC e outras. Para eles, a análise de Lenin sobre o imperialismo está ultrapassada.Uma visão semelhante é que, devido à globalização do capitalismo, onde as corporações multinacionais têm penetrações e interdependências mútuas, baseadas em "Eu possuo algo seu, e você possui algo meu", os imperialistas devem manter uma ordem global em prol do "interesse comum superior" dos capitalistas. Conflitos intensos entre os imperialistas não podem acontecer.Aqui está um exemplo desse ultra-imperialismo, pelo mencionado Voyage One: "O núcleo do setor capitalista da China é a indústria de manufatura para exportação. Embora a economia capitalista da China seja muito grande, os setores de imobiliário, financeiro e outros setores não produtivos também representam uma proporção considerável, o tamanho do investimento em instalações de infraestrutura também é grande, mas esses setores ou servem ao setor de manufatura para exportação ou estão ligados a ele. Se a indústria de manufatura para exportação da China cair, outros setores do capitalismo chinês logo cairão." "A indústria de manufatura para exportação da China não depende apenas dos mercados dos Estados Unidos e da Europa, mas também depende de energia importada e matérias-primas do exterior. Embora essas energias e matérias-primas não venham dos Estados Unidos, o capitalismo chinês, no entanto, depende objetivamente do poder aéreo e naval imperialista dos EUA para proteger a estabilidade política do Oriente Médio, da África, a segurança do tráfego marítimo no Oceano Índico e no Pacífico. A grande dependência da indústria de manufatura para exportação capitalista da China sobre o poder político e econômico do imperialismo dos EUA dita sua disposição de trabalhar com os Estados Unidos sob um sistema 'G2', e se comportar como uma 'grande nação responsável'. Os capitalistas chineses não são fortes o suficiente, nem têm a vontade, nem são ousados o suficiente para desafiar a hegemonia imperialista dos EUA.""Nesse sentido, os interesses fundamentais dos capitalistas na China e nos Estados Unidos não só não têm conflitos, como também são altamente consistentes. Isso determina que não haverá guerras nem entre a China e os Estados Unidos, nem entre a China e os subordinados dos EUA (como o Japão), não haverá eclosão de guerras, nem mesmo qualquer eclosão de conflitos armados."O mesmo autor continua: "Nos nossos tempos, o declínio do imperialismo dos EUA não causou, nem causará no futuro, grandes guerras semelhantes entre países capitalistas. O declínio da hegemonia imperialista dos EUA se manifesta principalmente na considerável diminuição de sua capacidade de regular e gerenciar os interesses comuns dos capitalistas do mundo. Os imperialistas dos EUA não são mais capazes de ajudar efetivamente os países capitalistas a sair da crise econômica mundial, não conseguem mais suprimir efetivamente a resistência dos povos e várias outras ameaças à ordem capitalista mundial (por exemplo, o poder político islamista do Oriente Médio e a ameaça nuclear da RPDC). Certamente não é possível lidar efetivamente com a crescente crise ambiental global. No entanto, o declínio dos imperialistas dos EUA não aprofundou seriamente as contradições entre os principais países capitalistas, em particular, não aprofundou seriamente a contradição entre os capitalistas na China e nos Estados Unidos (ênfase acrescentada)."Alguém tem que se perguntar de que planeta Voyage One veio? O erro do ultra-imperialismo é que eles veem apenas a semelhança de interesses para oprimir a classe operária entre a burguesia no sistema capitalista, mas falham em ver as batalhas de vida ou morte entre os grupos monopolistas. Eles parecem esquecer que a essência mais básica dos capitalistas é a competição, o monopólio e a hegemonia! Além de reprimir a resistência da classe operária em casa e competir por hegemonia no exterior, quais outros interesses comuns os capitalistas têm? À primeira vista, organizações internacionais, como as Nações Unidas, o Banco Mundial e o FMI, são plataformas para uma governança "democrática" dos assuntos internacionais pelos capitalistas globais. Na realidade, o direito de falar de cada parte nessas organizações internacionais é alocado de acordo com o poder militar e econômico de cada um. Assim, o autor viu que "o núcleo do setor capitalista da China é a indústria de exportação e manufatura", e viu que ele "não depende apenas dos mercados dos Estados Unidos e da Europa, mas também depende de energia importada e matérias-primas do exterior", e que se ele "diminuir, outros setores do capitalismo da China logo vão diminuir". No entanto, ele não pôde ver, ao mesmo tempo, que à medida que o núcleo deste capitalismo chinês se expande, ele está destinado a competir ainda mais com as potências ocidentais por mercados e recursos. Uma das razões para isso pode ser que essas pessoas viram a indústria de exportação e manufatura da China apenas como o tipo de indústrias privadas semelhantes à Foxconn, que se envolvem no comércio de processamento em grande escala, atendendo às necessidades das empresas multinacionais. Eles falharam em ver aquelas empresas chinesas nativas, como a ferrovia de alta velocidade estatal, ou empresas de oligopólio privado de equipamentos, como a Sanyi, que estão sob a pressão de uma grave crise de superprodução, e para sobreviver, mais e mais atenção deve ser dada à exportação de seus excessos. Eles têm pressionado muito a estratégia de "Going-out" para superar as dificuldades dessas indústrias de manufatura domésticas. Este é o verdadeiro "núcleo do setor capitalista da China". Essas conclusões equivocadas também são derivadas, talvez, de crenças em uma versão da teoria do sistema-mundo, que enfatiza (na verdade, apenas descreve) o papel particular da "divisão internacional do trabalho" dentro do sistema capitalista mundial. No entanto, exceto pela análise sinônima de "núcleo" e "periferia", ela não especifica qual é a base da "divisão do trabalho", qual fenômeno impulsiona tal "divisão do trabalho", bem como qual é a lei do movimento que provoca mudanças na "divisão do trabalho". Consequentemente, aos olhos desses teóricos do sistema-mundo, a "divisão internacional do trabalho" tende a ser solidificada e improvável de ser alterada. Como "dentro da atual divisão global do trabalho, o capitalismo chinês se especializa na produção manufatureira",11 esses teóricos tomam isso como evidência de que os capitalistas chineses não podem marchar em direção ao "núcleo". Isso é colocar a carroça na frente dos bois. Eles falham em ver que o poder monopolista é a força motriz por trás da "divisão do trabalho". Além disso, a "divisão internacional do trabalho" se baseia na força relativa dos diversos capitalistas monopolistas em termos de sua força econômica, política e até mesmo militar. Se o núcleo do setor capitalista da China é realmente um serviço privado de exportação e manufatura para corporações multinacionais, então a "Iniciativa do Cinturão e Rota" da China é desnecessária, e sua iniciativa para o AIIB não faz sentido. Aqueles que defendem essa versão da análise do sistema-mundo não podem entender os motivos para o impulso do governo chinês por qualquer uma delas e não veem os motivos pelos quais um próximo grupo de capitalistas monopolistas estatais está destinado a desafiar a ordem mundial existente. E desafiá-la fez. O AIIB é talvez a única instituição financeira internacional da qual os EUA não têm voz, para não mencionar poder de veto. O crescente "capitalismo chinês, no entanto, objetiva depender do poder imperialista aéreo e marítimo dos EUA para proteger a estabilidade política do Oriente Médio, da África, a segurança do tráfego marítimo no Oceano Índico e no Pacífico". Esse "passeio gratuito" corresponde à situação real por quase duas décadas. No entanto, a China está se tornando cada vez mais insuportável para a ordem imperialista mundial existente. Embora a China seja o maior importador mundial de muitos recursos (como minério de ferro, petróleo, etc.), ela não tem nenhum poder sobre os preços. Qualquer coisa que a China compre, seu preço sobe. Ao mesmo tempo, a China exporta muitos produtos para todo o mundo, e qualquer coisa que ela venda, seu preço cai. Ela não tem nenhum poder sobre os preços lá também. Além disso, a China está enfrentando casos cada vez mais crescentes de sanções antidumping. Assim, dizer que "Os capitalistas chineses não são poderosos o suficiente, nem têm a vontade, nem têm coragem para desafiar a hegemonia imperialista dos EUA" simplesmente não é verdade. O fato é que a China está construindo navios de guerra como se fossem bolinhos, além de construir uma frota de porta-aviões, investindo pesadamente em aeroespacial e outros equipamentos militares, expandindo bases no exterior, recuperando ilhas em grande escala no Mar do Sul da China, além de impulsionar a "Iniciativa do Cinturão e Rota" e a criação do AIIB. Tudo isso mostra que a capacidade e coragem da China para desafiar a hegemonia imperialista dos EUA foram ampliadas, sem mencionar sua intenção. Só depois de ver esses desafios, os Estados Unidos começaram seu plano estratégico de "pivô para a Ásia-Pacífico", em vez de promover o chamado sistema "G2", no qual a China trabalha com os EUA como parceiro júnior para governar o mundo juntos. Este último é inteiramente um pensamento ilusório de estudiosos chineses. Os Estados Unidos nunca se submeterão a um sistema "G2". Assim, podemos ver que a afirmação de que "os interesses fundamentais dos capitalistas da China e dos EUA não apenas não estão em conflito, mas também são altamente consistentes" é pura especulação subjetiva, sem base factual. De acordo com esse argumento ultra-imperialista: "não só entre a China e os Estados Unidos não haverá guerras, ... nem mesmo eclosões de conflitos armados." Sim, sob a ameaça de destruição nuclear, o conflito direto é improvável, mas as guerras por procuração em outros lugares, como no Sudão do Sul, Mianmar, corridas armamentistas intensificadas no aeroespacial, marítimo e outras áreas, competindo para defender seus chamados "interesses essenciais" nas respectivas esferas de influência, continuarão. À medida que o capitalismo chinês cresce, ela pode se dar ao luxo de não seguir o caminho do "comércio de canhoneiras"? Mais de um século atrás, Kautsky acreditava que era possível conter as intensas rivalidades dos imperialistas por meios pacíficos em nome dos interesses globais do capitalismo. Sua teoria do ultra-imperialismo foi jogada na lata de lixo da história pela realidade das duas Guerras Mundiais. No entanto, assim como as rivalidades inter-imperialistas estão ficando cada vez mais intensas, o fantasma do ultra-imperialismo de Kautsky voltou à vida sob a forma de uma versão da teoria do sistema-mundo, que nem seu principal teórico, Wallerstein, subscreve. Eles confundiram a história pós-Segunda Guerra Mundial como evidência de que é possível para os imperialistas coexistirem pacificamente sob aquelas instituições internacionais onde suas diferenças podem ser resolvidas. Eles veem claramente "a decadência da hegemonia imperialista dos EUA", mas falham em ver precisamente a luta de vida ou morte entre os imperialistas pela hegemonia que essa decadência inevitavelmente traz! 3) Nenhum respeito pelo ultra-imperialismo pelos imperialistas dos EUA
Isso talvez seja causado pela visão equivocada desses ultra-imperialistas sobre o papel que os EUA desempenham no sistema imperialista mundial de hoje. Induzidos por essa versão da teoria do sistema-mundo, eles viram o papel dos imperialistas dos EUA como uma força policial mundial autoimposta em nome de "suprimir efetivamente a resistência dos povos e várias outras ameaças à ordem capitalista mundial". Eles viram que os imperialistas dos EUA têm tentado "regulamentar e gerenciar os interesses comuns dos capitalistas do mundo", tentaram desinteressadamente "ajudar os países capitalistas a sair da crise econômica mundial". Pela descrição deles, os imperialistas dos EUA têm sido uma liderança autossacrificial tão extraordinária para os capitalistas mundiais! O declínio do imperialismo dos EUA deve ter sido um grande arrependimento para a manutenção do dito sistema-mundo!
De fato, os Estados Unidos nunca "ajudaram" os países capitalistas a sair de qualquer crise econômica. Mesmo o Plano Marshall após a Segunda Guerra Mundial foi mais para superar a crise de superprodução dos Estados Unidos e serviu para exportar o capital dos EUA. Os Estados Unidos sempre foram bons em exportar suas próprias crises, como a crise de 2008, ou criar uma crise para atender às suas próprias necessidades, como a crise financeira da Ásia-Pacífico de 1997. Os imperialistas dos EUA nunca colocaram os "interesses comuns do capitalismo mundial" em primeiro lugar, mas sim tentaram defender seus próprios interesses ao decidir que tipo de "ordem" mundial manter, como o fim da convertibilidade do dólar em ouro em 1971.
Os interesses que o imperialismo dos EUA defende não são os interesses comuns do capitalismo mundial como um todo, mas sim os interesses globais do capital monopolista dos EUA. Somente sob essa condição, os imperialistas dos EUA tentarão manter os interesses globais do capital monopolista em outros países. No entanto, uma vez que uma crise econômica ocorre, os principais alvos para os imperialistas dos EUA passarem sua crise muitas vezes foram os outros países desenvolvidos. Após a eclosão da crise econômica de 2008, a crise da dívida soberana da UE foi a consequência direta da exportação de sua crise pelos Estados Unidos para a Europa. A economia letárgica do Japão nos últimos 25 anos também foi resultado da exportação da crise dos Estados Unidos.
Figura 2 Traçado militar global dos EUA
A distribuição das forças militares dos EUA ao redor do mundo é muito reveladora.
Os Estados Unidos têm bases militares em mais de 60 países e presença militar em mais de 150 países, cujo objetivo não pode ser os interesses comuns dos capitalistas globais. Caso contrário, por que as guarnições dos EUA no exterior (veja a Figura 2) se concentram principalmente na desenvolvida União Europeia e no Japão? Os alvos das forças militares dos Estados Unidos ao redor do mundo, que estão armadas até os dentes, claramente não são para lidar com as lutas da classe operária contra o capitalismo em vários países, mas sim contra as forças dos capitalistas de outros países que são capazes de desafiar a hegemonia dos EUA. No entanto, os imperialistas dos EUA tomaram uma posição de "viver e deixar viver" ao lidar com os capitalistas monopolistas de outros países, como os da Europa e do Japão, desde que se submetam à posição de líder supremo dos Estados Unidos. Isso é para evitar uma luta de vida ou morte entre os capitalistas ao redor do mundo que poderia destruí-los a todos, especialmente após duas Guerras Mundiais.
A Figura 1 e 2 têm uma característica comum impressionante, a saber, a concentração do Global 500 está altamente correlacionada com a concentração do poder militar dos EUA no exterior. Tanto as bases do Global 500 quanto as bases militares dos EUA estão densamente localizadas na Europa e no Japão.
A partir disso, podemos ver por que os imperialistas dos EUA provocam implacavelmente a Rússia já emasculada, e por que forçaram a Coreia do Norte a embarcar no caminho para se nuclearizar. Sem ameaças da Rússia ou da Coreia do Norte, os capitalistas monopolistas da União Europeia e do Japão teriam desafiado a necessidade de tropas dos EUA estarem estacionadas em seus países. Os imperialistas dos EUA precisam de inimigos não apenas para seu complexo militar-industrial, mas também para manter outros potenciais desafiantes nos países desenvolvidos sob controle. 5. China e o imperialismo global liderado pelos EUA
1) A posição do capitalismo chinês no mundo atual
Em termos de sua força militar, a China desfruta de soberania completa. Comparado com aqueles países do G7 que têm os exércitos dos EUA estacionados em seus países, como a União Europeia e o Japão, ou com aqueles países subdesenvolvidos que nem mesmo possuem uma estrutura industrial coerente e têm que depender de países desenvolvidos para sua própria força militar, como a Índia, a soberania militar da China corresponde à da Rússia.Apoiada por sua soberania militar, a China desfruta de soberania política completa, o que a diferencia dos países do G7 e de outros países subdesenvolvidos que são politicamente restringidos pelos imperialistas dos EUA. Armada com soberania política e militar, economicamente a China só entrou no sistema capitalista mundial de forma condicional, como em sua entrada na OMC.
2) A singularidade do Conglomerado de Capital Estatal
Não é o rápido crescimento do capitalismo no setor privado chinês que preocupa os imperialistas ocidentais. Em vez disso, é a forte expansão do setor estatal. Das empresas na lista dos Global 500 nas Tabelas 1 e 2 acima, aquelas cerca de 100 da China são em sua maioria empresas do setor estatal, enquanto há 10 anos, apenas 20 dos Global 500 eram da China.Há uma diferença muito distinta entre as empresas estatais da China e as do Ocidente. Como os funcionários do governo são contratados e pagos pelos "contribuintes", ou seja, pelos capitalistas monopolistas, os gerentes dessas empresas estatais no Ocidente devem servir aos interesses dos capitalistas monopolistas. A propriedade dessas empresas estatais no Ocidente não pertence aos burocratas governamentais (pois os funcionários do governo não podem formar um grupo de interesses que contenda pelo poder contra os capitalistas ali). Em vez disso, elas pertencem aos capitalistas como um todo, seguindo mais ou menos o princípio de um dólar, um voto, como em uma empresa de capital aberto. Em outras palavras, dentro dos países imperialistas ocidentais, a verdadeira propriedade das empresas estatais é decidida pela quantidade de capital que cada capitalista possui. Esta é a verdadeira natureza da democracia ocidental. Em contraste, a propriedade das empresas estatais chinesas pertence à burocracia governamental chinesa, e não aos capitalistas chineses como um todo.Sem uma "democracia" capitalista funcional, os capitalistas privados não podem intervir efetivamente nos assuntos das empresas estatais. Isso ocorre porque a burocracia governamental na China não é serva dos capitalistas, mas sim a proprietária do Conglomerado de Capital Estatal. Eles não são responsáveis perante ninguém, a não ser a si mesmos, pois são um corpo autoproclamado no poder. No entanto, para equilibrar todos os tipos de interesses poderosos dentro do Conglomerado de Capital Estatal, a fim de evitar que os interesses gerais do grupo sejam prejudicados pelo parasitismo e comportamento de busca de rendas, o que será inevitavelmente trazido pelos monopólios, a liderança do Conglomerado de Capital Estatal dividiu conscientemente os negócios e empresas estatais em todos os setores em várias empresas semi-independentes competidoras. Por exemplo, no setor de energia, existem empresas competidoras como China Petrol e Sinopec, etc., na aviação existem as competidoras Air China, China Eastern Airlines e China Southern Airlines, etc., há cinco bancos competidores no setor financeiro e três empresas competidoras em telecomunicações, etc.Para os interesses do Conglomerado de Capital Estatal como um todo, essas empresas são frequentemente redivididas ou recombinadas conforme necessário. Por exemplo, o setor de equipamentos ferroviários foi dividido em dois negócios há mais de uma década, justamente quando grandes construções de metrôs urbanos e uma rede de trens de alta velocidade começaram a acontecer em toda a China. Em 2015, como parte da estratégia "Going-Out" da China e para evitar que suas empresas subordinadas competissem entre si internacionalmente, as duas foram recombinadas.Não apenas eles redividem ou recombinam as empresas conforme necessário, mas frequentemente rotacionam os CEOs dessas empresas competidoras. Em 20 de julho de 2015, por exemplo, a Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais (SASAC) anunciou a rotação pessoal entre os CEOs de quatro empresas relacionadas ao setor ferroviário. Para acabar com uma competição de marketing destrutiva entre as empresas controladas pelo Conglomerado de Capital Estatal, em 1º de novembro de 2004, a SASAC anunciou uma rotação semelhante dos CEOs das três principais operadoras de telecomunicações concorrentes: China Telecom, China Mobile e China Union no mesmo dia. Esse tipo de rotação de CEOs por decreto do governo é inconcebível nas empresas capitalistas mutuamente autônomas no Ocidente.Nos países imperialistas onde os capitalistas monopolistas privados dominam, como nos Estados Unidos, na União Europeia ou no Japão, as empresas, os partidos políticos e o setor militar são relativamente independentes uns dos outros. O colapso do banco de investimentos Lehman Brothers em Wall Street em 2008 foi um exemplo disso. Em comparação, no início de julho de 2015, com uma ordem do Conselho de Estado, as empresas estatais impediram coletivamente um colapso no mercado de ações da China, o que é difícil de fazer em outros países capitalistas. Esse é o tipo de capitalismo com "características chinesas" que é único no mundo.

3) Avaliando o Conglomerado de Capital Estatal
As pessoas frequentemente negligenciam o fato de que o Conglomerado de Capital Estatal possui o maior capital e o mais alto grau de poder monopolista de todos os grupos de capital individuais no mundo. Como a China está em ascensão, é particularmente necessário explorarmos a natureza desse grupo, ter um entendimento mais profundo de sua base econômica e uma descrição clara de seus atributos básicos.
Com base nas declarações de ativos da Tabela 3, podemos ver que o grau de poder monopolista do Conglomerado de Capital Estatal (medido por seus ativos) superou amplamente qualquer grupo capitalista individual no Ocidente.
Além disso, de acordo com os dados divulgados pelo Ministério das Finanças da China, até o final de 2014, os ativos totais das empresas estatais (não financeiras) somaram 15.953 bilhões de dólares, dos quais, os ativos totais das empresas pertencentes ao governo central somaram 8.391 bilhões de dólares, enquanto os ativos das empresas estatais provinciais totalizaram 7.563 bilhões de dólares.

Os dados acima mostram que, no que diz respeito a uma única empresa listada, aquelas empresas estatais da China são comparáveis em tamanho àqueles grupos de capital monopolista dos Estados Unidos, da União Europeia ou do Japão. No entanto, em contraste com a relação relativamente autônoma entre empresas no mundo ocidental, todas as empresas estatais na Global 500 da China são entidades subordinadas do Conglomerado. Ao combinar o capital industrial e financeiro como um todo, ele possui mais capital do que qualquer empresa capitalista monopolista individual, agrupamentos, multinacionais, conglomerados, cartéis, sindicatos, consórcios ou trustes nos Estados Unidos, Europa ou Japão. Guiado pelo capitalismo de Estado, esse Conglomerado Estatal de Capital da China possui um controle absoluto de seu partido governante, de seu aparato estatal e de seu exército. Isso lhe permite mobilizar diretamente o maior capital industrial e financeiro do mundo, além do poder do Estado, para servir à sua própria necessidade de expansão de capital. A força desse grupo é demonstrada por seu domínio na manufatura. Com exceção das empresas de alta tecnologia, parece que todas as demais empresas chinesas listadas na Tabela 4 são estatais. Embora o hiato tecnológico entre as empresas estatais chinesas e suas contrapartes multinacionais ocidentais ainda seja muito grande, com base na força de capital das estatais, por meio de aquisições ou por gastos massivos de investimentos, a diferença entre as duas está rapidamente diminuindo. Devido à grave crise de superprodução nos últimos anos, as empresas estatais enfrentam uma forte pressão de "Saída". A futura proporção de seu capital no exterior continuará a crescer. Elas estão se esforçando para superar sua fraqueza de ter demasiado capital investido em seu país de origem. Portanto, nos últimos anos, as tendências de crescimento tanto das exportações de mercadorias quanto de capital da China preocupam os países ocidentais. As exportações de capital da China para a Ásia, África, América Latina e União Europeia são sólidas exportações clássicas de capital, e em sua maioria são investimentos não financeiros. A partir de 2015, os investimentos chineses não financeiros no exterior superaram o investimento direto estrangeiro (IDE) não financeiro na China. Se alguém ignorar o papel do Conglomerado Estatal de Capital no mundo capitalista atual, e não perceber que ele é a força mais poderosa por trás da ascensão do capitalismo chinês, não poderá entender por que o capitalismo chinês conseguiu ascender a uma posição que ameaça as potências ocidentais, enquanto outros, como Índia ou Brasil, não conseguiram. A menos que o Conglomerado Estatal de Capital colapse por si mesmo, como foi o caso da antiga União Soviética, qual é a chance de que ele não dispute com o atual líder mundial pela hegemonia global? Pode o desejo humano subjetivo mudar as leis objetivas e as lógicas internas do desenvolvimento capitalista?
4) O desafio da China à liderança dos EUA no imperialismo global
A relação entre China e Estados Unidos certamente é muito diferente daquela do período da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Contudo, isso não significa que China e Estados Unidos não contenderão pela hegemonia. Uma vez que a China não consiga continuar seu desenvolvimento muito bem sob o sistema imperialista atual, ela definitivamente tentará mudar o sistema. Em relação a outros países desenvolvidos, a China é de fato independente, especialmente em termos militares e políticos, ultrapassando de longe outros países desenvolvidos. Sua força de independência econômica também está crescendo gradualmente. Em contraste, os Estados Unidos controlam firmemente os assuntos militares dos outros países desenvolvidos através da OTAN e outros métodos, com os quais os Estados Unidos podem facilmente manipular a política desses países. Os desafios chineses à hegemonia mundial imperialista dos EUA hoje obviamente não significam que a China já esteja sentada com os Estados Unidos em condição de igualdade, alcançando uma situação semelhante à da União Soviética durante a Guerra Fria. Contudo, o desafio da China é diferente do desafio dos carros japoneses ao mercado dos EUA nos anos 1980, ou do desafio que o Euro representa para o Dólar, entre outros. Devido à falta de independência militar, e à dependência política causada por isso, não importa qual tenha sido a ameaça representada pelo Japão ou pela UE, os imperialistas americanos foram capazes de conter o desafio utilizando suas vantagens políticas, econômicas e militares, ou agindo como sabotadores. Esta é a razão fundamental pela qual aqueles que tentam refutar a "ameaça chinesa" apontando que "a mídia americana também exagerou a ameaça japonesa nos anos 1980, mas tudo desapareceu depois", erram no ponto principal. Devido à sua independência militar, a independência política da China está assegurada, o que torna o desafio chinês difícil de ser contido pelos EUA. Isso é o que mais preocupa os imperialistas americanos. O imperialismo dos EUA deveria ser o que mais claramente reconhece quem representa uma ameaça real à sua hegemonia. Na África, por exemplo, os imperialistas americanos perceberam que não podem mais contar apenas com seu poder econômico para contrariar a influência crescente da China ali. Precisam confiar cada vez mais em sua hegemonia militar nua para enfrentar seus oponentes. Embora a declaração das potências ocidentais de que "a China está promovendo um novo colonialismo na África!" soe como ladrões gritando "pega ladrão", as potências ocidentais, afinal, possuem um faro muito apurado para detectar quem realmente ameaça seus interesses — muito mais forte do que intelectuais eruditos ou observadores externos. Eles não têm medo de um grande número de pequenos comerciantes chineses, pois os indianos podem ser até mais numerosos na África do que os chineses, e não ouvimos nenhuma condenação ao neocolonialismo indiano. O motivo pelo qual condenam o grande capital chinês entrando na África é porque "é preciso ser da mesma laia para reconhecer o outro". O capital chinês está gradualmente quebrando o monopólio ocidental na África. Sem esses desenvolvimentos, não haveria pânico nem condenações do Ocidente contra a China. O desenvolvimento da situação internacional é tão claro que os imperialistas dos EUA, na África, não estão preocupados com desafios vindos da Rússia, Brasil ou Índia, nem de outros antigos imperialistas.
6. Conclusões
Depois que a China perdeu a guerra do ópio em 1840, especialmente após a derrota na guerra de 1894 contra o Japão pelo controle da península coreana, a China tornou-se um país pobre, sofrendo agressão e opressão pelas potências imperialistas. Contudo, após a revolução de 1949 que expulsou os imperialistas ocidentais, e a construção de uma base industrial na era Mao, bem como quarenta anos de condições especiais para o desenvolvimento capitalista soberano chinês, ela já não é mais um país agrícola pobre e atrasado. Com a ascensão do capitalismo chinês, sua posição no mundo sofreu uma mudança dramática. Há muitos exemplos de mudanças gigantescas na história. Na década de 1890, a produção industrial dos Estados Unidos superou a da Grã-Bretanha, embora fosse uma ex-colônia britânica. Hoje, a China também superou os Estados Unidos. Em 1900, apenas 50% da população dos EUA trabalhava na agricultura; em 2000, a população agrícola da China também caiu para menos de 50%. Há mais de um século, a Grã-Bretanha teve que lidar, de um lado, com a ascensão da Alemanha, e de outro, com a ascensão dos Estados Unidos. Hoje, o imperialismo americano enfrenta a mesma situação. Por um lado, precisa lidar com as economias combinadas relativamente fortes da UE e do Japão; por outro, com a ascensão da China. Baseando-se na história da China, se alguém adotar uma visão nacionalista estreita, é esperado que sinta raiva pelo "tratamento injusto" aos capitalistas chineses no exterior. Contudo, se se adota uma perspectiva marxista-leninista-maoísta, defendendo o internacionalismo proletário, e utilizando ferramentas de análise de classe, então, essas palavras em defesa da expansão neoimperialista ainda se sustentam? Qual é então sua posição de classe? Qual a diferença entre essa atitude e a sofística dos "líderes de esquerda dos trabalhadores" da Segunda Internacional, como Kautsky da Alemanha e Plekhanov da Rússia? O sentimento nacionalista de uma nação oprimida, na medida em que é anti-imperialista, é progressista e pode até ser revolucionário. Em contraste, o sentimento nacionalista de um país imperialista, por ser baseado na opressão de outras nações, é reacionário. O nacionalismo crescente na China hoje contém menos elementos de indignação contra a hegemonia ocidental e mais arrogância de disputa pela hegemonia. Com a ascensão do capitalismo chinês, ele rapidamente passa de progressista a reacionário. As pessoas que defendem a lei da selva nas relações internacionais (o que é o que fazem os imperialistas) também tolerarão a opressão capitalista da classe operária em casa. Nacionalistas são todos a favor da pátria, pois é nela que se pode contar para defender os interesses no exterior. Na era da globalização capitalista, embora não existam fronteiras nacionais impedindo o investimento do capital monopolista, a Huawei não pode contar com os Estados Unidos para proteger seus interesses no exterior. Da mesma forma, o investimento global da Apple não pode contar com porta-aviões chineses. Portanto, para que monopolistas transnacionais ou capitalistas oligárquicos invistam pelo mundo, eles devem ter sua pátria nacional a seu lado antes de ousarem se aventurar. Pelo contrário, sob o sistema capitalista, nenhum Estado capitalista usaria o exército para defender os interesses da classe operária. A história dos Estados Unidos está repleta de casos em que os capitalistas usaram o exército e a polícia para reprimir grevistas e revoltosos contra o sistema. Mesmo durante o auge das lutas trabalhistas nos anos 1930, quando o governo dos EUA finalmente mobilizou a Guarda Nacional para apontar armas para os guardas das fábricas, não era para proteger os trabalhadores em greve, mas para conter patrões curtos de visão que se recusavam a permitir o direito de greve — o que poderia ter forçado a classe operária a um caminho de revolução durante a Grande Depressão. Portanto, enquanto a classe operária não estiver no poder, os trabalhadores não têm pátria. Independentemente de quão solene e elegante seja a redação de uma constituição nacional, mesmo invocando frases marxistas-leninistas, hasteando bandeiras e jurando promessas sagradas, no fim das contas, para determinar se a classe operária possui uma pátria, deve-se observar se, quando ela se levanta para defender seus direitos, o regime "protege ou reprime o povo", como dizia Mao. A quem protege, revela quem tem uma pátria.Podemos perguntar: na era da globalização, o povo da aldeia global permitirá que uma nova superpotência domine o mundo? O mais alto estágio do capitalismo de Estado evitará seu colapso, como aconteceu com a União Soviética? A realidade é que o imperialismo dos EUA possui armas nucleares suficientes para destruir o planeta várias vezes. Como adverte um provérbio chinês: não irá "largar a faca de açougueiro e tornar-se Buda" por compaixão à humanidade. Lutará até o amargo fim. Com o declínio dos Estados Unidos, para manter seu Estado hegemônico, seu povo terá que pagar um preço cada vez maior. Essa é uma condição prévia para o despertar do povo dos Estados Unidos. Só por meio da luta anti-hegemônica dos povos do mundo poderá o povo dos EUA despertar — como na Guerra da Coreia e na Guerra do Vietnã. Caso contrário, uma guerra entre imperialistas pela hegemonia arrastará o povo americano para o campo imperialista. Na era nuclear, a única saída para a existência da humanidade é que os trabalhadores do mundo se unam e lutem contra todas as hegemonias!
NOTAS:
Ou seja, o valor que um trabalho pode criar dentro de um ano é muito mais alto do que o valor dos bens ou serviços que são necessários para manter a sobrevivência daquele trabalho por um ano, expresso em termos de seu salário. Em geral, o que um capitalista compra através de um salário é a força de trabalho de um trabalhador, incluindo o custo de criar os jovens e cuidar dos idosos, não o valor que um trabalhador pode criar. Isto é como o valor médio de um boi em uma fazenda ser baseado no custo de criar e alimentar um boi (antes do surgimento dos tratores), não no que um boi pode fazer. Nesse sentido, a troca da mercadoria força de trabalho com salários é uma troca de valor igual.
Veja, por exemplo, a Tabela 6-2 em Minqi Li, Yaozu Zhang, Zhun Xu e Hao Qi, O fim do Capital – Economia Política do Povo para o Século XXI, China Renmin University Press (março de 2016).
Ou seja, enquanto o trabalho vivo é orgânico, o trabalho materializado, como ferramentas, equipamentos e edifícios, é inorgânico. Como o valor só pode ser criado pelo trabalho vivo, então, quanto mais intensivo em capital for o método de produção utilizado, menor se torna a proporção do investimento total em trabalho vivo, de modo que o valor criado pelo trabalho em comparação ao desembolso total de capital torna-se menor, resultando assim na queda da taxa de lucro. Veja, por exemplo, o capítulo 13 de O Capital, Volume 3, de Karl Marx.
Minqi Li, China and the Twenty-First Century Crisis. Londres: Pluto Press (outubro de 2015).
Antes da retirada de todos os especialistas profissionais em 1960, os projetos de ajuda que a União Soviética forneceu à China foram generosas transferências diretas de tecnologia. Isso encurtou o processo de acumulação industrial da China em uma ou duas décadas. Hoje, nenhum dos países de origem das empresas do Global 500 ajudaria qualquer país em desenvolvimento através de transferência direta de tecnologia sem contrapartidas, como fez a ajuda soviética à China, ou como a ajuda chinesa aos países asiáticos e africanos durante a era Mao.
Voyage One: Combinando os princípios universais do Marxismo-Leninismo com a realidade concreta da revolução chinesa no século XXI, Red China Weekly 2015, nº 33 (2 de setembro de 2015), disponível em: http://redchinacn.net/portal.php?mod=view&aid=23863.
Para a ênfase posterior na questão ecológica, veja Minqi Li, An Age of Transition: The United States, China, Peak Oil, and the Demise of Neoliberalism, Monthly Review 59, nº 11 (abril de 2008), disponível em: https://monthlyreview.org/2008/04/01/an-age-of-transition-the-united-states-china-peak-oil-and-the-demise-of-neoliberalism.
É aqui que o capital financeiro entrou. Aqueles que concedem mais controle ao capital financeiro têm uma maior velocidade de expansão da capacidade. Eventualmente, o capital financeiro torna-se o rei do capitalismo.
The Economist. 2003. O fim da era do petróleo. Disponível em: http://www.economist.com/node/215571.
Voyage One, The Historical Destiny of the Chinese Proletariat, Red China Weekly 2015 No. 8 (February 24,2015)
Minqi Li, China and the Twenty-First Century Crisis. Londres: Pluto Press (Outubro de 2015).
Veja também, por exemplo, Wallerstein: U.S. Weakness and the Struggle for Hegemony https://monthlyreview.org/2003/07/01/u-s-weakness-and-the-struggle-for-hegemony/