O que está acontecendo no Quênia e no Togo?
- Bruno Alves
- há 14 horas
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Na última semana, duas nações africanas viram seu povo levantar, na capital Nairóbi, no Quênia, e em Lomé, capital de Togo.
No Quênia, os protestos acontecem no aniversário de um ano de quando manifestantes invadiram o parlamento no Quênia, denunciando o aumento de impostos e a piora das condições de vida do povo (o aumento dos custo de vida) devido a uma nova lei criada pelo governo de William Ruto a fim de pagar as dívidas externas do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e denunciando também o agravamento da violência policial no país e a repressão às manifestações de oposição às políticas do governo. Como resultado, foram assassinadas 60 pessoas em 25 de junho de 2024, quando a polícia abriu fogo contra os manifestantes que invadiam e colocavam fogo na entrada do parlamento queniano, além de sequestrar diversas pessoas, incluindo jornalistas.
Essa nova onda de protestos, que ocorre principalmente em Nairóbi, foi chamada pelas famílias das vítimas desses manifestantes assassinados no ano passado, instigados pela consigna de “ocupar a casa do governo”, referindo-se à casa do presidente Ruto, a quem o povo queniano exige a renúncia. Os protestos e o ódio do povo queniano vem se intensificando a cada vez que a repressão se agrava por parte do governo patrocinado pelos EUA e equipado com armamento israelense. A polícia interditou as principais vias de circulação de Nairóbi e os prédios do governo foram bloqueados com arame farpado, mas isso não impediu que os manifestantes respondessem a repressão do governo, lançando pedras contra as forças policiais que atiraram gás lacrimogêneo contra a população revoltada. Também ocorreram protestos na cidade de Mombaça e na cidade de Kikuyu, em que manifestantes queimaram prédios do governo, uma delegacia policial e um prédio que funciona como tribunal. Em outros condados (unidades administrativas) do país também houve manifestações, como Machakos e Nyeri.

Já em Togo, o que se assiste é uma luta aberta nas ruas de Lamé pelo impeachment de Faure Gnassingbe, recém-empossado presidente de conselho de ministros do país, cargo mais alto do poder executivo criado após um golpe militar institucional que instaurou nova constituição encerrando as eleições presidenciais e instituindo um parlamentarismo com Gnassingbe como chefe. Este novo cargo, ainda que sob a denominação de “título honorário”, não possui limites constitucionais no número de mandatos e foi criado justamente para manter Gnassingbe no poder, junto ao parlamento que é composto de 108 das 113 cadeiras na Assembleia Nacional por seu Partido, o União do Povo Togolês (Rassemblement du Peuple Togolais/RPT) posteriormente renomeado como União pela República (Union pour la République/UNIR).
Gnassingbe está no poder desde 2005, empossado após a suspensão da constituição feita com o apoio do exército, logo após a morte de seu pai, Gnassingbé Eyadéma, ex-presidente militar de Togo e criador do RPT. Ele subiu ao poder igualmente com um golpe militar, em 1967, após mandar assassinar Sylvano Olympus - primeiro presidente pós-independência (1960) -, e, após sucessivas constituições, se manteve como chefe de Estado do país por quatro décadas com apoio da França, sua ex-metrópole. Assim como Eyadéma, Faure cumpre com os interesses da burguesia e dos latifundiários togoleses de etnia Kabré, do norte do país, atrelados principalmente ao extrativismo de ouro, petróleo e fosfato de cálcio, junto à produção agrícola de soja e oleaginosas. Tendo como principais destinos países como China, Índia e outros que possuem hegemonia regional (que servem aos interesses de imperialistas europeus e norte-americanos na região, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos), e tendo ao mesmo tempo um forte domínio da França, fazendo parte do que um dia foi a chamada “FrançÁfrica” (composta por ex-colônias francofônicas), o Togo e toda região são palcos de disputas entre diferente nações imperialistas pelo seu domínio.
O levante que já dura três dias tem se destacado por levantar barricadas em estradas nos diversos bairros da cidade e pela resposta com uso de todo tipo de projétil à violência das forças de segurança, e já obteve conquistas ao interromper parte das mudanças instauradas. Ao mesmo passo, já são 7 mortes por repressão do governo reacionário de Gnassingbe e dezenas de prisões.
As jornadas de protestos em ambos os países, um do oeste africano, Togo, e outro do leste, Quênia, são signo da necessidade de reeditar os movimentos anticoloniais do século passado, que foram capazes de arrancar a independência formal dessas nações, mas agora enquanto movimento antiimperialista, para que seja conquistada verdadeira independência para o povo togolês e queniano.