SP: Movimento Estudantil da PUC mobiliza amplos setores e conquista reivindicações com ocupação
- Núcleo de São Paulo
- há 5 dias
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Como noticiado pela Revista Revolução Cultural no último dia 19, centenário de Malcolm X, a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) foi ocupada por seus estudantes. Na quinta-feira da mesma semana, o movimento ganhou fôlego, com novos setores da comunidade estudantil aderindo à luta. A adesão de Centros Acadêmicos de diversos cursos, funcionários e professores foi fundamental para garantir a estruturação das mobilizações, fortalecendo o trabalho da Coletiva Saravá e do coletivo Da Ponte pra Cá, formado por bolsistas. Frente à ausência de um Diretório Central dos Estudantes (DCE), esses coletivos mostraram que é possível organizar a luta por fora das instituições burocratizadas e traidoras, apostando na linha de massas e na democracia apoiada na própria comunidade.
A resposta da universidade à luta justa dos estudantes foi a repressão. Antes da primeira reunião entre o Comando de Paralisação a reitoria, a FUNDASP — entidade mantenedora da PUC-SP e braço da Igreja reacionária — orquestrou nos bastidores uma manobra suja: uma Ação de Interdito Proibitório, deferida com urgência pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, na noite de quinta-feira. A medida, que sequer havia sido comunicada à reitoria até o momento de sua execução, representou um atentado direto à liberdade de organização política dos estudantes e um ataque direto à ocupação justa do corpo discente.
Essa ação judicial, que autorizou o uso de força policial contra os estudantes, criminaliza abertamente a mobilização e expõe nominalmente quatro estudantes processados pela Fundação. A prática do vazamento prévio dessas ações já havia sido utilizada pela FUNDASP nas greves de 2017 e 2018, configurando uma linha sistemática de repressão contra qualquer organização independente da juventude.
A FUNDASP, sob o comando do Pe. Rodolpho e do arcebispo Dom Odilo Scherer, detém o verdadeiro poder sobre a universidade, acima de qualquer reitor eleito. Esta é a estrutura típica das instituições privadas sob a tutela da Igreja: um poder clerical acima de qualquer representação estudantil ou docente, sustentado por interesses de classe e alinhado ao aparato repressivo do velho Estado.

Na noite de sexta-feira, estudantes se reuniram em uma das maiores assembleias da PUC-SP dos últimos anos. O reitor, Vidal Serrano Nunes Junior, esteve presente e tentou mediar, mas seu posicionamento vergonhosamente submisso à FUNDASP foi o estopim para que os estudantes reafirmassem, por unanimidade e aclamação, a manutenção da paralisação. A defesa da mantenedora por parte da reitoria foi um divisor de águas: ficou claro que ela está comprometida com a repressão e não com os estudantes.
Na assembleia, ainda, o fascista Douglas Garcia, imitando os reacionários de plantão que foram provocar estudantes na USP e UFF neste mês (e que se deram muito mal!), apareceu para tentar atrapalhar o andamento das decisões e criminalizar o movimento estudantil em mais um de seus típicos videos. Com plena razão os estudantes o colocaram para fora.

Após a assembleia, a reitoria afundou ainda mais na lama da colaboração com a repressão, ao divulgar uma nota que criminaliza o movimento estudantil e ataca a paralisação legítima. Mas a juventude não se calou. Pelo contrário: a mobilização se ampliou, alcançando níveis de adesão e combatividade que não se viam há mais de sete anos.
A atual conjuntura revelou também a miséria política de certos setores do movimento estudantil institucionalizado, cuja expressão maior é a gestão do Centro Acadêmico 22 de Agosto, vinculada ao PDT, que revelou sua face oportunista e conciliadora. Em vez de unir-se à luta pela transformação da universidade, atuou como força de contenção, atrasando assembleias, propagando desinformação e buscando deslegitimar os mecanismos coletivos de decisão estudantil. Sua postura desmobilizadora objetivou preservar a normalidade imposta pela mantenedora e reitoria e manter a universidade nos mesmos trilhos.
Mais grave ainda foi a tentativa dessa gestão de deslegitimar a participação de estudantes do curso de Direito na assembleia geral dos três setores, numa clara tentativa de dividir o movimento e confundir a base. A resposta veio de imediato: todos os estudantes matriculados na universidade tiveram direito de voz e voto, independentemente de curso ou origem.
As pautas tratadas na assembleia geral - que se consolidaram ao longo dos dias e refletem a necessidade urgente de permanência e enfrentamento radical ao racismo e à transfobia institucionalizada - foram: obrigatoriedade de curso de letramento racial para docentes; aplicação imediata de um currículo antirracista; barateamento do Restaurante Universitário com dupla gratuidade para bolsistas; congelamento das mensalidades; e implementação de bolsas específicas para pretos, pardos, indígenas (PPI) e cotas trans.
Além dessas pautas, a mobilização alcançou uma conquista histórica do movimento estudantil puquiano: a aprovação, pela assembleia geral dos três setores (estudantes, docentes e funcionários), da recriação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC-SP. A iniciativa, que será conduzida por meio de uma Comissão de Centros Acadêmicos (CCA), surge como resposta direta à necessidade de consolidar uma organização de base combativa, democrática e independente da burocracia institucional e dos interesses da reitoria e da FUNDASP. Trata-se de um passo decisivo na construção de uma direção política do movimento estudantil que sirva aos interesses dos estudantes, e não às alianças conciliatórias com a reitoria ou a mantenedora.
Este é um momento histórico para a reorganização do movimento estudantil na PUC-SP, palco de resistências históricas, como a de 1977, quando o Estado buscou tomar em suas mãos a universidade.
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Errata: a assembleia geral dos três setores foi realizada na segunda-feira, dia 26, em dois turnos (9h e 19h) e deliberou sobre os rumos da mobilização estudantil. O reitor Vidal Serrano participou de assembleia realizada na sexta-feira pelos estudantes.