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China apoia junta militar golpista em Mianmar de olho em terras raras

Atualizado: 1 de ago.

Em fevereiro de 2021, após derrota do partido de extrema direita nas eleições de Mianmar, uma junta militar com diversos generais a cabeça deram um golpe militar no país do sudeste asiático. Apoiado pela China, o golpe desencadeou o surgimento de diversos grupos armados de resistência ao golpe e uma guerra civil sangrenta consequentemente, resultando em uma divisão de áreas do país entre controladas por esses grupos e pela junta militar.


O papel da China, que não tem de fato participação direta no golpe, foi apoiar os militares logo após a consolidação deste novo regime, classificando a prisão da então vencedora das eleições Aung San Suu Kyi, como ‘’uma remodelação de gabinete’’¹. Em 2024, o general líder da junta esteve em Pequim em reuniões com Xi Jinping para discutir diversos assuntos, como afirmou o general na época: “Nos reuniremos para discutir com autoridades governamentais da República Popular da China sobre a amizade entre os governos e os povos dos dois países, para desenvolver e fortalecer a cooperação econômica e multissetorial”. Neste encontro, foram assinados diversos acordos comerciais. Mas qual é o interesse do imperialismo chinês em Mianmar?


Chefe militar da junta golpista, Min Aung Hlaing. Foto: Pavel Bednyakov/Pool.
Chefe militar da junta golpista, Min Aung Hlaing. Foto: Pavel Bednyakov/Pool.

AS TERRAS RARAS NO CENTRO DO PROBLEMA


Mianmar está em uma localização muito estratégica para a China, pois se encontra entre o território chinês e a Índia, além de ter saída para a Baía de Bengala, que dá no Oceano Índico. Além da sua localização, existe um outro fator crucial em todo esse processo: as terras raras. O território de Myanmar é rico das chamadas terras raras que estão hoje no centro do debate econômico mundial, e são cobiçadas por todas as nações imperialistas e objeto de intensas batalhas nas esferas diplomáticas e militares². A China detém quase que o monopólio global do processamento de terras raras, e vem intervindo de forma decisiva na situação política de Mianmar a fim de assegurar o seu saqueio das grandes reservas que há naquele país, principalmente próximo à fronteira com seu território, na região de Kachin, da qual sai quase metade deste minério que é utilizado pela China.


As terras raras são vitais para a China pois obtendo o domínio mundial do processamento das mesmas, o país consegue se defender da guerra tarifária imposta por Trump³ e se colocar em uma posição muito favorável no mercado internacional - mesmo sem precisar disso para sobreviver, devido a alta demanda interna do país por estes materiais que hoje são primordiais para as indústrias de alta tecnologia.


Mapa de Mianmar.
Mapa de Mianmar.

A SITUAÇÃO ATUAL E A INTERVENÇÃO DO IMPERIALISMO CHINÊS


Atualmente o território de Mianmar está dividido entre os grupos de resistência e a junta militar (ainda apoiada pela China) que controla o aparato estatal. Desde o ano passado, a exploração de terras raras no país teve uma queda significativa devido aos conflitos constantes próximos às minas onde são extraídos os minerais.


Esses grupos, encabeçados pelo KIA [Exército de Independência Kachin]⁴, estão no controle de quase toda a região de Kachin onde se encontram as principais minas de terras raras e estão avançando para obter o controle completo da importante cidade de Bhamo, cidade estrategicamente importante para a escoação das matérias-primas para a China. O social-imperialismo chinês, ainda no início de 2025, se viu na necessidade de ter que negociar com o KIA a compra das terras raras, porém a partir de maio ameaçou interromper essa compra e promover um bloqueio econômico às exportações do mineral se o grupo avançasse sobre a cidade de Bhamo. O que tem acontecido é que o grupo tem se colocado a ‘’apostar pra ver’’ se o imperialismo chinês vai levar a cabo esse bloqueio, enquanto que Pequim tem intensificado o fornecimento de equipamentos militares à junta e também feito treinamentos militares na fronteira com Mianmar, segundo a agência de notícias Reuters.


O objetivo do imperialismo chinês não é acabar com a guerra civil em um geral, mas garantir que as áreas onde existem a exploração de terras raras não tenham conflitos, para que não se interrompa sua cadeia de produção. A manutenção da junta militar no controle de Mianmar e consequentemente dos conflitos busca preservar os preços baixos, por conta da instabilidade do país e da falta de um governo minimamente consistente, o que permite que a mão de obra empregada nessas minas sejam quase sempre análogas à escravidão.


Mesmo tendo protagonismo em toda essa luta, o KIA não é o único grupo lutando dentro de Mianmar. Existem outros grupos que não estão em nenhum tipo de alinhamento com a China e tem como objetivo o fim do regime militar imposto no país de forma prioritária. Existem hoje conflitos em todo o país e um cenário de crise humanitária, muita pobreza e fome. Quase 3 milhões de pessoas já migraram para os países vizinhos.


Soldados do KIA em Laiza, estado de Kachin. Foto: REUTERS/David Johnson.
Soldados do KIA em Laiza, estado de Kachin. Foto: REUTERS/David Johnson.

IMPERIALISMO CHINÊS À MODA IANQUE?


Podemos observar que toda essa situação em Mianmar deixa claro o caráter imperialista do regime social-fascista de Xi Jinping e seus asseclas. Oprimem, matam e suprimem povos estrangeiros em nome dos enormes lucros de seus bilionários, desestabilizando regimes por meios de manobras políticas, econômicas e apoio militar aberto aos seus fantoches, como é o caso da junta militar que controla Mianmar.


Agora estamos chegando em um momento onde talvez exista a necessidade de intervir até militarmente em território estrangeiro para garantir que seus objetivos sejam concretizados - e a pergunta que fica é até que ponto o regime chinês está disposto a dar esse passo. Mesmo já intervindo muitas vezes indiretamente em diversos conflitos em todo o mundo e influenciando diversos governos e regimes, até agora não houve nenhum tipo de intervenção direta por parte do regime chinês. No entanto, por ora, não parece ser esse o caminho que Pequim adotará.


É preciso condenar de todas as maneiras o imperialismo chinês, principalmente porque a China hoje trafica com as consignas do marxismo, perverte o maior símbolo do proletariado - a foice o martelo - e é a maior expressão do revisionismo em nosso tempo. Em consonância a isso, deve-se apoiar a luta de resistência do povo birmânico em Mianmar, contra o imperialismo chinês e contra os militares que hoje tomam conta do país.


1 Declaração dada pela TV estatal chinesa, Xinhua.


2 Sua importância foi explicada em recente matéria da Revolução Cultural.


3 Em junho de 2025, a China ameaçou cortar o fornecimento de terras raras aos EUA se o mesmo não entrasse em acordo sobre a política tarifária de Donald Trump. Isso foi noticiado por todos os monopólios de mídia. Dias depois, um acordo entre os países sobre as tarifas foi anunciado.


4 O KIA é o braço armado da Organização da Independência de Kachin (KIO), que atua pela defesa e independência da minoria étnica Kachin baseando sua atuação nas religiões e crenças da região, do norte de Mianmar, desde 1961. Tiveram apoio da República Popular da China sob liderança do Presidente Mao, porém, após um breve período de mortes, lideranças abandonaram o acordo que tinham. Quase sem atividades antes do golpe de 2021, se reagrupou para lutar contra os militares e impôs diversas derrotas à junta.

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