Das ruas aos tribunais, a quinta-coluna atua sem disfarces
- Redação
- há 1 dia
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No último domingo, 7 de setembro, a extrema-direita brasileira tentou demonstrar publicamente sua força. Às vésperas da condenação do seu chefe de quadrilha, Bolsonaro, ela parece ter encontrado em Donald Trump o seu mais novo “messias”. Numa cena inédita, grotesca, não só uma bandeira gigante dos Estados Unidos foi aberta na Avenida Paulista, como milhares delas em miniaturas foram ostentadas pelos presentes. No dia seguinte, ao que tudo indica, num movimento coordenado, a porta-voz de Trump disse que ele não descarta o uso da “força militar” para defender os “valores” da democracia e da liberdade. Isto, dito por um mandatário que enviou os fuzileiros navais para reprimir protestos civis dentro do seu próprio território. Cinismo sem fim.
As manifestações que aconteceram por todo país levaram um contingente expressivo de pessoas às ruas, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, se levarmos em conta que a extrema-direita já não conta há alguns anos com a máquina do governo federal. Estarrecedor mesmo é que se trata de uma força política que diz abertamente apoiar (e talvez ansiar) uma agressão militar estrangeira contra o próprio país. Se cem pessoas se reunissem para defendê-lo, seria acontecimento bizarro; dezenas de milhares nas ruas e milhões nas redes sociais, é sinal de graves tormentas sociais à caminho.
Sem Bolsonaro, as divisões estão ficando cada vez mais nítidas no seio da extrema-direita, com embates até mesmo públicos, como foi o caso da fala de Silas Malafaia contra Tarcísio na passeata de São Paulo. Apontam o dedo um ao outro na sanha por determinar os rumos da cadeira vazia. Eduardo Bolsonaro aposta todas as fichas na intervenção de Trump, Malafaia nas muito bem financiadas manifestações em torno da anistia e Tarcísio busca rastejar para merecer a condição de ungido. De toda forma, o bolsonarismo sem Bolsonaro segue vivo e possui a liberdade de levantar a bandeira que quiser, ainda que isso custe o estrangulamento da débil e extremamente dependente economia brasileira – até porque um cenário agravado de crise economia agita ainda mais a sua base e lhe dá precedentes políticos para renovar o seu conto “antissistêmico”, abrindo possibilidade para uma nova tentativa de golpe.
Engana-se quem pensa que as leis sustentam o poder, quando o que se passa é exatamente o contrário. Não foi por qualquer critério moral ou cívico que os comandantes das forças armadas recuaram de consumar o golpe de Estado em 2022, mas por não enxergarem uma correlação de forças favorável. O que, aliás, em parte, se deveu à permanente intervenção política da embaixada ianque sob Biden, que não por acaso reconheceu quase instantaneamente a eleição de Lula. Sob Trump, teria sido o mesmo desfecho? Como o voto de Luiz Fux no julgamento de Bolsonaro provou, nunca faltarão canetas à soldo para dar um verniz de direito aos maiores arbítrios, desde que vitoriosos. Como temos sempre insistido, está nas massas populares, e apenas nelas, a única salvaguarda contra o fascismo e a condição para a realização da verdadeira independência nacional, ainda por vir.