top of page

Em meio à escalada de provocações, Estados Unidos ampliam intervencionismo na América Latina

ree

Segundo informam diversos veículos de imprensa, os Estados Unidos enviarão mais de 4.000 fuzileiros navais e membros da Marinha para as águas em torno da América Latina e do Caribe, a título de combater os cartéis de drogas na região. Além dos infames marines, a administração ianque alocou um submarino de ataque com propulsão nuclear, aeronaves adicionais de reconhecimento P8 Poseidon, vários destróieres e um cruzador de mísseis guiados ao seu Comando Sul (Southcom). Em memorando assinado no princípio deste ano pelo Secretário de Defesa da Casa Branca, Pete Hegseth, além de referências ao tráfico de drogas e à migração ilegal, o acesso irrestrito ao Canal do Panamá foi referido como uma das prioridades do Pentágono.


Com efeito, nem mesmo crianças podem supor que tal aparato bélico, efetivo para guerras de média e alta intensidade, possa ser mobilizado apenas para o combate aos cartéis – cujo principal mercado consumidor, como todos sabem, são os próprios Estados Unidos, cujas fronteiras, embora rigidamente controladas quanto ao fluxo de pessoas, permanecem porosas como peneiras para a entrada de cocaína no país. A razão evidente desta operação militar é reforçar a chantagem política sobre governos do subcontinente, particularmente, no que envolve a escalada da disputa econômica e geopolítica com o Estado social-imperialista emergente chinês.


Esta provocação ocorre durante descaradas ingerências do Departamento de Estado ianque em questões políticas domésticas de países governados por partidos considerados de oposição a Trump. Assim, a taxação de 50% sobre diversos produtos brasileiros, associada a apelos diretos da Embaixada dos EUA no Brasil à extrema-direita vende-pátria; a militarização da fronteira com o México; e a definição de uma recompensa de US$ 50 milhões pela captura de Nicolás Maduro, presidente venezuelano. Por mais irônico que isto pareça, tal situação pode ser bem resumida com alusão a uma fala do próprio Jair Bolsonaro sobre as relações do seu governo com a gestão de Joe Biden, quando aquele disse que “quando acabar a saliva, tem que ter pólvora”. Saído da boca de um politiqueiro reacionário de terceiro mundo, esta fala expressa apenas uma verborragia sem qualquer consequência prática; invertidos os termos da equação, devem ser levadas bastante a sério as ameaças econômicas e diplomáticas do governo Trump aos países que não se curvam incondicionalmente aos seus ditames, das quais o deslocamento dos marines como “argumento” adicional são uma consequência necessária.


Isto não significa que governos como o de Lula e de Maduro possam ser considerados anti-imperialistas, como se apressam a dizer diferentes setores da esquerda domesticada pelo capitalismo. Em primeiro lugar, o Brasil não é a Venezuela, pelo peso econômico e demográfico que lhe são característicos, razão pela qual os Estados Unidos também estão obrigados a se cercar de maior cautela na abordagem que fazem aqui. Em segundo lugar, se Maduro, exatamente pelas suas estreitas margens de manobra, parece ter buscado no alinhamento com Rússia e China uma salvaguarda para seu governo, a administração petista e o Lula pessoalmente parecem empenhados em prolongar uma política de conciliação e barganha entre os dois campos imperialistas rivais, o que levou o governo brasileiro, inclusive, a vetar o ingresso da Venezuela nos BRICS há pouco tempo, revelando uma fissura em seu próprio campo. Essa política de barganha lulista tem razões econômicas, dada a relevância da China para a economia exportadora brasileira (leia-se: o latifúndio e setores do capital monopolista), mas também políticas, uma vez que há um poderoso movimento de massas interno, com repercussões no Congresso, que milita por uma subserviência completa a Trump, a título de “combate ao comunismo”.


A oposição, aliás mais retórica do que prática, de Lula ao governo de Trump não é, como temos insistido, um projeto de soberania nacional, mas de defesa, em última instância, das classes dominantes internas e das suas margens de lucro, obtidas às expensas dos nossos próprios trabalhadores e do Erário, através de linhas de crédito privilegiadas, isenções fiscais e perdão de dívidas, como se vê agora no “socorro” às empresas afetadas ao tarifaço – o governo se limitou a apelar que elas preservassem os empregos como contrapartida do auxílio federal, mas sob o capitalismo não há nenhum mecanismo efetivo para assegurar que isso de fato aconteça. Dentro do próprio governo, há declarações mais conciliatórias, como a de Haddad e Alckmin, que sinalizaram a possibilidade de negociar tanto a desregulamentação da ação das big techs como o acesso norte-americano a terras raras e minerais críticos, além da instalação de data centers em território nacional, com grande prejuízo de nossas reservas hídricas.


A única salvaguarda contra a dilapidação das riquezas nacionais e em defesa das garantias sociais é a mobilização independente dos próprios trabalhadores. Tomar a defesa da “pátria” desvinculada da defesa do direito a emprego, terra, comida e moradia do seu povo é apenas uma maneira de entregá-la fingindo defendê-la. É, em suma, um mito, como também é um mito a defesa da democracia em abstrato sem a garantia dos direitos de greve, expressão e organização, que são pisoteados diariamente neste país, como revela a recente exoneração do professor e chargista João Paulo Cabrera pela Secretaria de Educação do Estado do Rio, por razões políticas. Não apenas em última instância, mas diretamente, são os peitos e os braços das massas trabalhadoras as únicas e verdadeiras muralhas do Brasil. Estas, se forjam não nas urnas, mas na luta.

Assine nossa newsletter

Receba em primeira mão as notícias em seu e-mail

Seu e-mail
Assinar
bottom of page