top of page

MRM - "Naxalbari vencerá, Gaza vencerá!"

Atualizado: há 4 dias

Publicamos aqui a saudação do Movimento Revolucionário de Mulheres na ocasião do encontro do Comitê Internacional de Apoio à Guerra Popular da Índia (CIAGPI) na Itália, em setembro de 2025.


Imagem: Arquivo Revolução Cultural
Imagem: Arquivo Revolução Cultural

Proletários de todos os países, uni-vos!


Naxalbari vencerá, Gaza vencerá!


“Somente a revolução proletária, socialista, pode tirar a humanidade do atoleiro criado pelo imperialismo e pelas guerras imperialistas. Quaisquer que sejam as dificuldades da revolução e seus possíveis reveses temporários ou as ondas da contrarrevolução, o triunfo definitivo do proletariado é inevitável”

(V.I. Lênin, “Materiais sobre a revisão do programa do partido”, abril-maio de 1917). 



É com grande júbilo e inseparável senso de dever proletários, marxista-leninista-maoista, internacionalista, que saudamos esta importantíssima reunião do Comitê Internacional de Apoio à Guerra Popular da Índia (CIAGPI). Estamos entre o crescente número dos elementos avançados, dentre os intelectuais revolucionários e os trabalhadores de vanguarda, que reconhecem o papel desempenhado pela Revolução de Nova Democracia na Índia como âncora estratégica da Revolução Socialista Mundial (RSM). Neste século, marcado, até aqui, pela agudização das lutas de classes e nacionais, decorrentes da crise do sistema imperialista (e o imperialismo nada mais é do que o capitalismo em seu leito de morte), o acontecimento subjetivo favorável mais relevante no campo dos comunistas foi a fundação do Partido Comunista da Índia (Maoista), em setembro de 2004. Ao fundir as duas principais correntes continuadoras do “trovão da primavera” de Naxalbari, de 1967 – cuja experiência sistematizada no 9° Congresso de 2007 é um valioso e impressionante reservatório de lições para as novas gerações de comunistas –, os camaradas maoistas indianos não apenas deram um novo impulso à revolução em seu próprio país, como dotaram o Movimento Comunista Internacional (MCI) de uma sólida base de apoio ideológica, política e material, no sentido de uma experiência revolucionária concreta a ser defendida e propagada.  


Neste século, como no decurso das revoluções no século passado, os comunistas lutam em duas frentes: contra o imperialismo e suas maquinações e agressões, de um lado; contra o oportunismo, de outro. Há um caminho que vai da vida aos livros e dos livros à vida, e é um fato comprovado pela experiência histórica que toda revolução é precedida por uma aguda luta teórica sobre qual via prosseguir para atingir os objetivos inicialmente propostos [1]. Do mesmo modo, as contrarrevoluções penetram no plano ideológico ao propor toda sorte de “atalhos” ou entrelaçamento entre a ideologia proletária e a ideologia burguesa. É claro que o principal discernimento, a palavra final neste debate, é dado pela prática revolucionária consciente e é o compromisso e a capacidade de levar suas formulações a termo o que distingue um debate compromissado e teoricamente relevante de um mero exercício escolástico. Contudo, incorreria em grave equívoco quem, em nome de fugir a teoricismo oco, incorresse no erro oposto de subestimar a importância crucial da luta ideológica. Como sintetizaram corretamente os camaradas chineses, “devemos reconhecer plenamente a natureza prolongada da luta de classes e da luta de duas linhas” [2]. Toda nova condição gera como unidade a possibilidade e a necessidade de novos avanços na teoria revolucionária marxista-leninista-maoista e, ao lado dela, modalidades falsamente originais da sua revisão.


Na frente ideológica, devemos travar um combate implacável tanto às formas descaradas de oportunismo (no mundo contemporâneo, sua expressão mais torpe é o chamando “Pensamento Xi Jinping”, que se vale de slogans do Presidente Mao para impulsionar o imperialismo com características chinesas) como às sutis, pretensamente respeitáveis e revolucionárias. Nenhum critério pragmático poderia se sobrepor à necessidade de aplicar o que Lênin sublinhava constantemente, de que “uma política de princípios é a única política acertada” [3]. Isto vale, decerto, não só para o interior do partido, mas para o movimento comunista internacional. Este exemplo de remar contra a corrente em defesa dos princípios – o que faz com que a situação de isolamento seja apenas transitória, porque estar com os princípios é estar ao fim e ao cabo a favor da corrente histórica fundamental que é a revolução – Lênin e os bolcheviques deram na prática, quando denunciaram a maioria dos partidos social-democratas que votou a favor dos créditos de guerra em 1914. Neste contexto dificílimo, pregnante de lições para os dias atuais, de marcha para uma nova guerra de partilha, ele disse, ao defender a fundação de uma nova Internacional independentemente do número de seus partidários:

  

“Se são poucos estes socialistas, que os operários russos se perguntem se havia na Rússia muitos revolucionários conscientes às vésperas da revolução de fevereiro-março de 1917. O importante não é o número, senão que expressem de modo exato as ideias e a política do proletariado verdadeiramente revolucionário. O essencial não é que ‘proclamem’ o internacionalismo, senão que saibam ser, inclusive nos momentos mais difíceis, internacionalistas de fato. (...) Antes ficarmos sós, como Liebknecht – e ficar só assim significa ficar com o proletariado revolucionário. (...) Deixai que os mortos enterrem os mortos. Quem queira ajudar aos vacilantes, deve começar por deixar de sê-lo ele mesmo”. (Lênin, “As tarefas do proletariado em nossa revolução”, abril de 1917).


Seja no quadro internacional ou nacional, um comunista não pode recear lutar em minoria, nem usar sua debilidade momentânea como desculpa para a inércia e a adoção de uma política de apaziguamento com posições oportunistas. A questão crucial do materialismo dialético é que não existe conhecimento fora da prática, não há força fora da intervenção na luta de classes. Neste sentido, é crucial que dotemos o proletariado internacional de sólidos princípios teóricos e políticos, e também de sólidas organizações de combate em cada um dos países, para enfrentar as prementes tarefas de rechaçar a guerra imperialista em preparação e aproveitar todas as possibilidades que esta situação explosiva abriga para o desenvolvimento do movimento revolucionário. Exatamente por isso, as formas mais sutis de revisionismo são as mais perigosas, pela capacidade de iludir sobretudo as novas gerações inexperientes acerca do seu “revolucionarismo”. Foi o que disse o mestre Lênin acerca das tentativas “sofisticadas” de fundir marxismo com fideísmo, contra as quais travou uma luta implacável em seu “Materialismo e Empiriocriticismo”.


Ao contrário do que predicaram tantos “profetas” do chamado “socialismo do século XXI”, que teria tornado obsoletas as formulações de Lênin, Stalin e Mao sobre o imperialismo (como capitalismo parasitário, em decomposição e agonizante, ou, sinteticamente, “capitalismo de transição”), elas são não só plenamente válidas, bem como as únicas lentes capazes de interpretar o mundo contemporâneo. As importantes modificações no cenário internacional, de refluxo do movimento comunista após a restauração capitalista na China, de intensificação da agressão aos povos oprimidos e de aproximação de uma nova guerra interimperialista, só fizeram confirmar a máxima leninista de que o imperialismo é a tendência para a violência e a reação, da qual o crescente ressurgimento do fascismo, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, é prova política material. A volta de Trump ao poder, mesmo depois dos incidentes de 06 de janeiro de 2021, assim como recorrentes manifestações neonazistas na Alemanha, marcam a aceleração da preparação dos países imperialistas rumo a uma nova guerra de partilha de povos e terras e seus recursos, que se desenha em médio prazo. Temos visto, na Ucrânia, a constante ameaça de sua conflagração.


Dizemos aí especificamente, pois nas semicolônias o fascismo é uma forma de governo mais ou menos endêmica: com efeito, entre 1945 e 1990, cerca de quatro milhões de seres humanos foram mortos em guerras civis e conflitos armados na Ásia, África e América Latina e outros muitos milhões ficaram feridos [4]


No aspecto econômico, muito se fala das modificações introduzidas pela chamada “economia intangível” (de produção e consumo nas redes, alavancada pelo desenvolvimento da “Inteligência Artificial”, etc), mas é preciso lembrar que tal economia, na verdade, está ancorada na “economia das coisas materiais” (areia, ferro/aço, lítio, água, etc). O alto custo energético (e, consequentemente, social e ambiental) para manter o funcionamento dos data centers é exemplo disso. Igualmente se vê a exacerbação da exploração do proletariado, pelo aumento do desemprego estrutural e precarização das relações de trabalho. Essas modificações, portanto, ao invés de suprimirem as contradições fundamentais da época já assinaladas na “Carta Chinesa”, apenas as acentuam mais e mais [5].


O cerne da acumulação capitalista sempre foi e continuará a ser a extração de mais-valia. A busca pelo “menor custo, a qualquer custo” segue sendo o nervo das chamadas “cadeias globais de valor”, que não podem prescindir da sua base territorial-estatal. A luta pela terra, em defesa dos povos originários, se radicalizou nesta época de esgotamento dos recursos existentes e de maior  pressão para alimentar a chamada indústria tecnológica, bem como a corrida imperialista pelas terras raras. Isto confirma o que está plenamente sublinhado nos clássicos de que o campesinato é o aliado principal do proletariado em sua luta pelo socialismo.


O papel das cidades e da classe operária, em sentido global, não diminuiu senão que, pelo contrário, incrementou o seu peso, o que se constata pelo quadro deplorável das megacidades superpopulosas e miseráveis do Terceiro Mundo, que são, ao mesmo tempo, vítimas de atrozes guerras de baixa intensidade promovidas pela reação (a título de combater as drogas, a imigração ilegal ou o terrorismo), e também palcos de lutas cada vez mais radicalizadas, sobretudo por parte da juventude que se vê sem qualquer perspectiva, como se deu recentemente em Bangladesh, Indonésia, Nepal, Filipinas, Chile, Equador, Peru, etc [6]. Por isso, é crescente a preocupação e atenção dadas pelo Exército dos Estados Unidos à guerra urbana. Este, em relatório citado por Mike Davis, analisa que “o futuro da guerra está nas ruas, nos esgotos, nos arranha-céus e na floresta de casas que formam as cidades do mundo”. Esta preocupação teve precedentes na humilhante derrota das tropas ianques na Somália, na década de 1990, e depois na Cidade de Sadr, em Bagdá, a maior favela do mundo, um reduto xiita que os invasores jamais conseguiram dominar. Sob muitos aspectos, a resistência em Gaza é um exemplo extraordinário de guerra revolucionária travada em ambiente urbano ou periurbano. 


Quanto às contradições interimperialistas, o caráter excepcional das suas relações após o colapso da URSS, com a dominação quase sem rivais dos EUA está em cheque: a situação típica do imperialismo, para a qual retornamos, é a disputa constante por hegemonia. A América Latina, historicamente vista como “quintal” dos norte-americanos, vê agora a concorrência aberta destes com os capitais chineses, e crescerem as ameaças de intervenção militar ianque, como na Venezuela e mesmo no Brasil. A rápida ascensão econômica do social-imperialismo chinês tem agora encontrado o desafio político de configurar alianças internacionais para consolidar sua influência não só regional e preparar sua frente de batalha contra o imperialismo ianque. Formam-se dois blocos ou campos antagônicos na luta por uma nova partilha do mundo: de um lado, Estados Unidos e seus aliados da OTAN pelo status quo; e de outro, a Rússia (potência nuclear) e a China, como nova potência emergente do ponto de vista econômico e militar. Na disputa entre estes dois campos, os comunistas não devem apoiar nenhuma das quadrilhas de bandidos, ainda que digam mil vezes que lutam pela “liberdade”, “democracia”, “multipolaridade” etc. Aos comunistas, o momento exige a aplicação de uma política internacional consequente contra a guerra imperialista, bem como de uma agitação e organização incessantes neste sentido. Somente assim o proletariado pode conservar a sua independência e não cair preso das artimanhas e das maquinações interesseiras da “sua” burguesia. 


O maior exemplo de nossos dias dessa política anti-imperialista e revolucionária consequente nos é dado pelos camaradas do Partido Comunista da Índia (Maoista), a quem rendemos nossas mais comovidas homenagens. Ao custo de mais de cinco mil mártires, se desenvolve a longeva guerra popular prolongada, que tem vencido a dura maré contrarrevolucionária que se estabeleceu com a restauração do capitalismo na China. Temos convicção de que o Partido vencerá a terrível Operação Kagaar, preservando suas melhores tradições revolucionárias. É dever dos comunistas e também dos democratas do mundo a solidariedade ativa, não apenas em campanhas, mas na difusão das posições que sustentam o heroico esforço de guerra dos camaradas naxalitas.


Por isto, destacamos o papel crucial que cumpre o CIAGPI entre os maoistas do mundo que hoje se organizam ao seu redor. Afinal, é inegável que a causa dos indianos – Adivasis, camponeses, Dalits etc - encontram semelhantes apelos entre as profundas massas do proletariado internacional, que não tardam em serem convocadas a estender sua solidariedade e se inspirar na sua luta. Portanto, quem divide ou enfraquece essa campanha incorre em erro, não apenas com os camaradas do PCI (M), como também trai o internacionalismo proletário tanto quanto quem, à sua época, faltou com a defesa das Revoluções Russa e Chinesa. Esse compromisso também se estende à Guerra Popular Prolongada nas Filipinas. 


Não podemos deixar de dizer que o movimento revolucionário brasileiro, seção do proletariado internacional, só se faz presente nesta campanha porque rompemos com a Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo. Nestes poucos meses, carregados de uma intensa atividade, não apenas esclarecemos às nossas bases e movimentos populares a importância da bandeira de Naxalbari, como difundimos a rica literatura revolucionária que a sustenta, que jamais havia circulado entre as novas gerações de maoistas brasileiros. Reafirmamos aqui novamente o compromisso de construir este Comitê como parte inseparável, como carne e sangue, da nossa própria organização. Particularmente às mulheres brasileiras encoraja e ensina o exemplo das militantes comunistas do PCI (M) e guerrilheiras do glorioso Exército Guerrilheiro Popular de Libertação (EGPL) na sua luta contra o fascismo hindu, o casteísmo e o patriarcado.  


Por fim, saudamos com profunda admiração o povo palestino e sua indomável resistência, em meio ao genocídio mais brutal promovido pela entidade sionista e o imperialismo ianque que a sustenta. Este povo permanece em sua terra, sem abrir mão da cultura que o caracteriza e sem abaixar sua cabeça, e atua com criatividade e coragem para estabelecer seus contragolpes mesmo tendo diante de si uma enorme assimetria de força bélica. É ali também que a violência praticada pelas potências imperialistas contra os povos por elas dominados se expressa com maior força, e por isso mesmo o destino da Palestina se entrelaça com a sorte das lutas de libertação nacional em todo o mundo no próximo período. Disto, deriva a importância da prática cotidiana do internacionalismo proletário para com aquele povo e com os povos árabes da região constantemente agredidos, cuja riqueza de sua história é tão extensa quanto fértil para os revolucionários. É com o seu espírito que avançamos. Naxalbari vencerá! Gaza Vencerá!


Viva o internacionalismo proletário!

Viva o Comitê Internacional de Apoio à Guerra Popular da Índia!

Viva o Partido Comunista da Índia (Maoista)!

Viva a heroica resistência palestina!


Movimento Revolucionário de Mulheres (MRM) - Brasil


Setembro de 2025



[1] Assim falava o Presidente Mao em “Sobre a contradição”: “Quando se está no caso em que falava Lênin: ‘Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário’, a criação e a propagação da teoria revolucionária desempenham o papel principal, decisivo. Quando se tem de cumprir uma tarefa (seja qual for) e não se fixou ainda uma orientação, um método, um plano ou uma política, o principal, o decisivo, é definir uma orientação, um método, um plano ou uma política”. (Obras escolhidas, Tomo I, 1937).


[2] “Uma compreensão básica do Partido Comunista da China”, Xangai, 1974.


[3] “Houve momentos da história do nosso Partido em que a opinião da maioria ou os interesses momentâneos do Partido chocavam-se com os interesses fundamentais do proletariado. Em tais casos, Lênin, sem vacilar, punha-se ao lado dos princípios contra a maioria do Partido. Mais ainda, não temia em casos semelhantes intervir literalmente só contra todos, julgando, como dizia amiúde, que ‘uma política de princípios é a única política acertada’”. (Stalin, “Lênin, águia das montanhas”, janeiro de 1924). 


[4] “China: uma nova potência social-imperialista!”. Partido Comunista da Índia (Maoista), 2021.


[5] O Partido Comunista da China, sob direção do Presidente Mao, propôs ao MCI a avaliação e enumeração de quatro contradições fundamentais que regiam o mundo: “a contradição entre o campo socialista e o campo imperialista; a contradição entre o proletariado e a burguesia nos países capitalistas; a contradição entre as nações oprimidas e o imperialismo; a contradição entre os países imperialistas e entre os grupos monopolistas”. Destas, destacamos a persistência da primeira apenas no campo ideológico, por não existirem países socialistas hoje.


[6] O número de empregos relacionados às ditas cadeias globais de valor saltaram de 296 milhões de postos em 1995 para 453 milhões em 2013. A maior parte desses trabalhadores se localizam nos países periféricos: em 1950, apenas 34% destes habitavam estes países; 53% em 1980 e impressionantes 79% em 2010.

Assine nossa newsletter

Receba em primeira mão as notícias em seu e-mail

Seu e-mail
Assinar
bottom of page