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Mulher indígena da etnia Kokama sofre estupros coletivos por 9 meses em cela masculina no AM.

Atualizado: há 1 dia


Manifestação no dia 10 de setembro de 2021 em Brasília em denúncia ao estupro seguido de morte da jovem indígena Daiane Griá Kaingang. Foto: Marina Oliveira/Cimi
Manifestação no dia 10 de setembro de 2021 em Brasília em denúncia ao estupro seguido de morte da jovem indígena Daiane Griá Kaingang. Foto: Marina Oliveira/Cimi

Uma mulher indígena da etnia Kokama, de 29 anos, denunciou ter sido estuprada por cinco policiais militares e um agente da guarda municipal enquanto esteve presa irregularmente em uma cela masculina no município de Santo Antônio do Içá, a mais de 800 quilômetros de Manaus, no estado do Amazonas. A denúncia foi feita em 2023 e só em 2025 que houve desenvolvimentos e denúncia pública do caso. Este é mais um dos casos de desumanização completa de mulheres indígenas, que permanecem desde o dia 1º da colonização no Brasil. A cena da indígena dormindo na cela masculina e a cena das mulheres indígenas queimadas na retomada Ava’ete em Dourados (MS) no início do ano, marcam a impunidade contra as mulheres indígenas. Neste caso, uma idosa de 60 anos, outra mulher de 36 anos e seu bebê de um ano de idade foram carbonizadas dentro de sua casa, em meio a perseguições de latifundiários e policiais as lideranças indígenas em resistência.


Segundo o relato da vítima, os abusos ocorreram durante os nove meses em que ela esteve detida em cela masculina entre 2022 e 2023 — o que por si só já configura uma infração gravíssima da legislação penal. Os abusos ocorriam durante a noite e, por diversas vezes, foram praticados de forma coletiva, e durante os dois primeiros meses ocorreram com a presença do seu filho recém-nascido. Na época, a mulher cumpria prisão domiciliar, mas foi detida sem qualquer aviso prévio e encaminhada à delegacia local. O caso se agrava ainda mais pelo fato de que, ao ser presa, ela estava no período de amamentação de seu filho recém-nascido, que permaneceu com ela na cela por dois meses. Os exames realizados pelo Instituto Médico Legal (IML) confirmaram todas as denúncias ainda em 2023.


Imagens da vítima na cela em Santo Antônio do Içá, AM
Imagens da vítima na cela em Santo Antônio do Içá, AM

Mesmo após os laudos médicos e pedidos de transferência, a vítima só foi encaminhada para uma unidade prisional feminina em Manaus em agosto de 2023 — meses após o início das denúncias e dos abusos. A indígena segue encarceirada na capital amazonense enquanto aguarda um processo de indenização e responsabilização dos agentes envolvidos. O Ministério Público Federal acompanha o caso, que pode ser enquadrado como crime de tortura, estupro e violação de tratados internacionais assinados pelo Brasil. No dia 25 de julho, 5 dos 6 acusados foram presos, estes eram: o soldado Nestor Martin Ruiz Reátegui; 1º Sargento Osiel Freitas da Silva; Cabo Claudemberg Lofie­go Cacau e o Guarda Municipal Maurício Faba Nunes, 2º Sargento Sebastião Gomes de Melo e Luiz Castro Rodrigues Júnior. O sexto policial militar investigado está foragido.


Em 29 de julho, foi concedido o regime de semiliberdade a mulher de 29 anos, que troca o presídio feminino por um abrigo para mulheres vítimas de violência sexual e em 30 de julho foi firmado um acordo judicial entre o Governo do Amazonas e a vítima, que receberá R$300 mil por danos morais e uma promessa de casa de projeto federal à vítima e sua família num prazo de 30 dias. Foi concedido que a mulher continue com acompanhamento psicológico, embora indique um início de justiça no seu caso, nada disso pode acabar com os nove meses de terror e impunidade que duraram sua tortura. O caso da indígena, que demorou dois anos para ter solidariedade que deveria, nos alerta para o aumento dos números de casos de violência contra a mulheres, que seguem aumentando após a pandemia.


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