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Nepal: A rebelião se justifica!

Atualizado: há 6 horas

Foto: Getty Images.
Foto: Getty Images.

Na última segunda-feira (10), milhares de jovens foram às ruas de Katmandu, capital do Nepal, protestar contra a corrupção, o desemprego e as péssimas condições de vida que assolam o país. O estopim para a adesão em massa às manifestações foi a repressão policial, incluída a restrição do uso das redes sociais pela população. No curso das atuais jornadas, a juventude nepalesa literalmente incendiou o país: não escaparam o prédio do governo, o supremo tribunal, a câmara dos deputados e vários ministérios. O aeroporto foi fechado, as casas de diversos ministros foram atacadas e foi declarado toque de recolher nas principais cidades do país. Após os conflitos, o primeiro-ministro do país, Khadga Prasad Sharma Oli, renunciou ao cargo junto de, pelo menos, outros 5 ministros que foram pelo mesmo caminho. Mais de 30 pessoas já morreram desde o início do conflito, incluída a esposa do ex-primeiro ministro.


Hoje, o desemprego do Nepal entre as pessoas com menos de 30 anos está no patamar de 32,8%, além da pobreza do país ter disparado nos últimos anos, resultado da economia débil e alta concentração de terras (cerca de 40% das terras produtivas do país, que é cercado por montanhas e tem boa parte do território inabitável, está na mão de menos de 10% da população mais rica). Além de tudo isso, havia por parte dos políticos do país muita ostentação e nepotismo nas esferas públicas, que passou a viralizar nas redes sociais, o que ajudou bastante também a gerar toda esta revolta.


Diante desta situação calamitosa, não é marxista quem levanta a voz para reprimir as massas em sua justa rebelião, independentemente se ela possui uma direção consequente ou não. As razões pelas quais as massas se manifestam são justas e elas devem ser disputadas, apoiadas pelos revolucionários. Se as massas hoje colocam fogo em toda Katmandu em repúdio firme contra a miséria que se encontra o país, é porque há quase 20 anos foram traídas da forma mais vil pelo revisionismo do então Partido Comunista do Nepal (Maoista), dirigido pelo renegado Prachanda, que é legitimamente um dos alvos da presente fúria popular.


Foto: Getty Images.
Foto: Getty Images.

O governo do Nepal é maoista?


Entre 1996 e 2006, o PCN (M) dirigiu a Guerra Popular do Nepal contra uma monarquia fascista que reinava no país há cerca de 240 anos. Encabeçado por Pushpa Kamal Dahal, conhecido como Prachanda, o processo sangrento teve diversas vitórias importantes em um período de muita dificuldades para o movimento comunista internacional, após o refluxo da Guerra Popular do Peru. O partido maoista e seu exército guerrilheiro, ao custo de milhares de mártires, impôs derrotas contundentes às classes dominantes do Nepal, chegando a declarar a libertação de cerca de 80% do país e a passagem da guerra popular prolongada à etapa da ofensiva estratégica. Nesta situação desesperada, as classes dominantes burocrático-feudais nepalesas abriram mão da monarquia e propuseram um governo de “salvação nacional”, pseudo-republicano, com a incorporação do PCN (M) e do exército popular às estruturas do Estado reacionário. A camarilha Prachanda-Battarai, dizendo, como todos os revisionistas, aplicar uma “análise concreta da situação concreta”, aceitou os Acordos de Paz Global e, a princípio temporária, depois permanentemente, depôs as armas e liquidou o partido e a guerra popular.


A eleição de uma Assembleia Constituinte, sob a mediação da ONU, também foi prevista para o final do ano de 2007. Em 2008, sem promover uma revolução socialista de fato, Prachanda assumiu como primeiro-ministro do Nepal, em um governo de coalizão que possuía diversos representantes das classes dominantes e até representantes dos interesses indianos na região. Prachanda permaneceu somente um ano no cargo, tendo renunciado após diversas pressões em 2009 por conta da grave crise econômica a qual o país se encontrava, o Nepal nunca chegou a ter uma revolução de fato, mesmo com os ditos ‘’maoistas’’ no poder, ao qual continuam até os dias atuais em conluio com as classes dominantes do país.


Ainda em 2006, após as assinaturas dos acordos de paz, o Partido Comunista da Índia (Maoista), alertou em carta aberta os então camaradas nepaleses: ‘’O acordo dos maoistas em fazer parte do governo interino no Nepal não pode transformar o caráter reacionário da máquina estatal que serve às classes dominantes exploradoras e aos imperialistas. O Estado pode ser o instrumento nas mãos das classes exploradoras ou do proletariado, mas não pode servir aos interesses dessas duas classes que se enfrentam acirradamente. É princípio fundamental do marxismo que nenhuma mudança básica no sistema social pode ser realizada sem destruir a máquina estatal. Reformas vindas de cima não podem trazer nenhuma mudança qualitativa no sistema social explorador, por mais democrática que a nova Constituição possa parecer, e mesmo que os maoístas se tornem um componente importante do governo. É pura ilusão pensar que um novo Nepal pode ser construído sem destruir o Estado existente’’.


Contra esta capitulação, diferentes partidos e organizações maoistas se levantaram no Nepal, reivindicando as tradições da guerra popular. A experiência recente de construção de um novo poder operário-camponês vive, sem dúvida, no mais profundo das massas nepalesas, cujo papel de entreposto disputado por potências tão importantes como a China e a Índia lhe torna inextricavelmente ligado às novas disputas por hegemonia não só na Ásia, mas no mundo. Trata-se de um pequeno país com enormes tradições revolucionárias, cuja rebelião em curso propicia melhores condições para a retomada da luta armada revolucionária, que, desta vez, rogamos, tire todas as lições da primeira tentativa e vá consequentemente até o final.



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