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Palavras hipócritas de Lula na ONU

Lula na Assembleia da ONU. Foto: CNN Brasil.
Lula na Assembleia da ONU. Foto: CNN Brasil.

Ontem, 23, Lula discursou na Assembleia Geral da ONU. Sua intervenção contou, além de constantes apelos abstratos à democracia e ao “multilateralismo”, com diversos momentos de escancarada hipocrisia. Tratemos de alguns, portanto.


A começar, chegou a defender não só a paz mundial - talvez a paz que ele almeja seja a permissão para as grandes empresas explorarem os povos dos países dominados sem grandes turbulências-, como chegou a dizer que “não há pacificação com impunidade”. Ainda que sem nomear os bois (ou, seria melhor, os gados?), certamente queria tratar dos líderes da extrema-direita do país, como se a condenação de Bolsonaro implicasse no fim do bolsonarismo no país. Não só essa mesma condenação está em cheque pela possível aprovação da PEC da Dosimetria (um destes acordos que se costuram às escondidas no velho Estado e que colocaria Bolsonaro e companhia de volta ao jogo político bem mais cedo), como, pasmem, o próprio partido de Lula teve 12 de seus membros dando voto positivo para a aprovação da PEC da Blindagem, verdadeira carta branca para os assaltos cometidos por essas gangues e as da extrema-direita¹.


Avançando, Lula chegou a dizer que “também enviamos ao Congresso Nacional projetos de lei (...) para incentivar a instalação de datas centers sustentáveis”. Essa não parece ser a política de instalação de datas centers realizada por seu governo. Livres de regulações e com permissões dadas à grupos monopolistas sem quaisquer transparência de dados, estes empreendimentos são instalados em regiões do país usufruindo-se de uma quantidade gigantesca de água, enquanto comunidades inteiras -inclusive povos indígenas, guardiões dos biomas brasileiros-, que convivem com a luta pelo recurso hídrico, são mantidas na seca. Como mostrado em recente artigo da Revolução Cultural, a assim chamada “Transição Energética” do governo já impacta negativamente 5 mil comunidades no país.


Foto: Iago Barreto Soares/The Intercept.
Foto: Iago Barreto Soares/The Intercept.

Assunto similar, o das terras raras -aquelas que abrigam minerais críticos, essenciais para as novas tecnologias desenvolvidas nos parques industriais das potências imperialistas-, também foi abordado pelo cínico presidente do país: “a corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos”. A hipocrisia, novamente gigantesca, reside justamente no fato de que seu governo tem facilitado e impulsionado a “lógica predatória” que Lula diz ser contra. As terras raras do país (que são 23% das terras raras totais do planeta), foram colocadas na vitrine mundial por uma comitiva do governo que foi ao Canadá no início de 2023, bem como o governo manteve os acordos secretos diretos entre Casa Branca e Palácio do Planalto que existiam desde a fundação de um “Grupo de Trabalho” entre as administrações de Biden e Bolsonaro para negociar os importantes minerais². A extração violenta desses minérios, longe de acabar com a “lógica predatória” e de instaurar a “sustentabilidade”, tem no mínimo devastado comunidades rurais. De acordo com o Observatório da Mineração, são 187 processos minerários de terras raras que atingem áreas de 96 assentamentos do Incra, a maior parte na Bahia e em Goiás.


Estes foram apenas alguns dos atos hipócritas do oportunista-maior do país, que por si só já são suficientes para compreender que suas palavras salivantes na ONU não resistem à força dos fatos. Eles estão aí para os que buscam enxergar.


1 Em nosso mais recente editorial, afirmamos: “a imprensa noticiou, (...) como se fosse coisa natural, uma reunião presidida por Michel Nosferatu Temer em que conversaram o relator da PEC da anistia, Paulinho da Farsa Sindical, Aécio Neves, o que sempre renasce do pó, Hugo Bosta e os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes (os três últimos, remotamente). Trata-se de uma espécie de birô político não eleito da burguesia liberal, disposto a reescrever a história segundo seus próprios interesses. Segundo Michel Temer, todos teriam concordado em aceitar uma proposta de redução de penas dos galinhas verdes, em nome da “pacificação do país””. Não parece obra do acaso os seguidos apelos por “pacificação” realizados por Temer e Lula, quase um seguido do outro.


2 Quem não se lembra de Bolsonaro, aos berros em suas fatídicas lives, promovendo a venda de nióbio, um dos minerais críticos -fato, inclusive, subestimado por muitos à época?

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