Protestos nas Filipinas confirmam a Ásia como centro da tormenta mundial
- Redação
- 24 de set.
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No dia 21 de setembro, as Filipinas foram palco de mais uma onda de massivos protestos no continente asiático, que registraram mais de 200 mil pessoas presentes em 34 províncias do país marchando nas ruas sob a consigna de “Ação já contra a corrupção!”. Os manifestantes denunciam a corrupção generalizada do regime de Marcos Jr., especialmente os casos que envolvem os projetos de controle de enchentes, que vieram à tona nas últimas semanas. Estima-se que os casos de corrupção neste setor da economia (vital para um país como as Filipinas, que convive com eventos climáticos extremos) tenham roubado 2 bilhões de dólares dos cofres públicos, o que equivale a cerca de 70% do montante disponível para as obras de prevenção de desastres.
Enquanto os políticos filipinos e suas famílias esbanjam luxos nas redes sociais, grande parte da população filipina tem vivenciado a destruição causada pelo regime no país. Projetos fantasmas e obras inacabadas que intensificam as tempestades -que atingiram o país em cheio este ano- causaram devastações a milhares de famílias. Fotos que circulam nas redes sociais mostram o cotidiano de centenas de pessoas nas Filipinas, que precisam usar barcos para locomoverem-se para seus trabalhos, que só podem realizar casamentos em igrejas inundadas e que vivem em casas e regiões inteiras debaixo d’água.
As mobilizações, não por acaso, foram realizadas na 53ª “comemoração” da declaração da Lei Marcial e os 14 anos subsequentes do regime de Ferdinand Marcos, pai do atual presidente. Iniciado em 1972, seu regime –em que este era ao mesmo tempo presidente e primeiro-ministro- perseguiu, torturou pelo menos cinquenta mil pessoas que lhe opunham, inclusos jornalistas, líderes sindicais e membros do Partido Comunista das Filipinas (PCF). A escolha da data não somente corresponde ao momento de ira do povo contra o governo, mas também é claro de sinal da elevada consciência popular presente nos protestos, que compreende o compromisso histórico da família Marcos e dos ladrões que os cercam com os grandes grupos monopolistas e, consequentemente, com a piora de suas condições de vida.
Os combativos protestos, que reuniram desde estudantes até camponeses, passando por operários, motoboys e artistas, rapidamente travaram batalhas contra as forças de repressão. Mesmo com uma barricada imposta pela polícia, milhares de manifestantes da cidade de Mendiola decidiram ir até o Palácio de Malacañang, residência e escritório oficial do presidente filipino, muito próximo e altamente financiado pelos EUA, aliás.
Como que disfarçando a sua própria fraqueza e querendo emprestá-la aos revolucionários filipinos, Marcos Jr., não muitas semanas antes dos atuais protestos, havia declarado que não existiam mais grupos guerrilheiros no país, o que para seu desespero foi respondido rapidamente pelo Novo Exército do Povo (NEP), dirigido pelo PCF, com vitórias táticas destes últimos.
Essa onda de protestos das Filipinas se soma às gigantes manifestações que tomaram o Nepal e a Indonésia recentemente, Bangladesh o ano passado, e que, fundidas com os movimentos revolucionários da Ásia, principalmente com as Guerras Populares em curso na Índia e nas próprias Filipinas, confirmam o continente como o centro mundial de tormentas. Isto certamente não é por acaso, seja do ponto de vista econômico –região extremamente populosa, cuja proporção de pessoas que vivem na miséria está entre as maiores do mundo-, seja do ponto de vista político, que fortemente influenciadas pela Revolução Chinesa e sua Grande Revolução Cultural Proletária de 1966-76, movimentos de luta armada ancorada nas mobilizações populares se iniciaram e se desenvolveram na região.