Trump manda Guarda Nacional para reprimir protestos contra deportações em massa
- Redação
- há 5 dias
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No segunda-feira (6), Donald Trump enviou cerca de 300 homens da Guarda Nacional dos Estados Unidos para a cidade de Chicago, com a alegação de proteção do Estado contra a "desordem civil" diante dos protestos do povo americano. O governador do estado de Illinois criticou estes atos alegando que ferem a 10ª Emenda Constitucional dos EUA que garantiria o direito à autonomia dos estados frente ao órgão federal. Ele tentou fazer o mesmo em Portland, no estado de Oregon, onde também estão ocorrendo atos massivos "anti-ICE", mas foi impedido por uma juíza federal da região.
Desde que as batidas policiais a procura por pessoas consideradas “imigrantes” nos EUA começaram em julho deste ano, centenas de pessoas, mesmo aquelas legalizadas, foram presas, incluindo crianças. Diante da situação de máxima repressão e racismo escancarado do governo Trump – que demonstrou a mesma política repressiva contra o povo preto nas manifestações em Los Angeles contra o assassinato de George Floyd em 2020 - o povo estadunidense têm se levantado em diversos estados contra as batidas policiais do ICE, e as manifestações têm acontecido no momentos das prisões em diversas localidades, sendo marcado pelo ataque a prédios oficiais do Departamento de Imigração, ICE na sigla em inglês
Independente das vontades dos governadores, Donald Trump ameaça utilizar do Insurrection Act, um instrumento legal estabelecido em 1807 que permite o presidente exercer um poder mais amplo sobre a atuação de todo o aparato militar (força aérea, forças armadas, a marinha e os fuzileiros navais), independente da autoridade dos governadores de estado, sob o pretexto de “ameaça” à segurança nacional. Ou seja, independente da legitimidade dos estados e sua atuação autônoma e federativa, ou mesmo da recusa dos juízes da região em liberar a atuação dos militares, o presidente pode fazer uso da brecha legal que lhe dá poderes de repressão contra a população com um pretexto qualquer de defesa da segurança nacional.
A lei do ato insurreicional foi apenas utilizada uma vez em toda história do EUA, após a sua criação. Em 1992 foi usada durante a presidência de George H. W. Bush (Bush pai), responsável pela invasão do Panamá, para reprimir uma onda de protestos em Los Angeles e dezenas de pessoas foram assassinadas pelos militares.
Esse precedente legal está gerando uma grande instabilidade política nos EUA, principalmente porque essas intervenções estão sendo colocadas em prática somente em estados e cidades controladas por governadores do Partido Democrata. Em um texto recente sobre a morte de Charlie Kirk, a redação da Revista Revolução Cultural apontou que as condições para uma possível guerra civil nos EUA têm amadurecido e parece que Trump tem jogado com essa possibilidade, tensionado e escalando tais tensões.
Em uma reunião que modificou a nomenclatura do departamento de defesa do EUA como departamento de guerra, em setembro desse ano, Trump declarou que a revolta do povo estadunidense contra a aplicação da sua política anti-imigração representa “o inimigo interno” do EUA. Na mesma reunião, que convocou centenas de generais e almirantes de todo o mundo, o secretário de defesa (ou melhor, de guerra), Pete Hegseth, anunciou novas diretrizes militares contra a cultura “woke” e pela renovação de uma cultura militar de “guerreiros”. O mesmo, acabou com o departamento de diversidade, inclusão e equidade (DEI) no seu primeiro dia como secretário de defesa do EUA, como testamento da sua conduta racista, misógina e ufanista, tipicamente estadunidense.
Desde que Trump assumiu, foram presos mais de 700 mil pessoas consideradas “imigrantes” (ou "aliens" como o próprio ICE costuma se referir) no EUA. A maioria das pessoas detidas, 70% não possuem precedentes criminais. No site oficial da ICE, um dos supostos “critérios” de detenção a imigrantes são: perigo a nação americana e condenação por atividades criminosas. O objetivo declarado da instituição ICE é a prisão diária de 3 mil pessoas, seguindo obedientemente a promessa de campanha de Trump de realizar “a maior deportação em massa da história do EUA”.
Para isso, o governo precisou aprovar o OBBA (One Big Beautiful Act) que inclui 150 bilhões de dólares num novo plano de gastos em defesa e outros 150 bilhões de dólares em patrulhamento de fronteiras e deportações. Além disso, a lei aumenta o fundo do ICE de 10 bilhões para mais de 100 bilhões de dólares até 2029, sendo a agencia americana mais bem paga de todo governo federal. O Congresso oficial de orçamento estima que todo esse aumento em deportações e militares causará a perda de seguro de saúde de mais de 10,9 milhões de estadunidenses.
Os protestos

Desde junho, 30 pessoas foram presas em protestos anti- ICE em Portland, incluindo um manifestante que foi preso por jogar uma garrafa d’agua em um policial.
No dia 3 de outubro, um protesto foi reprimido violentamente pela polícia enquanto os manifestantes gritavam palavras de ordem em frente a sede do ICE em Chicago. Os manifestantes fizeram uma barricada humana impedindo o transporte de detidos para dentro do prédio anti-imigração.
No dia 4 de outubro, um helicóptero pousou no terraço de um apartamento em Chicago, invadindo um prédio e 37 supostos imigrantes. No mesmo dia, uma mulher foi baleada a arma de fogo durante um protesto. Na mesma semana, a polícia ultilizou bombas de gás perto de uma escola e prenderam um vereador de Chicago dentro do hospital.
Mesmo diante a tamanha repressão, ainda há protestos diários e ininterruptos na sede da ICE em Chicago como resposta a repressão e a política racista imperialista do governo estadunidense. Somente essa mobilização massiva e organizada conseguirá barrar a extrema-direita estadunidense e essa cruzada contra as massas pretas, imigrantes e pobres dos EUA.