top of page

E sonhos não envelhecem

"Baño en el Río" de Diego Rivera, muralista mexicano. Obra feita em mosaico veneziano.
"Baño en el Río" de Diego Rivera, muralista mexicano. Obra feita em mosaico veneziano.

José Rivera Krangola


Prezado Salomão,

Para que as coisas não fiquem muito tempo por dizer

e para eu não ser lembrado pelo vento

escrevo essas linhas

com o coração na curva de um rio,

na calmaria que faz lacrimar os olhos.

Se de tudo se faz canção

não se poderia deixar de fazê-la agora

um dia que lá se vai.

Será que é tarde demais pra se cantar?

Não chore não, é só poesia.

Nunca é tarde demais.

E a Lua? A Lua, a Lua...

Da janela lateral se vê cores mórbidas,

homens-ratos sórdidos fazendo da barbárie

coisa natural.

Gente morta na praça.

Mas menos mal que existem aqueles que não têm nada a temer.

É preciso que se fale da bota e do anel de Zapata

do fuzil de Guevara

do quepe de Lênin

do livro de Mao.

Porque em breve chegará o tempo

de milhões de Paraisópolis com Divinópolis,

rios de asfalto e gente

entornando pelas ladeiras,

entupindo o meio fio,

e depois do primeiro passo,

aço, aço, aço

nem se lembra de olhar pra trás.

É Salomão,

a chama sem pavio nunca se apaga.

Obrigado, Lô.







Assine nossa newsletter

Receba em primeira mão as notícias em seu e-mail

Seu e-mail
Assinar
bottom of page