E sonhos não envelhecem
- José Rivera Krangola
- há 2 horas
- 1 min de leitura

José Rivera Krangola
Prezado Salomão,
Para que as coisas não fiquem muito tempo por dizer
e para eu não ser lembrado pelo vento
escrevo essas linhas
com o coração na curva de um rio,
na calmaria que faz lacrimar os olhos.
Se de tudo se faz canção
não se poderia deixar de fazê-la agora
um dia que lá se vai.
Será que é tarde demais pra se cantar?
Não chore não, é só poesia.
Nunca é tarde demais.
E a Lua? A Lua, a Lua...
Da janela lateral se vê cores mórbidas,
homens-ratos sórdidos fazendo da barbárie
coisa natural.
Gente morta na praça.
Mas menos mal que existem aqueles que não têm nada a temer.
É preciso que se fale da bota e do anel de Zapata
do fuzil de Guevara
do quepe de Lênin
do livro de Mao.
Porque em breve chegará o tempo
de milhões de Paraisópolis com Divinópolis,
rios de asfalto e gente
entornando pelas ladeiras,
entupindo o meio fio,
e depois do primeiro passo,
aço, aço, aço
nem se lembra de olhar pra trás.
É Salomão,
a chama sem pavio nunca se apaga.
Obrigado, Lô.






