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Investigação Independente Aponta para Manipulação de Vídeos por Israel


Uma investigação feita por jornalistas independentes da +972 Magazine, Local Call, o coletivo de pesquisa Viewfinder, a rede suíça SRF e o veículo escocês The Ferret, revela que dezenas de animações em 3D produzidas e divulgadas pela IDF, continham incoerências e modelos gráficos de sites públicos, sem nenhuma relação com o serviço de inteligência sionista ou com a cidade de Gaza. [1]


Estas animações foram as principais evidências apresentadas pela IDF para justificar a acusação de que o Hamas mantinha instalações militares subterrâneas sob hospitais em Gaza [2], além de servir para alegar o uso militar ou nuclear de edifícios e instalações no Líbano e no Irã. A acusação de que o Hamas utilizava de hospitais como escudos para suas bases operacionais, foi a razão alegada pela entidade sionista para uma das faces mais cruéis e desumanas do genocído em Gaza: a invasão e bombardeio sistemático de hospitais.


Foram analisadas 43 animações produzidas pelo exército sionista desde 7 de outubro e identificados mais de 50 elementos gráficos de terceiros, que foram replicados centenas de vezes em animações nas regiões de Gaza, Líbano e Irã. 


Foram identificados elementos gráficos de pacotes de modelos 3D do site KitBash3D (onde um pacote inteiro de modelos de postos militares ou vitrines é vendido por cerca de $100-200 dólares) e Sketchfab; bancadas de trabalho, armários e uma caixa de eletricidade de uma varredura 3D do site do Museu Marítimo Escocês e diversos conteúdos produzidos pelo artista Ian Hubert, que compartilha seu trabalho no site pago Patreon, incluindo medidores elétricos, postes de serviços públicos, estacionamentos e esquinas de Post Orchad, em Washignton, além de renderizações 3D de antenas e tubos projetados inteiramente por ele. 


Elementos de varreduras 3D feitas pelo Museu Marítimo Escocês em Irvine, na Escócia, usados para retratar instalações subterrâneas na Síria e no Irã em animações publicadas pelo exército israelense. [Fonte: https://www.972mag.com/israeli-army-3d-propaganda-animations]

Os modelos do Museu Marítimo Escocês foram identificados em animações publicadas pelo exército sionista, que representam supostas fábricas de mísseis subterrâneos na Síria e no Irã. Também foram identificados em uma animação do interior da Torre Mushtaha, na cidade de Gaza, divulgada após ter sido bombardeada no início de setembro deste ano, como parte de uma sistemática destruição dos arranha-céus da cidade, contando também com modelos do acervo de Hubert. Mais de 30 dos modelos de Hubert estão presentes em animações de arranha-céus em Gaza, túneis em Beirute e supostos locais de produção nuclear no Irã.


	Um modelo 3D de uma caixa energia em Port Orchard, Washington, usado por Hubert em sua série de ficção científica “Dynamo Dream”, usada para retratar a Fordow Uranium Enrichment Plant em uma animação publicada pelo exército israelense. [Fonte: https://www.972mag.com/israeli-army-3d-propaganda-animations]
Um modelo 3D de uma caixa energia em Port Orchard, Washington, usado por Hubert em sua série de ficção científica “Dynamo Dream”, usada para retratar a Fordow Uranium Enrichment Plant em uma animação publicada pelo exército israelense. [Fonte: https://www.972mag.com/israeli-army-3d-propaganda-animations]

Uma visita feita pelos próprios jornalistas à vila Yater, no sul do Líbano, onde o exército sionista apresentou animações de casas que afirmou estarem abrigando mísseis em setembro de 2024, revelou que os edifícios e ruas representados não existiam na área, uma vez que foi possível visitar a região após ter sido apenas parcialmente bombardeada. Foram inteiramente fabricados, utilizando de pelo menos três modelos únicos do Kit Antena asset pack, de Hubert, publicado no Patreon em março de 2021



O Hospital Al-Shifa foi acusado de conter uma complexa rede de túneis subterrâneos, bunkers e uma sala de comando do Hamas, retratados por meio de gráficos 3D, divulgados em 27 de outubro de 2023, pelo exército sionista.[3] O hospital sofreu um cerco de 5 meses, 2 incursões militares, bombardeio contínuo por 24h horas e estima-se que 900 pessoas foram detidas (sem informação de qualquer julgamento), 400 civis mortos, com 34 crianças, 5 pré maturas e 18 mil pessoas deslocadas, sendo 1500 pacientes com tratamento interrompido. [4]


A sala de comando apresentada na animação já havia aparecido, de forma idêntica, em outra animação publicada pelo exército sionista, representando o que disseram ser um túnel sob uma escola da Agência de Socorro e Obras da ONU (UNRWA) em Gaza. Um vídeo de um corredor subterrâneo foi divulgado em novembro de 2024 pelas forças sionistas, mas não teve nenhuma vinculação com o Hamas comprovada e tampouco correspondia a acusação alegada de que sob o hospital “fica um labirinto de túneis subterrâneos usados pelos líderes do Hamas para direcionar atividades terroristas e foguetes e para fabricar e armazenar uma variedade de armas e munições” utilizada como justificação para a realização do cerco no hospital.


Além disso, as ruas no entorno do hospital foram preenchidas com vitrines de um pacote de modelos 3D comercial, com diversos estabelecimentos fictícios. Este método também foi replicado na animação da Torre Mushtaha. No final do vídeo, o plano abre apresentando uma visão mais ampla da cidade de Gaza. Esta cena usa uma camada de base de imagem de satélite de 2024, no entanto a ilustração 3D apresenta uma paisagem urbana anterior a 7 de outubro, com a maioria dos edifícios de pé, falsificando a percepção da dimensão da destruição na cidade.


Modelos do pacote “Storefronts” da KitBash3D na animação do Hospital Al-Shifa pelo exército israelense. [Fonte: https://www.972mag.com/israeli-army-3d-propaganda-animations]
Modelos do pacote “Storefronts” da KitBash3D na animação do Hospital Al-Shifa pelo exército israelense. [Fonte: https://www.972mag.com/israeli-army-3d-propaganda-animations]

Essas animações são produzidas internamente por uma equipe especializada dentro do ramo de produção e mídia da Unidade de Porta-Voz da IDF, composta por poucos soldados. A equipe consiste em designers de movimento, modeladores 3D e animadores que trabalham principalmente com os produtos da Adobe, mas também utilizam o software de código aberto Blender.


Oficialmente, cada vídeo criado é liberado para publicação por um oficial de inteligência. Mas a distinção entre ilustração e evidência não é clara. Detalhes que faltam são simplesmente preenchidos. Modelos pré-fabricados e interiores reciclados são montados rapidamente em uma cena e, em seguida, enviados para aprovação.


Um reservista que serviu na unidade durante o genocídio em Gaza, concordou em falar sob anonimato com a equipe de jornalistas que realizaram a investigação. Ele explica que os soldados “têm que assinar um acordo de confidencialidade, então eles recebem a informação e começam a trabalhar. Às vezes, recebem um modelo 3D que a inteligência já preparou e trabalham com base nesse fundamento. Disseram-lhes: ‘Este é o prédio, aqui está uma foto ou vídeo, neste e naquele andar há algo,’ e então eles [criam animações] com base no que recebem.”


“Normalmente, eles preparam o modelo antes do ataque,”, acrescentou a fonte. “Houve casos em que, por não terem se planejado com antecedência ou por não terem atualizado a Unidade do Porta-Voz da IDF com antecedência [sobre um ataque aéreo], tiveram que criar o modelo depois.”


Este método perverso impede que uma investigação independente possa confirmar as acusações, uma vez que os alvos representados pelas animações são logo destruídos. Assim, a entidade sionista fabrica suas provas, alavanca sua agressão genocida e destrói qualquer possibilidade de se confirmar as evidências que alega ter, já que jamais poderiam justificar o assassinato de civis, crianças e recém-nascidos.


Além do aspecto humano básico, a Convenção de Genebra estabelece que o ataque militar a instalações médicas é considerado crime de guerra, passível de diversas sanções e intervenções ao agressor, com exceção apenas em caso de uso das instalações médicas para “atos prejudiciais ao inimigo”, como atividades militares ou guarda de armamentos, no entanto, com condição de aviso prévio para cessar as atividades e tendo como alvos unicamente “às atividades militares e não o hospital como um todo”.


Israel realizou 772 ataques a instalações médicas em Gaza, que causaram 924 mortos e 1465 feridos. Foram atacadas 125 unidades de saúde, incluindo 34 hospitais. [5] Apenas 14 hospitais estão parcialmente funcionais, com extrema escassez de energia e suprimentos, de acordo com relatório da OMS do início do mês de outubro. [6] 


Isto por si só já constitui o crime de guerra mais hediondo do século XXI, contando com a complacência dos principais veículos de mídia do mundo, que veiculam as animações produzidas pela IDF, sem acusar direta e claramente o genocídio realizado, ainda que reconheça a fragilidade das evidências apresentadas como justificativa para os ataques. Por acaso semelhante agressão poderia se justificar? O que falarão diante de ainda maiores inconsistências na base da propaganda pró guerra do sionismo? 


Este método marca o uso sistemático de manipulação gráfica, imitando gráficos de reconstrução forense, para falsificação de fatos como justificativa política para atacar instalações civis. A imprensa que reproduz este material acriticamente completa este processo perverso de veiculação generalizada de evidências artificiais que servem para confundir a opinião pública e legitimar um genocídio.


Meios de comunicação internacionais transmitindo animações produzidas pelo exército israelense. [Fonte: https://www.972mag.com/israeli-army-3d-propaganda-animations]
Meios de comunicação internacionais transmitindo animações produzidas pelo exército israelense. [Fonte: https://www.972mag.com/israeli-army-3d-propaganda-animations]

A fragilidade e forja dessas animações enquanto provas é mais uma evidência de muitas (estas sim, explícitas) que o objetivo da entidade sionista nunca foi defender seu território ou combater o terrorismo, mas sim vencer uma guerra colonial que iniciou desde o início de sua ocupação em 1948. Seu plano é o extermínio do povo palestino, pois este é alvo de sua demagogia religiosa e racismo sionista e nunca deixou de resistir à sua presença opressora. Seu objetivo é o controle do Oriente Médio, rico em reservas de combustível fóssil e minerais valiosos. É dever de todos as pessoas honestas e democráticas questionar e expor as mentiras com que os Estados justificam suas operações contra o povo, sejam através de planos políticos, econômicos ou militares, afirmando contundentemente seus crimes, ao contrário de jornalistas cujo rigor investigativo em relação a veracidade da narrativa genocida do sionismo, baseada em animações sem correspondência com uma fonte material real, se resumem a alegar “de acordo com Israel”.







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