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Israel toma de assalto parte da Síria com colaboração do HTS

Em dezembro de 2024, teve fim o regime de Bashar al Assad na Síria, encerrando uma dinastia familiar que geria o país há mais de 53 anos, após uma guerra civil sem precedentes que perdurou por mais de uma década contra diversos grupos armados de oposição, separatistas e jihadistas. Dentre eles, se destaca um principal: o HTS. Dissidência da Al-Qaeda, que já foi próximo do Estado Islâmico e possui patrocínio e forte influência da Turquia, tinha principal base no noroeste do país, na divisa com esse país. O HTS teve protagonismo na queda de Assad e tomada da capital Damasco e hoje está à frente do que chamam de ‘’transição democrática’’, na tentativa de reorganizar o velho Estado sírio.


Militares do HTS. Murielle Paradon/RF
Militares do HTS. Murielle Paradon/RF

Esse assalto à capital e tomada da máquina estatal síria se deu após anos de uma guerra civil sangrenta, intensa luta que devastou todo o país. Pois além da luta dos grupos rebeldes contra o regime de Assad, esses grupos também tinham (ainda possuem) conflitos entre eles próprios. Vários desses grupos controlam regiões distintas da Síria, como é o caso dos curdos¹. O HTS hoje controla as principais cidades e o aparato estatal sírio e, desde a queda de Assad, o povo sírio enfrenta uma grave crise econômica e humanitária, que vem escalando de forma exponencial. Nos últimos meses, houve diversos massacres contra a minoria étnica alauíta e contra protestos que vêm sendo mobilizados contra o HTS². Observando esse momento de fragilidade da Síria, Israel novamente coloca suas garras para fora.


Protestos por conta da morte de 745 alauítas. Foto: Reuters
Protestos por conta da morte de 745 alauítas. Foto: Reuters

Desde que os sionistas intensificaram sua agressão aos países do Oriente Médio em 1967, o território sírio é uma das principais ambições de Israel. Os sionistas invadiram e ocuparam as Colinas de Golã após a Guerra dos Seis Dias³ e desde então estão instalados nesta região. Por conta de inúmeros conflitos entre Israel e Síria após a invasão israelense, foi criada uma zona ‘’neutra’’ desmilitarizada e patrulhada pela ONU - oficializando, no fim das contas, a tomada do território pelos sionistas-, entre as Colinas de Golã ocupada e o resto do territorio sírio. Esse controle israelense de Golã garante uma vantagem estratégica por conta de sua altitude, que permite aos sionistas se protegerem contra ataques terrestres e aéreos vindos tanto do Líbano quanto da Síria e atacarem de forma mais eficiente por sua visão privilegiada de quase todo o território sírio.


Situação dos territórios na região após a Guerra dos Seis Dias. Imagem: História do Mundo
Situação dos territórios na região após a Guerra dos Seis Dias. Imagem: História do Mundo

Com o enfraquecimento do regime de Assad e a guerra civil se intensificando, Israel começou a desrespeitar essa ‘’Zona desmilitarizada’’ se infiltrando no território sírio por meio de incursões com tanques, ataques a alvos dentro da Síria (alegando estarem atacando alvos militares de organizações terroristas), dentre outras provocações. Desde o início de 2025, se aproveitando do fim da guerra civil e a instabilidade política, social e econômica instalada, Israel está se aproveitando para ampliar o seu domínio sobre o território sírio e bombardeando de forma sistemática, com a presença de tanques e tropas terrestres, a capital síria Damasco e diversas outras cidades muito importantes.


Em assembleia na ONU em 2024, Benjamin Netanyahu levou um mapa do Oriente Médio em deixava explícita a vontade de Israel em abrir uma rota que passaria tanto pelo Líbano quanto pela Síria e deixou claro os interesses dos sionistas em assumir o controle de parte destes países. É o que ocorre hoje na Síria. Esse movimento israelense tem grande valor também porque há ali na Síria grandes reservas de petróleo, além de outros tipos de riquezas naturais.


O HTS vem tomando uma postura imobilista em relação a essa invasão. Não tem movido nenhum esforço em mobilizar as massas para combater os sionistas e eles próprios não tem tomado medida firme alguma. Assim, colabora com o ataque israelense. Intrigante, pois Israel vem afirmando que os ataques são para destruir possíveis armas químicas do antigo regime de Assad, para que elas não caiam nas mãos do HTS, que os sionistas classificam como organização terrorista.


Apesar do papel importante que tem jogado a solidariedade internacional à Palestina nesse jogo de forças entre imperialismo e povos oprimidos - da qual são atestados o recente ataque sionista ao Freedom Flotilla e a perseguição aos líderes estudantis dos acampamentos estudantis em universidades americanas -, Israel tem conseguido avançar seus planos de domínio regional, contando para isso com seus colaboracionistas no interior de cada um de seus vizinhos, sobretudo enquanto não se choca frontalmente com o expansionismo turco. O HTS, portanto, tem suas mãos sujas de sangue. Nessa sanha sanguinária, colonialista, o povo ao mesmo tempo que é ignorado em todo esse debate, é quem resiste e é à ele que devemos prestar nossa solidariedade.


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¹ O povo curdo é o maior grupo étnico sem uma nação do mundo. Seu território abrange partes significativas de Turquia, Síria, Iraque, Irã e Armênia. Tem uma presença muito grande na Síria.


²Em fevereiro de 2025, houve 745 execuções de alauitas em um único final de semana, segundo o relatório do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês).


³ A Guerra dos 6 Seis Dias foi como ficou conhecida a agressão de Israel a Egito, Jordânia, Síria e Palestina. Em uma semana, Israel atacou e ocupou diversos territórios desses países, incluindo a Faixa de Gaza, o Sinai no Egito e as Colinas de Golã na Síria.

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