O capital financeiro e seu Estado: o verdadeiro crime organizado
- Redação
- há 15 horas
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Uma boa parte do povo já sabia da existência dessas relações, mas a operação realizada nesta última quinta na Faria Lima, centro do capital financeiro no país, deixou explícito que as "facções" se mantêm vivas através de mecanismos de roubo de dinheiro público que só o capital financeiro conhece e fornece no mundo.
A operação desatada tem revelado que dispositivos de especulação financeira são utilizados como forma avançada de lavagem de dinheiro. Só nos últimos anos, especificamente no setor de combustíveis, as operações financeiras realizadas pelo PCC através de 42 (!) endereços na Avenida Faria Lima lavaram cerca de R$140 bilhões em impostos sonegados, gasolina adulterada e compra de títulos de empresas e imóveis.
O pomposo ministro do governo federal Fernando Haddad, o sanguinário governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e até mesmo o ardiloso presidente do país, Lula, correram para dar depoimentos na imprensa e ganhar elogios públicos pela operação que ganhou as manchetes. Todos eles exaltaram o papel do Estado em combater o "crime organizado", mas também todos eles ocultaram o fato de que a operação flagrou que o próprio Estado e o PCC já estão fundidos em muitas esferas: não só individualmente, através de uma série de policiais, juízes, promotores e outros agentes que atuavam para encobrir por anos a lavagem de dinheiro agora divulgada (e certamente outros tantos crimes ainda não revelados), mas também de forma organizada, com a articulação entre essas pessoas através de uma grande malha e com a utilização de diversos órgãos do Estado para planejar as lavagens de dinheiro e mesmo monitorar seus "concorrentes", como foi o caso, por exemplo, do uso do "Guardião", ferramenta de grampos de celular da Polícia Civil, pelas pessoas que comandavam essas redes criminosas.
Vê-se, assim, que não passa de mero palavrório a ideia de que estes casos de lavagem de dinheiro e movimentações "fantasmas" são apenas uma gota de sujeira num mar de águas limpas, ou uma “contaminação pontual específica”, como quis passar um técnico da Receita Federal que deu declarações públicas¹. Assim como são mentirosas as palavras de Haddad ao dizer que com essa operação se chegou ao "andar de cima": este são os próprios salões nobres das cúpulas de todos os poderes. Se como diz o ditado, dinheiro não tem cheiro, os bilhões movimentados pelo tráfico e as relações íntimas entre a economia ilegal e a legal via contratos públicos são uma instituição absolutamente suprapartidária.
Mais do que nunca, é preciso estar alerta quanto aos que agora irão apontar que a proibição de fintechs irá resolver o problema da lavagem de dinheiro (reforçando o brilho do roubo legalizado). A proibição judicial das chamadas ‘contas-bolsão’ e das formas de movimentação de dinheiro a ela associadas não inibiria a sua existência ilegal ou a sua recriação sobre outros nomes, o que certamente aconteceria com uma proibição das fintechs, pois sem tais "bancos paralelos" os grandes bancos oficiais não poderiam acelerar a expansão de seus capitais na velocidade necessária. Contra os clamores por reformas do sistema bancário e maior controle sobre operações financeiras, o que supostamente “impediria a economia”, este ser supremo e invisível, “de sujar-se com o crime organizado”, já nos alertara Lênin:
Os cientistas e os publicistas burgueses defendem geralmente o imperialismo de uma forma um tanto encoberta, ocultando a dominação absoluta do imperialismo e as suas raízes profundas, procurando colocar em primeiro plano as particularidades e os pormenores secundários, esforçando-se por desviar a atenção do essencial por meio de projetos de "reformas" completamente desprovidos de seriedade, tais como o controle policial dos trusts ou dos bancos, etc.²
E o essencial é que mais uma vez está provado pela realidade que o verdadeiro crime organizado é o próprio Estado brasileiro, que sustenta a existência dos grandes monopólios e seus crimes contra o povo e a nação, entre eles a interminável "guerra às drogas", que assassina dia sim, dia também, milhares de jovens pobres e pretos nas favelas do país. Esta "guerra" na verdade busca criar um cenário de permanente medo e submissão de um povo que poderá insurgir a cada instante, e está mais do que claro - para que os que querem enxergar - que os grandes traficantes não estão nas favelas!
2 Lênin, “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, 1916.