O pelego Lula e sua carteirinha dos professores
- Redação
- 3 de nov.
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Picadeiro armado
No último dia 15 de outubro, em que se comemora o Dia das Professoras e dos Professores no país, Lula montou um palanque no Rio de Janeiro para anunciar o seu programa de “valorização” dos docentes brasileiros. No auge de seus arroubos demagógicos disse ser “doente” pela Educação.
No palanque, membros da casta política, desde representantes da esquerda oportunista (PT, PSOL, PC do B), passando por Hugo Motta, presidente da Câmara e articulador da PEC da Bandidagem, e o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que desferiu duros golpes contra os direitos dos professores e ordenou a repressão brutal, perpetrada pelos dobermans fardados, contra a justa luta dos trabalhadores da Educação daquele município.
Esse circo armado escancarou a falta de respeito de Lula com a categoria.
Orçamento para a Educação no governo Lula
Decorridos mais de 70% do 3º mandato de Lula na gerência do Estado brasileiro, ele não cumpriu as promessas feitas durante a farsa eleitoral de 2022 de reconstruir as políticas públicas que Temer e Bolsonaro destruíram, retomar investimentos e priorizar o povo. O arcabouço fiscal, em que os trabalhadores pagam a conta dos especuladores financeiros, tem feito mais estragos nas áreas da Educação e Saúde do que o teto de gastos de Temer. No que diz respeito à Educação, os recursos previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA) estão muito abaixo da meta dos 10% do PIB (prevista no Plano Nacional de Educação - PNE), sendo insuficiente para que as Universidades e Institutos federais garantam assistência estudantil (auxílio permanência, funcionamento dos restaurantes, etc), o pagamento das bolsas de pesquisa e extensão ou arquem com as despesas com água, luz, limpeza, manutenção da infraestrutura básica e compra de materiais das unidades de ensino. Além disso, acabar com o piso constitucional da Educação (artigo 212 da Constituição Federal), que determina que no mínimo 18% da arrecadação de impostos sejam destinados para o ensino público, é uma meta de Haddad. No ano de 2024, o orçamento destinado para a compra de equipamentos utilizados nas pesquisas científicas, para construir prédios e recompor a frota de veículos das instituições federais de ensino foi o segundo menor desde o ano 2000, ficando atrás somente do ano de 2021, em plena pandemia. No início dos anos 2000, o Brasil tinha 52 Universidades federais e os Institutos federais nem existiam, hoje são 69 Universidades (com mais de 300 campi) e 38 Institutos federais (com mais de 700 campi). A greve de três meses dos trabalhadores da Educação federal, no ano passado, fez o governo anunciar a liberação de verbas num total de R$ 5,5 bilhões, sendo que a maior parte desse recurso já estava prevista para aquele ano orçamentário [1].
Ministro da educação
O ex-governador do Ceará, Camilo Santana, ungido ministro da Educação por Lula, em seu discurso falacioso, durante o evento, disse que o objetivo da Carteira Nacional Docente do Brasil (CNDB) é evitar o “constrangimento” que muitos professores têm para garantir a meia-entrada em cinemas e eventos culturais tendo que mostrar o contracheque ou holerite. Camilo Santana, perguntou à Lula: “Por que o advogado tem a carteirinha dele? Por que o médico tem a carteirinha dele? Por que o jornalista tem a carteirinha dele? Por que a gente não pode criar por lei a carteira da mais importante profissão desse país que é ser professor?”.
Durante a greve da Educação federal de 2024, Camilo Santana nem balançou no cargo. Lula foi quem tomou a frente das negociações, após quase três meses de paralisação, e encaminhou o fim da greve numa reunião com reitores das Universidades e Institutos federais, sem receber as entidades sindicais para negociação.
Mas por que Camilo Santana tem “costas quentes” e é praticamente intocável?
Sua relação com Jorge Paulo Lemann, um dos homens mais ricos do Brasil, pode explicar isso. O bilionário Lemann, tem dado grande atenção à questão educacional no Brasil por meio da sua “fundação” cujos objetivos principais são “melhorar a educação” e acelerar as “transformações sociais” no país. Cumprir tais objetivos fica mais fácil quando se recebe R$ 6,6 bilhões de dinheiro público para aplicar o projeto privatista no ensino brasileiro [2]. A relação entre Camilo Santana e Jorge Paulo Lemann passa pelo casal Izolda Cela (que assumiu o cargo de governadora do Ceará para Camilo Santana se candidatar a senador em 2022 e que atualmente responde pela Secretaria Executiva do ministério da educação) e José Clodoveu de Arruda, homem de confiança de Lemann para tocar seu aparelho privado de hegemonia (think tank) [3].
A fama de “educador” de Camilo Santana deveu-se ao desempenho do Ceará no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) - instrumento falho utilizado para avaliar o ensino-aprendizagem -, durante os anos em que gerenciou a máquina pública do estado. O IDEB é calculado a partir dos dados sobre aprovação, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho dos alunos no Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). As provas do SAEB são aplicadas a cada dois anos, abrangendo estudantes do 5º e 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. É um método que reduz todo o processo educativo a uma educação bancária, na definição de Paulo Freire, em que os estudantes são treinados para fazer as provas simplesmente decorando conteúdos que são cobrados nas avaliações.
Em sua fala Camilo Santana ainda destacou a presença do dono da rede de farmácias Pague Menos, em que os professores conseguirão 30% de desconto em medicamentos com a CNDB [4], e também a presença do chefe do Ifood, empresa reconhecida por lucrar com a precarização da Educação e explorar os trabalhadores de aplicativos negando a eles os direitos trabalhistas mais básicos. Um ministro de Estado se prestando ao papel de garoto propaganda.
Inclusão por meio do consumo e mais migalhas
Em encarte entregue aos professores presentes na cerimônia do dia 15 de outubro são apresentados os 5 eixos do programa mais professores para o Brasil. Merece destaque o primeiro eixo que trata da valorização docente e apresenta a Carteira Nacional Docente do Brasil como “um reconhecimento à dedicação de quem trabalha todos os dias pela educação, com benefícios exclusivos, vantagens e descontos”. Há que se perguntar: Que valorização é essa cara pálida?
Cupom de desconto em empresas multinacionais, como Amazon e Samsung, virou política de valorização dos professores? Cartão de crédito sem anuidade é reconhecer a dedicação dos educadores do Brasil? Com que dinheiro os professores irão pagar a fatura do cartão de crédito, as diárias de hotel ou passagens de avião ou de ônibus? Lula adota a mesma tática que o seu partido PT aplicou em todos os períodos em que gerenciou o Estado brasileiro: a inclusão por meio do consumo, em que os bancos e grandes empresários lucram e o povo se endivida.
Outro eixo do programa mais professores para o Brasil recebe o nome de atratividade representado pelo Pé-de-Meia Licenciaturas que é, de acordo com o governo, um “incentivo para jovens talentos entrarem na profissão, com bolsa mensal de R$ 1.050,00 para estudantes dos cursos superiores que formam professores”. Essa medida, cosmética do governo Lula parece estar surtindo efeito pois em 2025 as matrículas em cursos de licenciatura aumentaram 21% [5].
Mas a pergunta que não quer calar é: Incentivar a formação de professores sem melhorar as condições de trabalho desses, irá resolver os problemas da Educação brasileira?
Essa política só faz aumentar o exército de reserva, velha tática do capitalismo, que implica a piora das condições de trabalho e na diminuição dos salários. De acordo com o Censo da Educação Básica (ano base 2024), realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de professores temporários superou o número de professores concursados pelo 3º ano consecutivo nas redes estaduais de Educação (vide gráfico abaixo). Isso significa que a maioria dos professores do Brasil trabalham em condições precarizadas sem aumento de salários, direitos a bônus ou plano de carreira [6].

É importante que os estudantes das licenciaturas reflitam se terão benefícios de bolsas como o Pé-de-Meia para sempre. O que irá ocorrer com esses estudantes depois de formados?
O alarmante apagão de professores que se avizinha no país não se deve ao fato de termos poucas pessoas se formando nos cursos de Licenciatura, mas sim porque a carreira de professor está sendo dilacerada, dia sim e outro também. Nesse cenário é mais barato para os governos continuar dando Pé-de-Meia para os estudantes de Licenciaturas do que aumentar o salários e melhorar as condições de trabalho dos docentes.
O último golpe desferido contra o professorado brasileiro ocorreu no dia 30/10/2025 com a aprovação da PEC 169/2019, comemorada pelo canalha Hugo Motta [7], que altera o art. 37 da Constituição Federal permitindo, a partir de agora, a acumulação do cargo de professor com outro de qualquer natureza. Dentre as consequências da aprovação dessa medida destacam-se: (i) descredibilização ainda maior da profissão de professor, diminuindo a importância de cursos de Pedagogia e de Licenciaturas; (ii) estímulo à dupla e tripla jornadas de trabalho, algo que os trabalhadores da educação lutam para superar por meio da valorização da carreira. Sabe-se que a dedicação exclusiva, com o professor trabalhando em uma só escola, é uma das condições para a melhoria da qualidade da Educação; (iii) impedimento de que os docentes participem de atividades extraclasse (1/3 da carga horária) como reuniões pedagógicas e administrativas (que ataca a gestão democrática das escolas) e com a comunidade, preparação de aulas, correção de provas e trabalhos e a formação/qualificação permanente; (iv) uma péssima mensagem ao país, especialmente para a juventude, de que o trabalho do professor é “bico”, podendo ser executado por qualquer pessoa e em quaisquer condições [8]. Além disso tudo, a aprovação da PEC 169/2019 pode ser usada como um Cavalo de Troia para a votação direta da PEC 38/2025, a famigerada “reforma” administrativa, prometida por Lula durante sua visita à FIESP na farsa eleitoral de 2022 [9], que tem por objetivo desmontar os serviços públicos oferecidos pela União, estados e municípios.
A dura realidade dos professores no Brasil
De acordo com estudo realizado em Setembro de 2024, os professores brasileiros são os que mais trabalham e menos recebem dentre 48 países avaliados. Os docentes brasileiros rebem salário 47% abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além disso, o Brasil é o segundo país que mais reduziu recursos destinados à educação e o gasto por aluno no país é um terço da média da OCDE. Outro problema é o número de alunos em sala de aula, a média de alunos por professor na educação básica na OCDE está entre 13 e 14 alunos, enquanto no Brasil essa média sobe, ficando entre 22 e 23 alunos [10].
Professoras e Professores tem sido acometidos de várias enfermidades como ansiedade, crises de pânico, depressão, além de uma epidemia da chamada Síndrome de Burnout, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença ocupacional. O esgotamento profissional, a perda da energia vital resultam do projeto de destruição da Educação Pública em curso no nosso país. Políticas educacionais privatistas e nefastas já estão em curso nos estados do Paraná e de São Paulo. Além da violência institucional, os casos da chamada violência interpessoal, de acordo com dados do prórpio governo federal, aumentaram 250% entre 2013 e 2023 [11].
Petroquímica com Trump
Lula, vaidoso e boquirroto como é, não poderia deixar de falar abobrinhas. Durante o evento disse que se nos corredores da ONU em Setembro rolou durante 29 segundos uma “química” com o chefete fascista do Estados Unidos, Donald Trump, na conversa por telefone que tiveram no dia 6 de Outubro “pintou” uma indústria petroquímica entre os dois. A seguir, seguindo o bizarro estilo de Bolsonaro que comparava seus conchavos políticos às relações de namoro e casamento, Lula afirmou que as relações humanas (em que parece incluir as relações entre chefes de Estado, no caso Estados Unidos e Brasil) são definidas por 20% de razão e 80% de “química”. Soube-se depois que essa “química” entre Lula e Trump se deveu a ação dos empresários Wesley e Joesley Batista, donos da J&F empresa que fatura mais de R$ 400 bilhões por ano, e que possuem negócios no EUA. Ficou explicado o por quê de denúncia contra a Seara/JBS Aves, de impor à trabalhadores no Rio Grande do Sul condições análogas à escravidão, ter sido revisada pelo ministro do trabalho, o petista Luiz Marinho [12].
L ula em visita à frigorífico dos irmãos Batista em Abril de 2024 [13]
![Lula em visita à frigorífico dos irmãos Batista em Abril de 2024 [13]](https://static.wixstatic.com/media/e8b626_91bdff6c268341c0ab0596b5dc3410bf~mv2.png/v1/fill/w_804,h_580,al_c,q_90,enc_avif,quality_auto/e8b626_91bdff6c268341c0ab0596b5dc3410bf~mv2.png)
O que fazer?
A atitude das professoras e professores diante da forma como o governo Lula tem tratado a Educação no nosso país não pode ser outra que não se indignar. É preciso deixar bem claro para essa corja que, como diz Gonzaguinha, “a gente não tem cara de panaca, a gente não tem jeito de babaca (…) a gente quer viver pleno direito, a gente quer viver todo respeito, a gente quer viver uma nação”. O que esse sistema quer é nos quebrar, nos adoecer e nos transformar em autômatos. Cada Professora e cada Professor desse país deve se rebelar contra esse sistema, pois a nossa rebelião se justifica. Tarefa especial cabe às Professoras e Professores democratas e revolucionários: ser cada vez mais militantes, servindo ao povo de todo o coração, colocando a Educação a serviço da coletividade e do bem comum. Fazendo uso de uma frase cunhada pelo grande pedagogo soviético, Anton Makarenko [14] : “A nossa Educação deve ser comunista e cada pessoa que educamos deve ser útil à causa da classe operária”.
Abaixo Lula, Camilo Santana, Hugo Motta, Eduardo Paes e todos os oportunistas!!!
Por uma Educação Libertadora!!!
Viva as Professoras e os Professores do Brasil!!!
[1] https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2025/05/sob-lula-federais-tem-orcamento-menor-do-que-com-temer-e-bolsonaro-pre-pandemia.shtml
[3] De acordo com Gramsci, os aparelhos privados de hegemonia (APH) são instituições, que se envolvem em projetos sociais e ideológicos de grandes proporções atravessando as fronteiras do chamado público (pertencente ao Estado) e privado (sociedade civil). Têm por objetivo legitimar o poder defender os interesses das classes dominantes. No Brasil alguns exemplos de aparelhos privados de hegemonia, além do Centro Lemann, são o Todos pela Educação, Instituto Millenium e o Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
[4] Deusmar Queiroz (dono da rede de drogarias Pague Menos) foi condenado, em 2018 , a nove anos e dois meses de prisão por crimes contra o sistema financeiro.
[7] Hugo Motta foi convidado especial de Lula na bizarra celebração do dia dos professores. Ao usar a palavra recebeu uma ruidosa vaia do público presente, fazendo com que Lula se levantasse com um sorrido amarelo na cara e ficasse ao lado do presidente da câmara dos deputados na intenção de tentar blindá-lo.
[14] Nascido em 1888 na Ucrânia, Makarenko foi uma das mais notáveis personalidades do mundo cultural de sua época. Talentoso escritor, como pedagogo abriu novas vias à ciência da Educação e como pensador profundo. Sua obra mais célebre foi Poema Pedagógico, em que relata sua experiência como educador na Colônia Gorki, destinada a crianças abandonadas e jovens delinquentes. Em Poema Pedagógico, Makarenko defende que uma verdadeira coletividade não despersonaliza o ser humano, antes cria novas condições para o desenvolvimento da personalidade. A formação de um homem novo une-se em Poema Pedagógico à construção de uma pedagogia nova, revolucionária.






