O que a escalada de provocações ianques contra a Venezuela significa para o Brasil?
- Redação
- há 11 minutos
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Enquanto Lula e Trump trocam acenos públicos sobre parcerias – cujos cupidos são os magnatas do café e do boi de um lado, e o interesse ianque em nossas terras raras e “liberdade” para suas big techs, de outro –, o Agente Laranja segue suas provocações contra a Venezuela e também Colômbia. No caso da Venezuela, a imprensa noticiou a autorização presidencial para ações de terrorismo da CIA no território do país sul-americano, a que se soma a série de assassinatos perpetrados pela Marinha ianque contra pequenas embarcações na costa do país, que já vitimaram vinte e sete pessoas. Além de um gravíssimo ataque à soberania, tratam-se pura e simplesmente de execuções extrajudiciais. A gravidade do fato é tão grande que o Almirante Alvin Holsey, que liderava as tropas norte-americanas na América Latina, anunciou seu desligamento do cargo para as próximas semanas. Fontes internas dizem que isso se deve a dissensões no Pentágono sobre a abordagem da questão venezuelana e a temores de futuras responsabilizações criminais junto à Justiça dos Estados Unidos.
Em contrapartida, Maduro voltou a condenar a atitude dos Estados Unidos e a mobilizar as forças armadas e os milicianos: "Se os gringos ameaçarem, trabalharemos mais. Se os gringos atacarem, responderemos, mas nada impede o trabalho", afirmou. Após Gustavo Petro, presidente da Colômbia, condenar os recentes ataques ianques e classificar como atentados terrorista, Trump também adotou um tom de ameaça e afirmou que o governo colombiano poderia ser alvo de intervenções se continuasse ‘’comandando esquemas de narcotráfico’’.
Embora tudo indique que as ações de Trump até aqui visem muito mais a uma desestabilização do regime de Maduro e incentivo a que os altos mandos militares adiram a um projeto de oposição – o que se configuraria essencialmente como um golpe militar –, de que a pantomima do Prêmio Nobel da Paz para uma conspiradora de direita e vende-pátria como Maria Corina Machado não foi mais do que um lance, é claro que a mobilização e as ações militares já efetuadas contra alvos civis já são suficientemente graves e uma violação inédita da soberania de um país fronteiriço ao Brasil como não ocorria há décadas. Com efeito, a mobilização militar ianque no Caribe é mais extensa que durante a chamada “Crise dos Mísseis em Cuba”, em 1972 (quando os EUA e a URSS social-imperialista quase se envolveram em um conflito nuclear), e envolve diversos navios de guerra, submarinos nucleares, caças de última geração e cerca de 15 mil soldados.
Seja como for, o fato é que enquanto o “valente” neofascista Trump aventa sua imunda arrogância imperial, e promete colocar o mundo de joelhos, o que fez até aqui foi colocar a maior geringonça militar da Terra para assassinar embarcações civis de pequeno porte. Embora ridicularize em público a capacidade de resistência do povo venezuelano, o qual, ao contrário de se desagregar ou entrar em pânico, tem se unido firmemente em torno da defesa da sua soberania, certamente ele ouviu de seus conselheiros o perigo de criar na Venezuela um novo atoleiro para os ianques. A própria existência de milícias armadas, capilares, acrescenta uma capacidade de resistência muito maior à guerra de libertação nacional. Além disso, os campos de petróleo (principal ambição estadunidense na região), são muito desprotegidos e muitos deles se situam em áreas urbanas, o que facilitaria as operações de sabotagem e a interrupção da produção. Sem falar, é claro, da crise diplomática, migratória e militar que se abateria sobre o subcontinente, cujas tensões repercutiriam no Brasil.
Na verdade, qualquer manobra ianque na América do Sul considera necessariamente o Brasil, na sua disputa por hegemonia com a China, e se, frente ao nosso país, a administração Trump tem adotado uma abordagem de “morde e assopra”, o ataque aberto contra nossos vizinhos é indiretamente uma ação de cerco e pressão contra o governo brasileiro, uma advertência no caso de a diplomacia falhar. Isto é ainda mais notório no momento em que a Petrobras anuncia o anúncio das pesquisas para prospecção de petróleo na Margem Equatorial amazônica, uma riqueza avaliada em bilhões de dólares e relativamente próxima da costa venezuelana. No nosso caso, aliás, o maior agravante é que as Forças Armadas funcionam na prática como uma força de ocupação interna, completamente subjugadas técnica e ideologicamente aos ditames norte-americanos, particularmente sensíveis pois a adotar uma atitude de vassalagem e subserviência frente ao SouthCom ianque. Não por acaso, apesar das sanções tarifárias vigentes contra o Brasil e em plena escalada de agressões contra nossos vizinhos, o calendário de exercícios militares conjuntos entre forças brasileiras e ianques foi mantido, como em Roraima na região norte e no semiárido nordestino. Isto é um verdadeiro acinte e demonstração de que a soberania nacional brasileira só poderá ser garantida pela via da mobilização e luta populares.

Os imperialistas sempre se julgam capazes de dividir o mundo a seu bel prazer e se preocupam meramente com as demais nações imperialistas. É por isso que colecionam fracassos e derrotas. Pois são as massas que fazem a História e assim será até que as classes sociais desapareçam. Mesmo que os EUA tentem invadir a Venezuela, é o povo organizado e de armas nas mãos que irá varrer todos os ianques de volta para a grotesca Miami. Aos revolucionários venezuelanos, o momento é de cerrar fileiras contra a agressão imperialista e marcar uníssona posição de que o governo do seu país é assunto exclusivo do povo venezuelano. Ao mesmo tempo, é preciso manter a independência política e organizativa das forças proletárias e exigir de Maduro que tome providências efetivas no sentido do armamento e mobilização populares, além de medidas que atendam, no limite das possibilidades, às necessidades de melhorias nas condições de vida dos trabalhadores e da sua liberdade política, no interesse da resistência nacional.