O Tiroteio em Sydney e a instrumentalização do Sofrimento
- Wesley Magalhães
- há 5 dias
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O tiroteio que abalou Sydney no dia 14 de dezembro de 2025, durante as celebrações de Hanukkah na praia de Bondi, não foi apenas um episódio de violência isolada. O ataque, que resultou na morte de pelo menos 15 pessoas e ferimentos em dezenas de outras, foi amplamente descrito como um ato de terrorismo antissemita. No entanto, os esforços para transformar esse ato de violência em um estandarte de justificativa para as políticas do Estado de Israel são uma manobra descarada de instrumentalização geopolítica. Enquanto o povo palestino é sistematicamente massacrado - com números de mortos que já passam da casa das centenas de milhares - e o sionismo segue avançando sobre suas terras, Israel busca manipular o sofrimento alheio para fortalecer sua narrativa de vitimização.
A primeira reação do governo israelense, especificamente de Benjamin Netanyahu, foi clara, quando disse que o tiroteio em Sydney deveria ser atribuído, direta e indiretamente, às políticas australianas em relação ao reconhecimento do Estado da Palestina. Em suas declarações, Netanyahu insinuou que a postura de Canberra, especialmente o apoio a resoluções favoráveis ao reconhecimento da Palestina como Estado, teria alimentado o antissemitismo. Esse raciocínio, no entanto, não é apenas errôneo, é uma tentativa deliberada de colocar panos quente sobre os crimes que a entidade sionista comete contra o povo palestino.
O que Netanyahu e sua máquina de propaganda buscam fazer é criar um clichê geopolítico no qual a opressão dos palestinos e a resistência legítima ao sionismo são tratadas como fontes de conflito intransigente e violência irracional. O tiroteio em Sydney, portanto, é desviado de seu verdadeiro contexto: um ataque antissemita, sem sombra de dúvidas, mas que também serve de palco para uma manipulação política do sofrimento dos judeus com o objetivo de justificar a continuação das atrocidades israelenses contra o povo palestino. Essa estratégia é usada com frequência, quando incidentes violentos em outras partes do mundo são apresentados como consequência das ações de quem luta pela liberdade e pela justiça para os palestinos, como no caso dos dois funcionários da embaixada israelense que foram assassinados por um atirador em Washington, em maio deste ano.
O vínculo feito por Netanyahu entre o reconhecimento da Palestina e a tragédia de Sydney só revela a hipocrisia internacional. Enquanto Israel ocupa a Palestina, impõe bloqueios, destrói vilarejos, massacra civis e impede o direito de retorno dos refugiados, a reação de várias nações tem sido de indiferença ou até mesmo de cumplicidade silenciosa. Quando países como a Austrália reconhecem o Estado Palestino ou tomam posições favoráveis aos direitos palestinos, o governo de Israel vê nisso uma ameaça direta aos seus objetivos expansionistas. Para os sionistas, o reconhecimento do Estado Palestino, mesmo que completamente despedaçado e ocupado, é absolutamente inaceitável, porque levanta questões sobre a dominação colonial e o expansionismo israelense, questões estas que podem se tornar uma bola de neve se saírem do controle de suas garras. A entidade sionista lutará até seu último suspiro para esconder que a verdadeira ameaça à paz é a própria natureza de seu projeto colonial, racista e de apartheid que submete todo um povo a uma opressão brutal e sistemática.
A resistência palestina, longe de ser considerada terrorista como acusam seus detratores, é a expressão máxima do direito legítimo – reconhecido inclusive pelo direito internacional - de um povo que há mais de 70 anos luta contra a ocupação de suas terras, contra a destruição de sua cultura e contra a negação de sua própria existência. A narrativa de Israel e seus aliados internacionais, que tentam pintar a luta palestina como um conflito de ódio religioso ou irracional, não faz mais do que mascarar a verdadeira natureza da questão, a luta de um povo por sua terra e contra um regime colonial e genocida.
Israel não tem escrúpulos em instrumentalizar qualquer dor, qualquer tragédia, para defender sua agenda de opressão. Ao transformar o tiroteio em Sydney em mais uma oportunidade para atacar os defensores da Palestina e criar uma falsa equivalência entre a luta por liberdade e os crimes que Israel comete cotidianamente, o governo israelense se expõe como um agente que não se importa com a vida humana, mas apenas com a manutenção de sua dominação colonial.
Ainda, em meio ao terror e à violência, um homem se destacou pela sua coragem. Ahmed al-Ahmed, um árabe muçulmano sírio, que, ao perceber o perigo iminente, não hesitou em arriscar sua própria vida para impedir o atirador. Al-Ahmed, que estava presente no evento, se lançou para desarmar o agressor, conseguindo neutralizá-lo e evitando, assim, um massacre ainda maior. Sua ação foi reconhecida mundialmente, mas o que se destaca é o fato de que ele, um árabe e muçulmano, enfrentou o atirador e pôs em risco sua vida para salvar judeus, em uma demonstração clara de que a humanidade e a resistência contra a violência transcendem a religião e a origem étnica. Esta ação de coragem se torna ainda mais significativa quando se considera o contexto geopolítico atual, onde Israel tenta instrumentalizar o sofrimento das comunidades judaicas para justificar sua política de ocupação e violência contra os palestinos, Ahmed al-Ahmed, um árabe muçulmano, se levantou como um símbolo de resistência contra a violência e a opressão, afirmando que a luta contra a barbárie é universal. Sua ação reflete o verdadeiro espírito de solidariedade humana, que, ao contrário da narrativa israelense, não conhece fronteiras religiosas, nacionais ou de classe, mas busca a justiça e a paz para todos os povos oprimidos.
O escritor palestino Khaled Barakat enfatizou que o acontecimento em Sydney não pode ser separado da guerra aberta de extermínio travada pela ocupação sionista contra o povo palestino na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e no Líbano, com apoio estadunidense e ocidental, responsabilizando a ocupação política e moralmente pelo estado de turbulência e raiva explosiva nas ruas globais.
Barakat enfatizou em uma entrevista que aqueles que cometem massacres em massa, destroem cidades, deixam moradores famintos e matam crianças e mulheres sob cobertura oficial ocidental não têm o direito de alegar inocência ou desempenhar o papel de vítima, considerando que as tentativas da mídia ocidental de distorcer a conscientização pública e isolar eventos de suas raízes coloniais nada mais são do que uma extensão direta do sistema de conluio com o projeto sionista.
Ele acrescentou que criminalizar o movimento de solidariedade à Palestina na Austrália, Alemanha e Grã-Bretanha, perseguir ativistas e suprimir vozes antisionistas nas capitais ocidentais não será o suficiente para conter a crescente raiva popular, mas, pelo contrário, aprofundará a exposição moral e política dos regimes envolvidos no apoio, armamento e proteção da ocupação.
O escritor palestino espera que o mundo testemunhe ainda mais violência contra o movimento sionista e os líderes de suas organizações por causa dos crimes cometidos pela entidade contra os povos da região, especialmente na Palestina, Líbano, Síria e Iêmen. Barakat concluiu enfatizando que a ocupação, e não os povos furiosos, são a fonte de violência e instabilidade, e que a única maneira de impedir essa explosão em andamento começa com o fim da guerra de extermínio em Gaza, o fim da ocupação, a responsabilização dos líderes da entidade sionista como criminosos de guerra e o reconhecimento do pleno direito do povo palestino
O tiroteio em Sydney, trágico como foi, não pode ser usado para silenciar a voz do povo palestino, nem para distorcer a verdade sobre a natureza do regime israelense. A luta do povo palestino pela sua terra e dignidade continua, e é imprescindível que os movimentos progressistas e antissionistas ao redor do mundo unam suas forças para denunciar a instrumentalização da dor e para exigir a liberdade do povo palestino. O caminho para a paz não se dará pela legitimação do colonialismo israelense, mas pela justiça histórica para o povo que este regime oprime diariamente há mais de 75 anos. A solidariedade internacional deve ser firme, a entidade sionista é um tigre de papel e é preciso afirmar, em alto e bom som, que a Palestina será livre, do rio ao mar!






