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Poderia a CIA obter o controle das manifestações no Nepal?

Foto: REUTERS/Navesh Chitrakar.
Foto: REUTERS/Navesh Chitrakar.

A grande revolta que ocorreu semana passada no Nepal e que incendiou o parlamento, o maior tribunal de “justiça” e casas de políticos suscitou em parte das pessoas que se dizem a favor do povo a resposta de que ali estava tudo planejado nos detalhes pela CIA e as ‘big techs’ - e atuando de acordo com o seu controle, para derrubar um governo “progressista” e estabelecer seu próprio governo. Ela ganhou reforço recente, depois que a nova premiê interina do país foi eleita ao cargo temporário em assembleia virtual na plataforma Discord.


Tal tese, em primeira instância, não só subestima a capacidade intelectual das massas de formular suas próprias ideias sobre a miséria em que vive e como subvertê-la, como também ignora o papel que elas exercem nas manifestações: se o plano da CIA vem sendo aplicado nos seus detalhes, que seriam - para tais teóricos - as massas revoltadas, sobretudo estudantes secundaristas e universitários, se não mini soldados contratados pela agência estadunidense?


Em segundo lugar, ignora as contradições internas - econômicas e políticas - e a sua história recente no país. Os regimes parlamentaristas burgueses que se estabeleceram no país desde a dissolução da monarquia, a traição da revolução pelo grupo de Prachanda (que se alocou no poder e entregou as armas do exército revolucionário à ONU) e a crescente humilhação do povo ao ver toda sorte de políticos na mais alta luxúria: seria tudo isto algo a se descartar, para resumir tudo à vontade de dominação completa de um país sobre toda uma nação?


A covardia política correspondente a essa teoria, que absolutiza uma contradição (EUA x Nepal) em detrimento das demais, esteve presente até mesmo nos antecedentes da traição do revisionista Prachanda. Seu partido, à época, questionou se “é possível para um pequeno país, com uma compulsão geopolítica específica como o Nepal, obter vitória ao ponto de capturar o Estado central através de uma revolução”, uma vez que “o imperialismo está atacando os povos em todos os cantos como um tigre ferido”¹.


E em terceiro lugar, a tese de que a CIA age meticulosamente no país ignora a existência da contradição entre potências imperialistas dentro do próprio Nepal, remontando a esquisita noção de onipotência do imperialismo estadunidense no mundo hoje, coisa que soa absurda diante da ascensão do social-imperialismo chinês (em aliança militar com o imperialismo russo) e do rufo dos tambores de uma nova e terceira guerra mundial. Permitiriam estas potências imperialistas da Ásia, a CIA articular livremente uma mudança brusca de regime, incendiando todo um país vizinho, de bom grado, sem qualquer antecipação e intervenção sua, ainda que indireta?


Como bem apontou o estudante indiano Soumyadeep Kanji, da Frente Revolucionária Estudantil, que culturalmente sempre esteve próxima aos nepaleses, “o conspiracionismo de “esquerda” talvez não saiba que existia um “plano meticuloso” de alguns imperialistas sobre o povo russo que lutava para acabar com a monarquia na Rússia”². E acrescenta:


Os partidos de “esquerda”, que estão em desespero, estão obcecados com “plano meticuloso" e "conspiração ", e não sabem como confiar no povo e, acima de tudo, na sua própria política. Mesmo se esse “plano meticuloso” está usando a justa raiva das pessoas, a luta por mudança social deve ser trazida através da confiança no povo e na política revolucionária comunista. Esse levantamento do povo nepalês se justifica.³

É óbvio que a CIA busca conquistar influência nas explosões populares, seja do Nepal ou em qualquer outro país, como Bangladesh ano passado e Brasil em 2013/14, e obterá maior ou menor sucesso de acordo com a força da sua intervenção e a fraqueza dos que se lhe opõem. A presença de elementos pró-monarquia nos últimos dias de manifestação são expressão do saldo de sua influência até aqui. Mas em todo caso, um controle absoluto e a prática exata de um plano meticuloso só podem ser vistos como teses antimarxistas pelos revolucionários de todo o mundo.




3 Idem

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