Por falar em soberania, e a digital?
- José Rivera Krangola
- há 4 dias
- 3 min de leitura

As medidas econômicas e políticas adotadas pelo chefete reacionário ianque Donald Trump, atiçadas pelo clã da família Bolsonaro, contra o Estado brasileiro têm suscitado grandes debates sobre soberania nacional.
Nessa toada, entrou em discussão a questão da soberania digital, que segundo especialistas e pesquisadores diz respeito à autonomia que a sociedade deve ter para decidir que tecnologias vai desenvolver e usar em seu benefício. Essa articulação tem sido realizada por meio da chamada Rede pela Soberania Digital, movimento que busca reduzir a dependência externa, principalmente das big techs estadunidenses, e tentar manter a soberania do Brasil sobre os dados de sua população¹.
As informações sobre o povo brasileiro, como aquelas geradas pelo IBGE, do Sistema Único de Saúde (SUS), das políticas de assistência social, da Receita Federal, as pesquisas científicas desenvolvidas nas universidades e relacionadas à segurança nacional estão armazenados em nuvens das grandes corporações da área de tecnologia como Google, Amazon, Microsoft, Meta, etc. Nenhuma delas sediadas em território nacional.
A iniciativa de pautar a soberania digital é bem-vinda, entretanto não se pode ter ilusões nesse debate, principalmente em relação ao governo Lula.
Em maio de 2025, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve visitando as big techs no chamado Vale do Silício, Califórnia, Estados Unidos². Em sua bagagem estava a proposta do Plano Nacional de Data Centers (REDATA), que em resumo oferece às corporações imperialistas desoneração fiscal para equipamentos e exportações de serviços, além de franquear o acesso à energia elétrica renovável e à água imprescindíveis para o funcionamento dos seus centros de dados. Nos cabe perguntar: O plano do governo Lula contribui para a nossa soberania ou é mais um passo em direção à subserviência e ao colonialismo dos dias de hoje?
No que diz respeito à dominação tecnológica das grandes corporações, é preciso tratar das diferentes potências imperialistas. A multinacional chinesa TikTok pretende instalar em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, um data center que irá consumir por dia a mesma quantidade de energia que 2,2 milhões de brasileiros gastam em suas residências³.
Para fins de comparação essa quantidade de energia é maior que a consumida em capitais como Manaus e Curitiba. Além da questão energética existe a enorme demanda de água desses data centers para o resfriamento. A região de Caucaia tem histórico de seca e escassez hídrica e a instalação do data center irá representar racionamento de água para o povo e acesso privilegiado a esse recurso natural para a multinacional TikTok.
Contra o projeto de instalação do data center do social-imperialismo chinês, indígenas da etnia Anacé ocuparam a Superintendência de Meio Ambiente do Ceará no dia 4 de agosto de 2025. A área em que se pretende instalar o data center é um território reivindicado pelo povo Anacé desde 2003, ano 1 do primeiro governo Lula.
Além do data center do TikTok, existem projetos para se construir outros quatro complexos para abrigar dados de “inteligência artificial” (IA)⁴, nos municípios do Rio de Janeiro (RJ), Eldorado do Sul (RS), Maringá (PR) e Uberlândia (MG). Esses quatro “empreendimentos” consumirão energia elétrica equivalente a 16,4 milhões de residências.
Importante destacar que esses data centers aparecem vinculados à empresas com nomes fantasia como Rio AI City, Scala AI City, RT-One e Casa dos Ventos, mas que se formos seguir o rastro do dinheiro comprovaremos se tratar de empresas testa de ferro, sucursais das big techs.
A expansão de data centers nos territórios de países dominados, como o Brasil e toda América Latina, é a consolidação da política colonialista que tenta se repaginar com os discursos de “progresso”, sob a égide da inovação tecnológica. Colonialismo esse, reconfigurado, no qual a exploração não se reduz apenas por meio de mercadorias, mas também por meio de dados, comportamento e infraestrutura⁵.
Um autêntico projeto de soberania nacional não será capitaneado pela corja de oportunistas, representada pelo trio Lula/Alckmin/Haddad e seus asseclas. Esses são agentes da burguesia e do latifundiários brasileiros que se prestam apenas a barganhar entre os imperialismos, ianque e chinês, quem vai explorar mais as riquezas do nosso país, o sangue e o suor do nosso povo⁶.
Recentemente a questão da soberania foi tratada com muita propriedade na Revista Revolução Cultural⁷. A conclusão do artigo é clara: de nada serve proclamar a Soberania do Estado e da Nação sem que se faça da soberania popular um objetivo.
2 https://www.revolucaocultural.com.br/post/com-visita-a-big-techs-haddad-anuncia-pol%C3%ADtica-entreguist e https://www.intercept.com.br/2025/07/03/data-center-tiktok-energia-estudo-interno/a-para-a-constru%C3%A7%C3%A3o-de-data-centers
4 No Brasil já existem 188 data centers instalados, todos eles dedicados ao armazenamento de dados em nuvem (iCloud, Google Drive, DropBox, etc).