Capitulação do PKK expõe os limites do nacionalismo burguês
- Redação
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Atualizado: há 1 dia

Em seu 12° Congresso Nacional, finalizado no último dia 12, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) anunciou o fim da luta armada que mantinha desde 1984 contra o Estado turco e a dissolução da sua própria estrutura organizacional. “A partir de hoje, não haverá operações armadas ou atividades políticas sob o nome do PKK”, afirmou a organização em comunicado, completando: “A luta do PKK rompeu com a política de negação e aniquilação do nosso povo e levou a questão curda a um ponto de solução por meio de medidas democráticas”. Em resposta, o governo de Erdogan declarou que, caso efetivamente cumpra sua deliberação, tal atitude do PKK constitui em um “ponto de virada” e em um “passo importante em direção a uma Turquia livre do terrorismo.”
O próprio fato de um dos lados falar em “medidas democráticas”, enquanto o outro reitera o combate ao “terrorismo”, mostra a verdadeira correlação de forças sob a qual se dá o que por enquanto não pode ser chamado nem sequer de acordo, mas de capitulação geral por parte da direção do PKK. Esta deposição de armas oficializa a posição já externada por Abdullah Öcalan, líder supremo do partido e preso político do Estado turco há vinte e seis anos, a favor do fim da luta armada, professada em fevereiro último.
Além dos aspectos de fundo, chega a ser estarrecedor que tal decisão se dê unilateralmente, sem quaisquer garantias, ainda que formais, da parte da Turquia. Na verdade, dissolvido o PKK, nem a questão de quem afinal fiscalizaria um eventual acordo por parte da população curda parece ter sido considerada. Tendo renunciado ao direito de separação dos curdos em um Estado independente, a favor de uma solução elaborada como “confederalismo democrático”, agora Öcalan leva seu recuo ainda mais longe, advogando a possibilidade de dialogar “democraticamente” com o governo de Erdogan enquanto este recrudesce a repressão contra os opositores internos do regime –incluindo a oposição burguesa, mas também inúmeros ativistas e jornalistas independentes, levados a julgamento e condenados aos milhares na Turquia desde os protestos na Praça Taksim, em 2013 – e o apoio ao regime salafista-terrorista do HTS na Síria, responsável por massacres hediondos contra minorias nacionais, ameaçando a própria população curda que vive neste país. Na verdade, milícias curdas que atuam na Síria, como as chamadas Unidades de Proteção do Povo (YPG), já haviam afirmado que o chamado de Öcalan a um processo de paz não se aplicariam além da Turquia.

Se olhamos outros exemplos similares, tudo leva a crer, diante da gravidade da situação, que haverá dissidências no seio do PKK e dos seus exércitos, seja imediatamente, seja no curso dos próximos anos e meses, quando restar claro o retrocesso imenso que tal capitulação representa para a população curda. Será um processo dramático, doloroso e sangrento, mas que abre a possibilidade de que o proletariado revolucionário possa tomar firmemente nas suas mãos a bandeira da independência nacional curda, como parte da Revolução de Nova Democracia na Turquia e nos demais países abrangidos no território do Curdistão. É importante lembrar que os curdos formam a maior nação sem Estado do mundo, com uma população estimada entre 25 e 35 milhões de pessoas, que se estende ao longo das fronteiras de quatro países: Turquia, Iraque, Irã e Síria e sua causa tem sido usada como reserva de disputas entre diferentes senhores da guerra e potências imperialistas ao longo das décadas. Por outro lado, a aliança entre os curdos e os proletários e camponeses oprimidos na Turquia foi sempre um combustível fundamental da luta revolucionária e anti-imperialista neste país – a própria região berço da guerra popular, Dersim, tem maioria curda, como era curdo o grande Ibrahim Kaypakkaya –e é no reforçamento mútuo desta aliança nacional e de classe que repousa toda a esperança de libertação do jugo comum do fascismo turco.
A história mais uma vez comprova a tese de Lênin e de Mao segundo a qual, sem uma correta direção proletária, os diferentes movimentos nacionais burgueses, por mais combativos que sejam em dado período, não podem levar até ao fim a luta anti-imperialista, pois as tarefas que se propõem a cumprir cedo ou tarde se chocam com sua direção e o medo que esta sente de ser solapada por uma revolução desde a base, que exproprie as terras dos grandes proprietários, assegure plenos direitos às mulheres e dê poder efetivo aos órgãos dos trabalhadores. Não é que sem este programa a revolução não possa prosseguir após o triunfo: sem a sua aplicação radical, adaptada naturalmente às condições concretas, ela não é capaz nem sequer de atingir o programa mínimo de independência nacional.